Quebrando o Gelo

Daniel Recebe Alta

Capítulo 27

Renato

Depois que todos foram embora, eu fiquei por um bom tempo pensando em toda a situação. Há um forte indício de que Daniel e Roberta estejam envolvidos nesta história. Mas eu não posso acusar nenhum dos dois; pelo menos não enquanto não tiver alguma prova.
Já era a hora do almoço. Desci do prédio e fui ao restaurante próximo dali. Chegando lá, Paulo já estava.
- E aí meu amigo? Conseguiu trabalhar?
- Consegui avaliar alguns documentos e projetos, mas cancelei todas as reuniões que eu tinha para hoje à tarde. Não tô com cabeça pra isso e não ia conseguir me concentrar.
- Cara, eu sei que é difícil, mas você precisa seguir em frente. Não pode estacionar sua vida por causa disso.
- Eu sei Paulo. Mas hoje não dá mesmo. Não consigo me concentrar.
Meu celular toca e eu corro para atender a chamada.
- Eita cara!
- É Roberta. Deixa eu atender!
- Alô! - Atendo sem ânimo algum.
- Renato, Daniel acaba de receber alta.
- Que bom!
- Pois é. Estou arrumando as coisas dele o médico acabou de sair daqui.
- Me aguardem no hospital. Estou terminando umas pendências, já chego aí.
- Não precisa, nós podemos tomar um táxi.
- De jeito nenhum! Eu levo vocês para casa.
Terminamos o almoço e eu sigo para o hospital. Finalmente a luta diária de dormir no hospital todas as noites iam acabar.
Chegando lá, fui até a cantina. Precisava avisar a André que estava indo embora. Conversei com o médico que estava de plantão e ouvi todas as recomendações. Daniel teria de voltar para fazer fisioterapia duas vezes na semana. Roberta e eu iríamos continuar revezando as vindas ao hospital.
Chegamos em casa. Minha mãe já havia preparado o quarto de Daniel e um lanche com todo o que ele gosta.
- Ih, vamos parar com esses mimos hein!
- Meu filho, Daniel precisa se alimentar. Tanto tempo naquele hospital, agora ele precisa comer direito.
- Mãe, pelo amor de Deus, neh!?
A tarde estava chegando ao fim e eu só pensava na Júlia. Roberta e eu combinamos que ela ficaria vindo aqui prapara cuidar de Daniel. Porém, dormiria na casa da minha mãe, que é próxima da minha. Antes de dormir, peguei o celular e fiquei olhando a foto da Júlia. Tinha uma salva na minha galeria. Que saudade que eu estava da minha baixinha! Só de pensar que ela está com raiva de mim, eu me sinto péssimo!
Em breve eu irei saber quem foi que arrumou toda essa situação para nos separar. Queria muito estar enganado, mas acredito que Daniel e Roberta estejam por trás disso. Às vezes, acho que isso é um delírio meu. Na verdade, eu estou muito confuso com isso tudo.
Verifico a medicação de Daniel e vou dormir. O dia hoje foi bem cansativo...

