~74~

315 29 1
                                    

  A minha noite sozinho me trouxe um vazio no peito, era como se eu voltasse há meses atrás, como se eu estivesse no dia exato de ter recebido à notícia da morte de Loren, na cama olhando para o teto, essa hora Angel já deve ter chegado a Manchester. Meu coração está acelerado e meu peito dói por palpitações, me sento na cama tentando respirar melhor, fecho os olhos com força massageando meu peito, mas a dor das minhas costas passa para meu peito como se estivessem martelando um prego em mim, ao abrir meus olhos, pulo de susto batendo as costas na cabeceira da cama, no canto do quarto tem alguém, o som que sai da sua boca me é familiar, mas eu não me lembro de onde ouvi. Fecho os olhos novamente e tento controlar a minha respiração. Ouço passos arrastados, um respirar forte e estalar da madeira no chão.

  — Abra os olhos — abano minha cabeça de um lado para o outro, não quero abrir, não vou abrir. O puxar do fôlego, o barulho de um aparelho — abra os olhos! — extasiado faço vendo a minha irmã, meus olhos arregalados olhando aquilo, não é Loren, dentes tortos, pele cinza, arranhões com o sangue já fresco — não gosta do que vê maninho? — lagartas saindo da boca entrando no nariz.
  — Você não é real — minha voz quase não sai e fecho meus olhos novamente, então começa a respirar a puxar o ar.
  — Carl, me ajuda — a voz angelical — Carl! — olho para ela no chão sem os tubos de oxigênio, sem as canaletas.
  — Loren! — seguro em sua mão e a minha é puxada com força.
  — Olhe o que aconteceu comigo! — tento me afastar do seu aperto e a cada puxão meu uma parte do seu braço se rompe da outra. — NÃO GOSTA DO QUE VÊ MANINHO?
  — Carl filho! — abro os olhos para ver minha mãe segurando meus braços — Carl o que houve? — procuro pelo quarto todo a menina, a minha irmã, mas não a acho, só o que vejo são as tralhas das pinturas jogadas no chão e a bolsa com as drogas.
  — Eu estou bem, f-foi só um pesadelo — engulo em seco me levantando com a sua ajuda, minha mãe me abraça e choro em seu ombro sem que perceba, era ela, eu vi, eu senti.

  Pela manhã quando levantei, pois, depois do que aconteceu pela madrugada eu não dormi mais. Havia serviços a serem feitos e Pietro passará aqui para me buscar, daqui à meia hora, tiro a barba que já nasce e observo meus cabelos, mais compridos, nunca os deixei crescer desde a morte de Loren, então os raspo novamente e tomo um banho. Na calçada, Pietro buzina para mim, jogo a bola para o banco de trás e dá partida. Em frente ao ponto de entrega dos pacotes, percebo a inquietação de Pietro, não sou diferente já que nunca parei de mexer minhas pernas. Assim que vejo o comprador saio do carro com a bolsa e ele sorri para mim, na minha ida até ele imagino como deve ser socá-lo até a morte, porém, eu penso nas pessoas ao meu redor e no que aquele desgraçado poderia fazer comigo. Não demoro nenhum segundo a mais depois de receber as vinte e cinco mil libras divididas entre mim e Pietro apenas cinco para cada o resto é de Gilbert.

  Ao me deixar em casa, Pietro partiu para um encontro com outros traficantes e fiquei pensando se poderia fazer uma visita surpresa para Angel, Sorri com essa ideia, a hora me facilita chegar lá pelo cair da noite, posso inventar qualquer coisa para Elina. Ligo para Conan enquanto subo para arrumar minha bolsa.
Elina chega trinta minutos depois e dez minutos depois que entrou em casa a campainha toca, sorri olhando pela janela o carro parado do outro lado da rua.
  — Tia Elina! — ouço a voz de Conan e seguro a bolsa — vim buscar Carl, ele já está pronto.
  — Como assim? Pronto para que? — desço as escadas e me deparo com ela, abro meu melhor sorriso.
  — Eu iria te contar juro, mas é que com os trabalhos esqueci — a sua cara de que sabia que eu estava aprontado, me fez gaguejar um pouco nas palavras — C-Conan me convidou para irmos Kesington, vamos ver uma peça.
  — Uma peça? Sobre o que? — pôs suas mãos na cintura e engoli em seco.
  — Mímica.
  — História — eu e Conan nos olhamos e logo depois para ela — uma história em mímica — Elina nos olhos, desconfiada, demorou séculos para que falasse novamente, intercalando seu olhar entre nós e o chão. Suspirou e me olhou.
  — Tudo bem, só porque precisa sair um pouco, cuida dele Conan — me abraçou e olhei para Conan que suspirou discretamente.
  — Eu sei me cuidar mãe, será só um dia fora de casa — me beija na bochecha e faz o mesmo com Conan.
  — Eu sei, mas não custa reforçar o cuidado.

  No carro estamos quietos a caminho da rodoviária e Conan cai na gargalhada.
  — O que foi? — balança a cabeça de um lado para o outro enquanto ri — o que é caramba?
  — Mentiu para sua mãe sem nenhum remorso? — reviro os olhos — pra onde está indo?
  — Lógico que me senti mal — ligo o rádio pra logo depois ele desligar — vou para Manchester.
  — Fazer o que lá? — me olha com sobrancelhas franzidas.
  — Angel está lá e quero passar um dia com ela a sós sem preocupações — ele sorri e logo começa a rir.
  — Espero que seu dia seja bom e que ela não seja uma Lizzie.
  — Ela não é como a Lizzie.

Destinados - Um Começo Para O Fim - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora