A decisão de Júlia

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Capítulo 73

Renato

Estava na casa de Júlia quando meu celular tocou. Era da delegacia, avisando que haviam encontrado o local do possível cativeiro de Bruna. Resolvi ir até lá e apurar de perto o trabalhos da polícia.

Porém, teria que convencer Júlia a não ir comigo. Pois era capaz de ela não conseguir se controlar e acabar prejudicando todo o trabalho da polícia.
- Nem pense nisso Renato! Estamos falando da minha filha e eu não posso ficar aqui, de braços cruzados, esperando por notícias!
- Meu amor, entenda.... Sua presença pode atrapalhar a estratégia policial. Não se esqueça de que Marcelo tem sede de vingança contra você. E se ele estiver lá, pode se desequilibrar e a situação será trágica!
- Renato, por favor, não me peça para ficar longe. Não vou aguentar ficar aqui enquanto você estiver lá. Preciso de notícias e em tempo real.
- Tudo bem. Mas vai ter que me prometer que não vai deixar ninguém perceber que você está lá.
- Prometo!
Saímos em direção à delegacia. No caminho, meu telefone tocou. Júlia atendeu a chamada e pôs o viva voz para que eu pudesse atender. Não conhecia o número, mas, desta vez, era Samantha.

- Alô!

- Oi meu amor! Onde você está?

Resolvi dar crédito a ela para sondar onde estava. Talvez ela mesma me desse alguma pista.

- Estou no escritório, minha linda! - Julia me fuzilava com seu olhar. Fiz um sinal pedindo a ela que permanecesse em silêncio.

- Mas hoje é domingo, meu amor!

- Sim, mas tenho uma reunião amanhã logo cedo. Então, tive que vir até aqui para preparar a pauta e adiantar alguns detalhes. Bom, você sabe como eu sou, não é?

- Claro que sei. Afinal, preciso conhecer o meu marido, não é?

- Verdade. Amor, fiz uma reserva para almoçarmos naquele restaurante que você gosta.

- Hummm. Já me deixou com água na boca.

- Ótimo! Dentro de uns 30 minutos estarei saindo daqui do escritório. Se organize para estar deslumbrante quando eu chegar.

- Ok! Aguardo você!

- Tá bom. Um beijo.

Consegui segurá-la na linha por dois minutos. Tempo suficiente para que a polícia rastreasse meu telefone e descobrisse o paradeiro de Samantha. Júlia, por sua vez, estava furiosa com o tratamento dado à Samantha.

-  Meu amor? Nossa, quanta, diferença de tratamento.

- Meu amor, por favor, não tenha ciúmes. Sabe muito bem que Samantha não significa nada para mim.

- Com esse tratamento que acaba de dar a ela? Acho bem difícil!

Tive que parar o carro no acostamento.  Segurei seu rosto com as duas mãos e tentei acalmá-la. Precisava que ela entendesse o que estava acontecendo.

- Júlia, Samantha é uma mulher muito astuta e se ela quer jogar, temos que jogar o mesmo jogo que ela. Ela está com o seu bem mais precioso e eu não vou me perdoar se ela tentar qualquer coisa, por menor que seja, contra Bruna. Não vou admitir que ela machuque sua filha. Já percebi que ela está altamente descontrolada e é exatamente por isso que precisamos entrar no jogo dela, ainda que isso pareça surreal para você.

- E entrar no jogo significa chamá-la para um almoço romântico também?

- Entrar no jogo dela significa fazê-la acreditar em sua loucura. Fazer com que acredite que nada mudou, que ainda somos casados e loucos um pelo outro. Eu não vou a lugar nenhum com essa doida, mas se para ela acreditar em mim, eu precisar dizer que vou à Lua, eu direi. Entende?

- Sim. Mas ver você tratando ela tão bem, me deixou insegura, confusa.

- Não precisa ficar assim. Lembre-se de que é você quem eu amo, é você quem quero em minha vida. Confie em mim.

- Tudo bem. Desculpe!

- Você está nervosa, eu entendo.

- Renato, você ficou um bom tempo com ela ao telefone...

- Sim. Além de demonstrar confiança a ela, precisava mantê-la na linha por um tempo, assim como você fez quando ela te ligou. - Ela arqueou uma de suas sobrancelhas. Conhecia muito bem esse sinal. - Meu telefone também está sendo monitorando, assim como o seu.

Liguei o carro novamente e seguimos até a delegacia. Ao chegarmos lá, contei ao delegado sobre o telefonema de Samantha.

- Sim, conseguimos rastrear o endereço de onde ela se encontrava no momento da ligação. E descobrimos que é o mesmo da ligação feita para a senhora ontem. Ele nos mostrou o endereço na tela do computador.

- É o endereço dela. Vamos para lá? Bruna deve estar com ela.

- Vamos! Mas antes é preciso traçarmos um plano, uma estratégia que deveremos seguir minuciosamente para que tudo saia como planejado. Senhora, eu prefiro que não acompanhe essa operação. Seu noivo irá conosco, mas acredito que sua presença no local não é uma boa ideia.

- E eu posso saber por quê?

- Pelo que percebo, Samantha lhe odeia e o maior desejo dela é se vingar da senhora. Seu ex-marido mantém o mesmo desejo e nutre o mesmo sentimento que ela.

- Concordo delegado! Porém, há duas situações que acredito eu que o senhor não esteja percebendo.

- Quais?

- Primeiramente: vivi um relacionamento abusivo com um homem extremamente psicótico. No entanto, eu aprendi, com o passar do tempo, a reconhecer seus momentos de surtos e, muitas vezes, prever suas ações e reações. Ele me odeia por ter optado pelo fim do relacionamento e vive esse luto, de maneira negativa, obviamente, até hoje. - Enquanto eu falava, o delegado e Renato permaneciam calados, me olhando fixamente. - Segundo: Samantha também nutre por mim desejo de vingança porque, para ela, eu lhe tirei a oportunidade de ser feliz ao lado de Renato.

- Exatamente! Por isso que eu digo que a senhora não pode ir conosco.

- Aí é que o senhor se engana. Samantha e Marcelo me odeiam da mesma forma que odeiam Renato.

- Como assim?

- Veja bem: estamos falando de dois seres altamente psicóticos que foram rejeitados. Marcelo me odeia por tê-lo rejeitado, da mesma forma que odeia Renato por estar no lugar que julga que deveria ser dele. Samantha, por sua vez, me odeia por estar ao lado de Renato, impossibilitando uma felicidade que ela acredita que exista ao lado dele; por outro lado, também sofre com a rejeição de Renato. Resumindo: os dois odeiam tanto a mim, quanto Renato.

- Olha, não tinha analisado por esse ângulo.

- Talvez por não ter noção das mentes psicóticas com que estamos lidando. O senhor não faz ideia do grau de psicopatia desses dois. Porém, Renato e eu fazemos, porque convivemos com eles durante anos. Ninguém conhece a mente de Marcelo melhor do que eu; assim como ninguém conhece a mente de Samantha melhor do que Renato. Portanto, o senhor me desculpe, mas eu não vou ficar aqui de braços cruzados esperando esses loucos fazerem mal a minha filha, se posso ir e ajudar de alguma forma, ainda que eu fique à distância.

Júlia levantou, pegou sua bolsa que estava sob a mesa e nos virou as costas, abriu a porta da sala e saiu nos deixando boquiabertos.

Continua...

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