* No dia seguinte... *

O dia amanhece e eu vou ao quarto de Daniel, para saber como ele está. Em cima do criado-mudo, vejo 2 celulares. Será que Roberta esqueceu o telefone aqui ontem?
Ponho o meu celular no modo silencioso e ligo para mim mesmo desse outro aparelho. Preciso pegar esse número e algo me diz que vou ajudar Wallace a montar esse quebra-cabeça. Levo o celular comigo. Vamos ver se o dono dará falta dele.
Depois de verificar tudo, aguardo Roberta chegar e vou para a construtora. Chegando lá, eu ligo para Wallace e passo para ele o número do telefone que achei no quarto de Daniel. E descubro que foi o mesmo número que clonou o meu. Verifico as últimas mensagens recebidas e enviadas. As que ele enviou para Júlia ainda estão lá. Meu sangue ferve! Mas eu preciso me controlar. Faltam dois dias para eu ter as provas que preciso e eu não vou estragar tudo agora.
Instalo um aplicativo no celular que encontrei no quarto dele para ter acesso às ligações. Ao chegar em casa, percebo a aflição dos dois com o sumiço do aparelho. Finjo que não percebo. Ponho o celular em cima do armário no quarto mesmo lugar onde peguei, disfarçadamente. Amanhã é dia de fisioterapia. Roberta e eu iremos levá-lo e de lá eu sigo para a construtora.
Trabalhei o dia inteiro. Não parei um minuto. Tinha muita coisa para pôr em ordem.
Tento parecer natural com Daniel e Roberta. Afinal, eles não podem sequer imaginar que estou desconfiado deles.
Chego em casa doido para ouvir as conversas do Daniel no tal celular misterioso...
Depois que ele dorme, eu consigo pegar o celular e ouvir todas as ligações. Envio para Paulo e Wallace uma em especial, onde ele e Roberta comemoram o sucesso do plano para me afastar de Júlia. Me enoja perceber como meu filho vibra pela minha infelicidade.
Sempre fui um bom pai, muitas vezes me anulei pela felicidade dele e talvez esse tenha sido o meu erro.
Wallace me liga assim que recebe o áudio.
- Alô!
- Senhor Renato, boa noite!
- Boa noite Wallace. Ouviu o áudio que eu te enviei?
- Sim. Estou ligando para falar deles. O que o senhor deseja fazer com isso?
- Por acaso há a possibilidade de você salvá-lo em algum dispositivo pra mim e me entregar junto com o relatório? Esse áudio é uma conversa do aparelho que clonou o meu WhatsApp.
- Tem sim. Vou converter e salvar para o senhor num CD- Room. Pelo que vejo temos mais uma prova. Obrigado.
- Faça isso, por favor! Eu quem agradeço.

[...]

2 dias depois...

Acordo mais cedo do que o habitual. Não dormi bem essa noite. Hoje receberei as provas e estou muito ansioso por isso. Organizo meu material de trabalho e chamo Daniel para tomarmos café da manhã.
- Bom dia pai!
- Bom dia meu filho! Sente-se e tome seu café da manhã. Vou levar você à fisioterapia. Sua mãe nos encontrará lá. Depois que terminar, trago vocês para casa e vou pro trabalho. Ainda tenho algumas pendências para pôr em ordem.
- E o problema do celular, você já conseguiu resolver? - Achei muito estranho o interesse dele, mas respondi.
- Sim. Comprei outro chip, para usar somente o WhatsApp. Hoje em dia os aparelhos comportam mais de um número, não é? - Menti. Ele perdeu a cor e eu tive que me conter para não dar uma gargalhada.
Terminamos nosso café da manhã e partimos para o hospital. O médico disse que, se Daniel continuar nesse ritmo, logo, logo estará andando sem as muletas.
Roberta chega e eu passo pra ela os relatos do médico a cerca da recuperação de Daniel e isso a deixa radiante. Levo os dois para casa e sigo para a construtora.
Hoje à tarde termino de montar esse quebra-cabeças e desvendo esse mistério; e o melhor, com todas as provas nas minhas mãos.
Sigo o dia trabalhando intensamente. Analiso projetos, participo de algumas reuniões. Estou mega cansado.

Às 18:00 h, Wallace chega com as provas. Dona Vera anuncia sua entrada e, depois disso eu a libero.
- Obrigado Vera. Pode ir. Até amanhã querida.
- Obrigada senhor. Tenha uma boa noite!

Já na minha sala, Wallace me entrega o relatório e o CD com o áudio que complementa as provas. Acerto o pagamento dele e do amigo e agradeço pelo serviço prestado. Antes de ir, dou a ele a minha palavra de que não irei revelar a ninguém como recebi essa ajuda. Será um segredo nosso. Ele agradece e sai em seguida.
Abro o envelope e começo a ler o relatório. Minha desconfiança se transforma em certeza. O telefone que clonou o meu WhatsApp e enviou as mensagens pra Júlia está registrado no nome de Daniel. Estou decepcionado. Como ele foi capaz de fazer isso comigo? Ele não tem consideração nenhuma por mim. Preciso tirar essa história a limpo.

Continua...