Júlia, a Defensora

40 1 0
                                    


Capítulo 50


Júlia

Havia alguns dias que os meninos e eu estávamos trabalhando no meu disfarce. Tirei um dia para ir ao prédio de Samantha e fiquei de longe observando a movimentação do edifício. Vi quando ela saiu e entrou num táxi. Fui até a portaria e o porteiro veio atender-me.
- Boa noite senhor!
- Boa noite rapaz.
- Por favor, eu gostaria de ir ao apartamento 502.
- Que pena! Chegou atrasado. Não há ninguém lá.
- Poxa! Não acredito que minha tia fez isso. Vim de longe para visitá-la. Queria fazer uma surpresa. O senhor sabe me dizer se ela demora para voltar?
- Infelizmente não. Dona Samantha não é de dar satisfação, não é? Sua tia não é de muita conversa com empregados.
- Tudo bem, eu volto outra hora.
- Quer deixar algum recado?
- Não senhor. Faz muitos anos que não nos vemos e é bem capaz de ela não se lembrar de mim. Mas, mesmo assim obrigado!
- Por nada!
- Como o senhor se chama?
- Benjamin.
- Muito prazer, senhor Benjamin. Meu nome é Júlio, mas todos me chamam de Julinho. O senhor está sempre por aqui?
- Na verdade, eu revezo o turno com outro porteiro, que inclusive é seu xará. Mas ele só trabalha no horário da manhã.
- Olha só que coincidência! Bom, volto outro dia então. Obrigado!
- De nada meu jovem!
Os convites já haviam chegado e eu precisava entregar o de Samantha. Daniel me entregou o dela e eu fiz questão de levar. Porém, fui no turno da manhã, já que o porteiro não me conhecia. Esse parecia-me mais sério. Tinha cara de poucos amigos, mas ainda assim eu precisava fazer essa entrega. Não havia outro jeito.
- Bom dia senhor!
- Bom dia! O que deseja?
- Preciso entregar um convite neste endereço.
- Pode deixar que eu entrego.
- Ah muito obrigado. É para o apartamento 502.
- Ah sim. Para a dona Samantha. - Disse isso e fez uma cara de nojo. Impressionante como ninguém gosta dessa cobra! Também não é pra menos né? - Pode deixar que assim que ela passar por aqui eu a entrego.
- Muito obrigado!
Deixei o convite com o porteiro e fiquei de longe observando. Alguns minutos depois, Samantha saiu e tomou um táxi. Vi quando o porteiro lhe entregou o convite e ela o guardou na bolsa.
Fui para o apartamento de Paulo. Hoje haveria uma reunião. Chegando lá, Daniel e Paulo estavam ansiosos. Os dois queriam ter ido comigo, mas eu os proibi.
- E aí Júlia? Como foi? - Daniel correu para perguntar.
- Normal.
- Como assim normal amiga?
- Gente, fui lá disfarçada e entreguei o convite ao porteiro. Ele mesmo se encarregou de entregar à Samantha.
- E como vamos saber que ela recebeu o convite?
- Bom, fiz o serviço completo, não é amores? Passei uma historinha pro porteiro e pedi que ele entregasse. Fiquei ali por perto, por alguns minutos, e vi sua prima receber o convite quando estava saindo do prédio.
- Então, está tudo certo. Convites entregues. Só faltava o dela.
- Agora é só aguardar pelo dia da festa. Eu estarei ao lado de Renato quando ela chegar.
- Eu não perco essa festa por nada.
- Eu também não, Daniel.

[...]

Alguns dias depois...

