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  Quando chegamos a casa ouvimos Elina e Daniel conversarem, parecia uma pequena discussão de política, Carl foi direto para seu quarto e eu a sala para assistir a uma série qualquer que estivesse passando. Depois de mexer de um lado para o outro nos canais a procura de algo bom, desisti de assistir algo que deixasse a minha tarde melhor ainda, mas já que nada passa, fui à cozinha vendo os dois senhores.
  — Por que voltaram cedo? — ponho um copo d'água para mim e os dois me encaram.
  — O hospital entrará em greve. — Não querendo estender o assunto, apenas aceno para Elina e volto à sala, percebo que a porta do porão é batida, Carl iria se trancar ali para fazer suas artes, ou se arrependeu de falar tanto na palestra e agora está achando um jeito de se distrair? Hoje vai haver sua luta e não sei se irá me liberar para acompanhá-lo, já que naquele lugar tem um tratamento um pouco quanto "agressivo", não sei se seria um lugar para mim. Mas se for para o ver ganhar, vou.

  O resto do dia foi resumido em comer, comi muito, assisti muito e senti muito sono, saberia que teria que estudar para a prova de biologia que faria daqui a uma semana, mas eu não me importei, só por hoje queria meu tempo só para mim, passamos o começo da tarde na sorveteria a conversar, o que é bem diferente na nossa rotina e agora ele está no porão e eu aqui. Como estava só, sem os adultos perto e sem ele, então fiz tudo que me deu vontade. Agora estou a me despir para um banho, são sete da noite, Elina e Daniel saíram, foram para uma reunião da tal greve, não sei de Carl saiu do seu esconderijo ou ainda está trancafiado lá dentro. Acho que estou mais ansiosa do que ele, julgo que preciso controlar a minha ansiedade, antes que possa acontecer algo pior. Deixei que a água quente me deixasse cair em pensamentos profundos, como seria ótimo começar um curso de arte, para me sair melhor na faculdade, realmente quero reabrir aquela galeria, algo maior do que meus pensamentos podem imaginar. Elina não me disse nada se falou com meu pai, me sinto uma total inútil porque ela precisa falar, mas, ao mesmo tempo, sinto como se meu pai não estivesse pronto para me ver sair de casa e me cuidar sozinha, evita tudo que chega perto de não ser mais sustentada por ele, acontece que odeio ter que pedir tudo para o mesmo, quero poder ir ao cinema, gastar o tanto que posso ou ir ao shopping sem me preocupar se o dinheiro que gastarei será muito para ele pagar, quero me sentir independente. Porque de qualquer forma, faltam poucos meses para fazer dezessete, um ano para ser de maior e não tenho uma carteira de trabalho preenchida. Já limpa, me enxugo e ponho uma lingerie, sinto meu estômago embrulhar e sem tempo, na pia mesmo, jogo tudo que comi para fora e mesmo sabendo que comi em excesso esse era o resultado de ingerir doces e salgados, escorreu uma lágrima dos meus olhos, pois, saberia que poderia estar começando as recaídas e não quero estar tão mal, perto de uma data tão boa. Lavei meus dentes e sai, ando pelos corredores ainda de lingerie e quando paro sobre a porta de Carl, que por incrível que pareça estava aberta vi que estava de toalha a procurar uma roupa.
  — Se sente nervoso? — pergunto ao ver que parece impaciente. Seus olhos verdes vão em direção aos meus e suspira alto.
  — Toda luta é como se fosse a primeira e você tenta manter a calma para uma boa luta, mas seu coração bate tão rápido que parece que abrirá um buraco no peito — diz tão rápido que eu repito tudo duas vezes na minha mente. O abraço por trás deitando minha cabeça nas suas costas, sentindo as gotas molhadas escorrerem até meu rosto.
  — Você se sairá bem — o encorajo e vejo que vira para mim, o olho nos olhos e ele encara meu físico. — Me levará, não é? — Carl faz uma cara de pensativo sem contato visual, e confesso que o silêncio pela primeira vez está a me atormentar. Sinto meu corpo ser suspendido e posto para a parede, seus lábios avançaram para os meus e iniciamos um beijo calmo, é como se aquele fosse o único beijo e não houvesse amanhã, por que eu sinto como se esse foi único? É como se ele jogasse toda sua emoção em mim e isso não é tão ruim.
  — Não sei. — Me olha nos olhos — o pensamento de homens te olhando na plateia enquanto distribuo socos em outro, não me parece bem.
  — Estarão me olhando e meus olhos estarão no único homem que quero — sorri e pareceu que se convenceu pelo pequeno sorriso que soltou. — e que será doido de olhar para a mulher do trovão do ringue?
  — Não me parece convincente ainda. — Desço de seu colo.
  — Tudo bem, te espero lá embaixo em trinta minutos — sorri e caminho até meu quarto.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora