O Primeiro Encontro

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Capítulo 1

É tarde de domingo e eu estou jogada na minha cama, sem nada pra fazer. Domingo pra mim,  é o pior dia da semana; não só porque logo em seguida vem a segunda-feira, mas também por ser um dia morto: ninguém faz nada, ninguém vai a lugar nenhum. ..

Estou entediada. Minha filha foi passar o fim de semana como pai e desde então, somos somente eu e minha mãe em casa. Gente eu preciso fazer alguma coisa pra acabar com esse tédio.

Pego meu celular e verifico minhas mensagens no whatsapp. Nada de interessante. Abro meu aplicativo de relacionamento; com certeza deve ter algo interessante. Vou passando pelas opções que ele me apresenta e dou alguns matchs. Muitos veem o aplicativo como um cardápio humano, na verdade, a maioria das pessoas o veem dessa forma, mas pra mim é uma possibilidade de encontrar alguém bacana e se não for, valeu a experiência.

Eis que me deparo com uma figura bem interessante. Não perdi tempo e dei um match. Em pouco tempo, combinamos. Hummmm gostei disso. Iniciamos um papo sadio até. Esse não chegou demonstrando segundas intenções. Falamos um pouco de nós, nossas perspectivas... Renato me parece um cara bem interessante. Centrado, sabe o que quer; já vi que não está para brincadeira! Que bom, porque eu também não estou, combinamos mais uma vez.

Depois de algum tempo conversando, ele me convidou para sair. Aceitei de imediato, porque não vou deixar essa coisinha linda escapar. Minha filha retorna hoje da casa do pai, mas minha mãe ficará com ela. Ela é meu fechamento!

A noite chega e eu começo a me arrumar para o encontro. O clima está quente, visto uma bermuda social e uma blusa de alça com certa transparência. Ponho um salto para compôr o visual, maquiagem leve e cabelos escovados. Estou pronta. Dou um beijo na minha filha e passo a ela as recomendações de obediência (é sempre bom relembrar neh?).

No caminho, recebo uma mensagem de Renato...

- Julia, já saiu de casa?

- Já sim. Estou aguardando a condução. Dia de domingo é complicado!

- Então me passa a sua localização que eu vou te buscar.

- Ok.

Passo a ele minha localização e, em pouco tempo para um carro do meu lado. A rua está escura e eu sinto um certo receio, mas procuro não demonstrar. Os vidros abaixam e eu ouço uma voz me chamando. Olho para o lado e vejo Renato. Entro no carro, nos cumprimentamos e partimos. No caminho continuamos nossa conversa com o intuito de nos conhecermos um pouco mais.

Paramos num local próximo a minha casa. Sentamos numa praça com food truck. Renato começa a falar sobre a vida dele e eu ouço atentamente. Já sei que foi casado, assim como eu.

- Renato, quanto tempo ficou casado?

- Bom Julia, meu relacionamento com ela durou 12 anos, entre namoro, noivado e casamento.

- E por que terminou?

- Éramos muito diferentes. Nossos objetivos eram diferentes. Ela  tinha o sonho de ser rica. Me achava um cara pequeno. Mas sabe, eu sou um cara muito simples. É claro que eu tenho sonhos, objetivos, mas nada muito exorbitante. Não sou o tipo de pessoa que ostenta. Gosto de coisas boas, como todo mundo, mas nada de ostentação.

- Entendo. Eu também não sou o tipo de pessoa que vive na ostentação. Na verdade eu acho ridículo essa mania que as pessoas têm de mostrar aos outros o que tem, o que pode comprar. A felicidade está nas coisas mais simples. E é uma pena que a maioria das pessoas não compreenda isso.

- É verdade.

- Mas você demorou tanto tempo para descobrir que eram diferentes? Ou será que ela representou por todo esse tempo?

- Na verdade, hoje vejo que ela sempre foi assim, e eu até sabia disso, mas tentei procurar conviver com isso. Eu gostava dela e achava que fosse possível fazê-la enxergar que estava errada.

- Sabe, eu sei exatamente o que diz. Também já vivi isso e hoje, com a experiência que tenho posso garantir que ninguém muda ninguém. As pessoas só mudam a seu bel prazer, de acordo com a própria vontade ou necessidade. Se não julgam interessante, a mudança simplesmente não acontece.

- Sim. Hoje vejo isso. Só acho que ela não precisaria ter feito o que fez pra me ensinar. Aprendi da pior forma.

- Renato, me diz: o que ela fez de tão grave?

- Arrumou um gordinho gostoso e me trocou por ele. – Gargalhei alto.

- Desculpa, não devemos rir da  desgraça alheia,  mas do jeito que você falou soou engraçado. Tá bom. Agora me diz a verdade,vai?

- Mas eu tô dizendo. Éramos casados, vivíamos bem. Tínhamos nossas brigas, como todo casal tem. Mas ela era uma pessoa difícil de lidar. Nunca estava satisfeita com nada. Por mais que eu fizesse algo, nunca estava bom. Implicava  com meu filho.

- Seu filho?

- Sim, tenho um filho, mas de outro relacionamento. E ela nunca o aceitou. Até com ele ela implicava.

- Nossa que  pessoa intragável! Ai desculpe!

-Tudo bem! Não disse nenhuma mentira. Ela realmente é.

- E como tudo acabou? Você descobriu a traição e terminou tudo? – A história ficou interessante e eu resolvi indagar aproveitando que ele estava bem à vontade. 

- Na verdade não. Eu fui enganado por um tempo. Ela se relacionou com o amante por um tempo. E num determinado dia, disse que precisávamos conversar. Me comunicou que estava se mudando para outro estado e que não queria mais continuar casada comigo. Que estava cansada daquele relacionamento. Que não suportava mais conviver com uma pessoa tão soberba e mesquinha, que eu pensava pequeno e não era isso que ela queria pra ela. Ela queria mais. Queria conquistar o mundo, ser rica.

Enquanto  ele dizia eu olhava pra ele atentamente. A expressão nos seus olhos não eram de raiva. Ele parecia ter superado, falava com muita naturalidade e não aparentava nenhuma amargura pelo fato. Eu fiquei chocada. Como uma pessoa pode ser tão mesquinha? Gente,12 anos não são 12 minutos.

- Renato,ela jogou tudo pro alto? Cara,vocês tinham uma história juntos!

- Pois é, mas o gordinho tinha muito dinheiro. Ela já saiu daqui do Rio de Janeiro diretamente para um apartamento mobiliado. Pra  mim é óbvio que o caso deles já existia há algum tempo. Eu quem fui feito de trouxa.

- Olha, já vi muitas pessoas ruins, capazes das piores atitudes, mas sua ex-mulher se superou. Imagino o quanto foi doloroso pra você o término dessa relação.

- Sim. Foi muito difícil pra mim. Mesmo com todos os defeitos, eu gostava dela neh? Sofri muito. Mas superei. Não tenho raiva dela.

- E ela nunca mais te procurou?

- Sim. A ida para outro estado não deu certo. O amante largou ela e num belo dia, às 2h da manhã, recebi um email dela me pedindo perdão e dizendo estar arrependida. Bom, eu acho que uma pessoa que está bem não envia uma mensagem dessa nesse horário neh?

- Acredito que não. Mas e depois disso? Nunca mais se falaram?

- Bom, na época eu respondi ao email. Disse a ela que não tinha mais volta e que ela precisaria seguir adiante. E lá se vão cinco anos.

Meu telefone toca.

Continua...

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