Hoje é o dia da festa de inauguração do empreendimento. Renato passou em minha casa para me buscar. Fez questão que chegássemos juntos.
Na entrada do local, haviam vários paparazzis tentando garantir uma foto do casal que chegava, no caso, Renato e eu. De longe, tive a certeza de ter visto Samantha. Ela trajava um vestido preto.  E me fuzilava com os olhos, ainda que de longe.
Adentramos o espaço e Renato não desgrudava de mim. Parecia adivinhar o que estava prestes a acontecer. Fingi não entender nada.
Todos os convidados interagindo. Hhomens e mulheres muito bem alinhados. Renato subiu ao palco e fez as honras, como um bom anfitrião.  Porém,desceu e me chamou para subir com ele.
- Eu? Meu amor, o que eu vou fazer lá em cima?
- Me acompanhar. Júlia você é minha mulher. Em breve estaremos nos casando e a sua presença ao meu lado é muito importante para mim.
- Tá bom.
Subimos ao palco e Renato iniciou seu discurso.
- Boa noite meus amigos! Sejam todos bem-vindos à esta comemoração. É uma honra inenarrável entregar a vocês o nosso mais novo empreendimento: O Vale das Rosas! Esse certamente é um projeto diferenciado. Preocupados com o meio ambiente, reunimos uma equipe conhecedora do assunto para nos ajudar na execução deste projeto. Gostaria de agradecer a parceria da EcoRio. O condomínio conta com uma extensa área verde, com espaço estruturado para atender a todos os tipos de famílias. Muitas opções de lazer para públicos  diversos. Localizado no coração da Zona Norte da cidade, tenho certeza de que será um sucesso.
- Senhor Renato, quem é esta bela jovem ao seu lado? - Perguntou um jornalista.
- Esta é Júlia, minha noiva. A mulher da minha vida! - Corei neste momento. Mas tentando não demonstrar, eu sorria, ainda que sem graça.
- É uma bela jovem, parabéns. E quando será esse casório?
- Em breve!
Descemos do palco e eu comecei a perceber uma certa movimentação dos jornalistas. Precisava sair dali. Samantha saía de cena e acabou me ajudando. Vi quando ela entrou no toilette e resolvi ir atrás. Eu não ia desperdiçar esta chance. Avisei a Renato que iria ao banheiro e já voltava.
Entrei no toilette munida do meu celular. Não ia perder a chance de gravar nossa conversa. Fiquei diante do espelho, fingindo retocar a maquiagem e aguardei por ela. Do espelho, visualizei sua cara de sonsa mor e dei um solene boa noite.
- Boa noite Samantha. Como está?
- Vou ficar melhor do que você imagina.
- É mesmo?
- Júlia, o que você está fazendo aqui? Não vê que esse não é o seu lugar?
- Vamos por partes? Então, primeira pergunta: estou aqui acompanhando o meu noivo, que por sinal é o proprietário da construtora que você está querendo arruinar.
- Não sei do que você está falando.
- Deixa de ser sonsa, Samantha. É claro que você sabe.
- Você está louca.
- Eu só queria entender qual seria o interesse de Cássio em ajudar você.
- Cássio é um homem maravilhoso, Júlia. Pena que seu noivo não reconhece o talento dele.
- Ah sim, claro! É é exatamente por isso que ele acha que arruinando a construtora estará mostrando seus "excelentes predicados", não é? Nossa, preciso dar-lhe os parabéns. Como ele é inteligente, não?
- Não perde a mania de ser debochada, não é?
- E você  não perde a sua prepotência e arrogância. Mas não mude de assunto, eu estou curiosa pra saber o que Cássio pretende.
- Simples. Cássio tem um talento que Renato não reconhece. Com isso ele sempre fica à sombra dele. Em segundo plano.
- E arruinar a construtora seria uma saída pra mostrar o excelente profissional que ele é?
- Depois que a construtora falir, Renato ficará queimado no mercado. E aí, Cássio terá a oportunidade de montar o próprio negócio e terá maior visibilidade. Seremos sócios.
- Jura que ele acredita em você? Esse homem realmente não te conhece, não é?
- E você? Acha mesmo que Renato vai se casar contigo?
- Não, eu não acho, eu tenho certeza querida!
- Você não conhece Renato.
- Ah não? Talvez eu não conheça o Renato que foi casado com você, até porque esse, sinceramente eu não faço questão de conhecer.
- Deixe de ser ridícula! Renato nunca casará com você. Ele está apenas lhe usando. É a mim que ele ama.
- Garota você continua doente, não é? Vai se tratar Samantha!
- Imagino o quanto seja difícil pra você aceitar que está sendo usada. Eu também me senti assim.
- Jura? E aí você resolveu esse despeito arrumando um amante e fugindo com ele? Ahhh, me poupe!
- Não fale sobre o que você não sabe. Não faz ideia do que eu passei com esse homem.
- Bom, a história de vocês é algo que sinceramente não me interessa. Mas eu vou lhe dar um conselho: esqueça qualquer tipo de aproximação com o meu noivo. Esqueça esse seu plano mirabolante que você está maquinando para tentar destruí-lo. Porque eu não vou permitir que você faça nenhum mal a ele.
Segurei no braço dela e finalizei:
- Saia daqui agora, porque não há espaço pra você aqui.
- Eu já entendi o seu recado. E também vou dar o meu.
- Jura?
- Presta atenção Júlia. O Renato não é o homem que você imagina e eu estou tentando te avisar, mas já que não quer me ouvir, vou cruzar os braços e aguardar você cair do seu pedestal. Aliás, vocês caírem, porque ele também irá cair. Vai me pagar por tudo o que me fez.
- Guarde suas lamúrias para você Samantha. Dispenso os seus conselhos. Agora, saia daqui, por bem. Caso contrário, eu posso lhe mostrar a porta de saída. Mas garanto que não será nada agradável para você.
Abri a porta do banheiro e dei de cara com um segurança.
- Algum problema, dona Júlia?
- Apenas essa senhora que errou o caminho da saída. Será que você poderia fazer- nos o favor de conduzi-la até a saída?
- Sim senhora.
- Obrigada. - Agradeci ao segurança e dei um tchauzinho para Samantha.
Retornei ao salão e encontrei Paulo e Daniel.
- Qual dos dois teve a brilhante ideia de mandar um guarda-roupa para a porta do banheiro?
- Amiga, eu previ uma catástrofe. Chamei o primeiro segurança que vi e pedi que fosse até lá para socorrê-la caso você precisasse. Fiz mal?
- Obrigada Paulo. Você sempre age da forma correta.
- Mas e Samantha? Onde está? - Perguntou Daniel aflito.
- Num lugar onde não irá estragar a festa. Não se preocupem.
Estava de costas, e, nesse instante, ouvi a voz de Renato.
- Vocês estão falando da mesma Samantha que estou pensando?
- Sim amor! A própria. Mas nós já resolvemos esse problema.
- Não Júlia. O problema dela é comigo.
Toquei em seu rosto e tentei acalmá-lo. Fiz sinal para Daniel e Paulo se afastarem.
- Meu amor, problema que é seu, é nosso também. Não deixe que isso estrague a nossa noite. Hoje é dia de comemorar.
- Você sabia que ela estava aqui?
- Eu sei de muita coisa. Mas agora não é o momento de falarmos sobre isso. Vamos aproveitar a noite. Depois eu te conto tudo. Prometo. Tá bom assim?
- Tudo bem.

Continua...

Quebrando o Gelo Onde histórias criam vida. Descubra agora