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  Angel

  Esperei por Carl depois que o vi sair, mas quando vi que ele não ia voltar eu acabei indo dormir. Pela manhã não fui a escola, novamente, mas Carl foi, pois o café foi só entre mim e Elina, nem mesmo Daniel estava na mesa, não estava nem com cabeça para pensar na nossa discussão, pensava em Carl, em como ele parecia bem quando saímos e como ficou mal quando chegamos, eu deixei passa alguma coisa, estava tão entretida com o meu próprio nariz que nem vi que ele também estava com problemas. Estou no quintal cuidando de algumas plantas que estão murchando, Elina também cuida de algumas ao meu lado, já está quase perto da hora dele chegar e nem sei como conversar com ele, isso se voltar ou se não se trancar.
  — Carl começou sua outra fase — a voz de Elina puxando assunto tira a minha atenção dos pensamentos — a pior fase começou. — Me olha e observo seus olhos, como isso também a afeta de certo modo. — Ele raspou o cabelo de novo — confusa deixo meu alicate no chão e me sento.
  — Como assim? — ela suspira e dá de ombros sentando.
  — Quando ele raspou pela primeira vez eu achei que era em apoio a sua irmã, Loren passou por muito na quimioterapia e seus cabelos caíram, quando ela raspou Carl também o fez, mas depois eu descobri que por causa da sua ansiedade e do transtorno, ele os puxava até sair do seu couro cabeludo, o jeito de evitar que se machucasse era não ter seus cabelos, os dois perderam a coisa que mais gostavam em si, os dois por uma doença. — Elina parecia se culpar, imagino se pensa que não deu tudo de si, pelo menos para Carl, pois ele não é feliz.
  — Eu cheguei a pensar sobre isso, mas não achava que seria verdade — me olha.
  — Ele colocou a culpa nas drogas depois disso, querida, você está passando por um processo, não coloque a culpa em si, mas também não coloque a culpa em coisas como a droga, ela está matando ele e eu não sei o que faço, você o achou na primeira vez e se ninguém achar na segunda? — seus olhos estão cheios de água, estou ouvindo o desabafo de uma mãe desesperada — ele estava tão bem ontem mais cedo, de repente, teve recaídas, não sei se ele está realmente tomando os remédios do seu tratamento ou se só está se matando mais.
  — Você quer que eu fale com ele? — eu não tenho nenhuma palavra a mais de consolo por ela. Antes que responda ouvimos o portão, secou suas lágrimas e checo para ver se é ele, sim é. Está segurando sua bolsa na mão direita, um cigarro na esquerda, passa por nós e nem mesmo nos olha.
  — Se ele estiver posto a falar alguma coisa — me viro para ela e já está indo embora com seu material de jardinagem.

   Subo as escadas e olho para seu quarto, eu o vi cheirando cocaína no meu apartamento em Manchester, fingi não ver, mas sei que ele está fazendo de novo, com certeza tem algum estoque no seu quarto, o dinheiro que aquele homem estava entregando foi por tráfico e ele está comprando, a overdose foi o começo de tudo e achamos que ele havia parado, pelo jeito sua depressão profunda traz companhia para ele, as drogas. Me sento na sua cama enquanto está no banho, penso em como conversar, como puxar assunto e como reagir se ele me expulsar do quarto, eu já passei por isso uma vez e agora vou passar novamente, da outra vez disse coisas que nem mesmo sei como saiu de mim, eu não estava preparada e agora que estou não sei o que digo.
  — O que faz aqui? — me assusto com sua voz, fecha a porta e avança para seu guarda roupa, tira sua toalha e o observo, respiro fundo e olho meus dedos.
  — Como foi a escola? — se veste não se importando com minha presença. Seca os cabelos e se vira para mim, olhos vermelhos e semicerrados, não era isso que eu ia falar e não é essa pergunta que ele vai responder, suspiro — está tudo bem? Esperei você voltar ontem e não chegou.
  — Estou bem — seco.
  — Não, não está — parou a minha frente, o olho e seu peito sobe e desce.
  — Se sabe que não por que pergunta? O que quer que eu diga? O que quer ouvir? — sua voz altera — eu não quero nenhum conselho, não quero lição de moral nem mesmo você dizendo que as coisas vão melhorar! Que não é minha culpa! Que não devo me culpar, EU ME CULPO TA LEGAL! Não quero ouvir sua voz eu só quero estar só e chorar, cheirar e me matar aos poucos! — olhei para o chão todos os minutos que esbravejou na minha cara, estou paralisada com seu estado, por um minuto eu estava na escola com Jeremian gritando comigo e seu amigos ao meu redor. Só respirei fundo e o olhei, seu rosto vermelho enquanto seu peito subia e descia, virou entre calcanhares brevemente só para deixar dois murros na parede, estou paralisada na sua cama e faz questão de me tirar, puxa meu braço me obrigando a levantar e me empurra para fora do quarto trancando a porta e gritando alto e rouco atrás de mim.
  — ME DEIXA PORRA!

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora