Carl
— Meu pai caiu em uma depressão depois da morte dela, eu não via mais aquela magia, passei a presenciar sua bebedeira, eu saia e deixava-o no sofá com varias latinhas. Eu chegava e ele me deixava para ir ao bar. Fui morar com minha avó em Cheshire, passei um ano com ela, quando voltei Daniel estava ainda pior, parecia mais magro. E nesse mesmo ano ele recebeu a notícia, recebemos, a notícia que minha avó estava no hospital e tinha apenas vinte e cinco por cento de chances de sobreviver — parou um pouco — foi quando meu pai resolveu tomar um rumo, parou de beber e tentou achar um emprego, quando estávamos quase sem nada quase no olho da rua a ser despejados. Surgiu à vaga temporária dele, um dos ajudantes dos médicos estava de licença durante três meses, e meu pai ficou no lugar dele.
— E o colégio? — nos olhamos por um tempo antes de ajeitar sua postura.
— Tudo só piorou, quando fui ao oitavo ano. Eu já estava doente, tinha ataques de pânico sempre, mal entrava em um carro e a maioria das vezes meu pai ia me buscar no colégio. Chamavam-me de louca e isso só foi o motivo de mais Bullying. Eu passei boa parte do tempo atrapalhando a vida de meu pai. Ia me buscar em horário de trabalho por estar suja ou por ter os meus ataques, muitas vezes tinha que acordar de manhã para o trabalho, mas passava comigo porque tinha medo de dormir por conta dos pesadelos. Consegui vencer meus ataques, porém a ferida nunca cicatrizou. — me levanto jogando as latinhas fora, e nesse curto período de tempo ouço seu suspiro e olho para ela cruzando seus braços sobre o seu peito. Me apoio no balcão e também cruzo os meus.
— Depois que padrasto morreu, foi um choque. Hélio tinha ido embora quando eu tinha sete anos, e praticamente Ernest cuidou de mim — desta vez é a sua de se sentar. — Eu o tinha como um pai. Foi quando eu conheci o mundo das bebidas, o álcool virou meu consolo, muitas vezes a maconha. Loren me deu conselhos e esteve comigo, eu sempre fui o mais vulnerável mesmo sendo eu que deveria estar dando forças às mulheres. Eram elas que estavam dando forças para mim. Já havia descoberto o meu tal transtorno, não era nada tão forte como outros estágios. Mas eu me esquentava com qualquer coisa, foi quando descobri a briga de rua. Loren descobriu que minhas saídas eram por causa das brigas, muitas vezes chegava com marcas ou até mesmo com machucados graves. Prometeu-me não contar para mamãe, sabia que era meu jeito de descontar a raiva. Não contou, até eu quase matar alguém. Isso em mim estava ficando forte e o meu jeito de me culpar e me livrar da culpa era esse. — A nossa conversa acabou ali como um livro contando a história trágica de um personagem que acaba quando ele morre, havia muitas coisas a serem ditas, mas não dissemos, não agora, não essa noite. Hoje descobrimos o que aconteceu para chegamos aqui, nada sobre sentimentos, vontade ou alguma coisa a mais.Entro no meu quarto indo em direção a minha mala, são tarde da noite, mas ainda dava para uma pintura. Pego de dentro da bolsa as tintas e os pincéis e da mala uma tela branca média, tiro também, minha câmera fotográfica. Passando pelas milhares de fotos acho uma em especial, Angel está deitada sobre sua cama, a luz da lua iluminou seu quarto e a sombra da árvore estava sobre seu guarda roupas. Preparo todas as tintas das cores neutras às coloridas que seria pouco usada. Ela gostava de arte e no momento, estava servindo de ideias para muitas artes minhas, quanto na tinta quanto nos acordes.
Lavo minhas mãos e deixo a tela sobre um lugar vago para que ninguém mexa e que seque. Ao sair do meu banho e estar pronto para descer, percebo que já são onze da noite. A única luz do ambiente é a da televisão enquanto a programação passa, Angel dorme no sofá cama, deito ao seu lado e encaro cada traço de seu rosto. As sardas leves e avermelhadas, as sobrancelhas grossas e os lábios rosados. Sua pele bronzeada com a perfeita combinação dos claros cabelos. Mexeu comigo, como ela, como Lizzie. Nunca mais havia sentido esse sentimento, mas com Angel é diferente. É forte, Angel realmente tem algo que chama não só a atenção, também a atração, a curiosidade do mistério que se esconde atrás dela. É um livro sem sinopse, mas que chama a atenção por um simples fato, o mistério que carrega na capa, o que dá vontade de ler. Talvez sinta algo mais forte, por não sentir nada por Liz e pensar que sentia. Na verdade, sentia, se não tivesse sentido não teria sofrido tanto por sua ida. Odeio ser fraco quando se trata de idas, mas acontece que as minhas idas não tiveram voltas e o trauma de perder ficou.
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Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1
RomanceUma menina apaixonada pela arte, ama ler e adora se perder em universos de personagens fictícios. Espalha gentileza por onde passa, mas o que as pessoas não sabem é que por trás de cada sorriso existe um lágrima pesada, de culpa e de medo. Angel per...