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  Enquanto falta algumas horas para chegar em Doncaster, meus pensamentos estão em alguns dias ou meses daqui para frente, me assusta o fato das consultas e tenho medo de estar muito pior, não quero passar anos no hospital a me tratar, claro quero estar bem, mas a notícia que quero receber eu espero não ser muito grave, não quero atrapalhar a vida de ninguém enquanto estiver lá. Até porque meu pai irá casar e não quero de jeito algum interferir em seu casamento, tudo bem, quero marcar tudo para depois da formatura, e até lá, Daniel estará casado, mas mesmo assim não quero ser um problema em sua vida, como sempre fui. Olhando para fora da janela do ônibus vendo que a rodoviária de Doncaster está próxima eu suspiro. Espero realmente que meu pai entenda sobre eu querer reabrir a galeria de minha mãe.

  Me dá borboletas no estômago só de lembrar que amanhã estarei na escola. Por mais que ninguém mexeu comigo sinto que ainda tem um receio, tenho medo das pessoas mexerem comigo ou tentarem algo, depois de Jeremian e seus colegas, tenho ficado mais atenta, sinto emoções ruins e sensações. Acho que eu preciso realmente de um tratamento profissional. Pego um táxi até em casa e olho meu ecrã. Nenhuma mensagem, nem de Carl muito menos de Daniel, já é madrugada, mas ainda não passou das duas. A única pessoa acordada naquela casa seria Carl, Elina e Daniel já estariam dormindo, se não foram para algum show local.

  Em casa giro a maçaneta e vejo a escuridão que é o ambiente todo. Dentro dos aposentos é quente e acolhedor. Subindo as escadas com cautela percebo que o quarto de Carl a porta está aberta e é raro você ver a porta de seu quarto aberta. Por mais que eu tenha curiosidade de ir lá, preciso ver se nossos pais dormem. Entro em meu quarto e deixo a mala em um canto, pego inspirações enquanto caio na substância macia que é a minha cama, é uma viagem curta de duas horas ou uma hora e poucos minutos. Porém cansa bastante. Vou ao banheiro jogar uma água no rosto e lavar os dentes e quando saio do quarto me deparo com um Carl na minha cama, sua visão me paralisou. Parecia acabado, caminho até o mesmo e sinto o cheiro da bebida, me olha e seus olhos brilham por estarem marejados, seus braços sangram em mais uma coleção de cortes profundos e suas bochechas estão molhadas.
  — Foi a-apenas um m-maldito pesadelo — sua voz sai em puro ódio e súplica, eu nunca tinha visto o Carl tão sensível a minha frente. Sua voz sai com tantas emoções que chega a travar na sua garganta, o choro está presente e eu sentia meu coração quase sair pelas minhas costas com toda a sua adrenalina — sou tão inútil Angel — Carl olha seus cortes.
  — Não fala assim — o abraço sentindo sua cabeça sobre meus seios.
  — Ela me culpava, eu sou culpado. Por tudo — diz e suas mãos se fecham em punhos, o vendo assim me sinto mal e meu coração parece dilacerado.
  — Não foi sua culpa.
  — Foi sim Angel! — sua voz altera, continha o choro, se desprende de meus braços e me encara. Olhos vermelhos e inchados, parecia tão bem horas antes quando estávamos no carro. Mesmo quando eu pensava tanta coisas ruins. Agora é apenas um garoto assustado. — Sou tão... tão podre! E tão.
  — Não! — não poderia deixá-lo falar assim dele mesmo, não era nenhum fracassado ou culpado por algo — não fale assim de você mesmo. Nao foi você que matou Loren, Carl, sei que se culpa por fazer parte de coisas ruins. Mas não foi sua culpa! — seguro suas bochechas vendo ele me olhar nos olhos — se foi assim que Deus permitiu, foi porque tinha planos para você. — O puxo para um abraço e sinto seus braços me rodar — sei o quão ruim é sentir essa culpa, sinto toda vez que lembro de minha mãe. Mas ficar se culpando, infelizmente, não trará ambas novamente. Chora, desabafa — sinto suas lágrimas na curva do meu pescoço.
  — Posso dormir aqui? — o olho. — Nossos pais voltam amanhã de manhã.
  — Certeza? — o mesmo balança sua cabeça que sim e assim se levanta, caminha até o banheiro e ouço a água ser ligada, está tirando o sangue, a visão do seu braço me fez querer chorar, quando colocava o pijama vejo que deita na minha cama. O olho se encolher para o canto e tomo um par de inspirações antes de fechar a porta, acendo o abajur, porque até então estava tudo escuro apenas iluminado pela luz da lua. Sinto sua respiração bater no meu rosto e observo o seu. Parece tão forte, mas é tão frágil.

  Pela manhã quando acordei não havia ninguém ao meu lado e ninguém em casa, até agora não tinha ninguém aqui, a ansiedade só aumentava em meu corpo e me sentia tensa e pensativa, resolvi arrumar a casa e lavar roupas, não fui a escola, talvez porque meu celular não despertou e Carl não me fez esse favor. Ando até o quintal para ver o sol que hoje se formou, o dia está suave, não tinha um frio nem um calor, é apenas uma temperatura ótima, deixo que a leve preguiça de meu corpo me faça esticar todos meus membros para fazê-la ir embora, um suspiro calmo sair dos meus lábios vendo passarinhos no ar. Assim que todas as roupas estavam dobradas sobre o cesto eu o seguro ouvindo as folhas das árvores se bater, passo pela porta de vidro que leva para dentro de casa caminhando para o andar de cima. Vou ao meu quarto guardando as roupas minhas nos respectivos lugares e ligo a pequena caixinha de música. Deixo que o som de Bruno Mars me leve as lembranças passadas que me façam sorrir e ficar triste, vou ao quarto de Elina e Daniel deixando suas roupas nos lugares e enfim no de Carl. Quando estava descendo ouço o barulho do carro de meu pai e subo correndo desligando a caixa e voltando a descer para o andar de baixo.
  — Pai! Pai! — Corro até o mesmo e o abraço.
  — Isso é saudade ou quer algo? Está me chamando de pai — sinto o som brincalhão, mas eu acabo me afastando o olhando.
  — É saudade e também tenho alguns assuntos para tratar. — Pareceu confuso, no entanto assentiu, meu coração palpitando e estômago fazendo festas eu sorri.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora