Mais uma decepção para Renato

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Capítulo51

Júlia

Renato me parecia inquieto. Samantha ainda mexia com ele.
Terminada a festa, fomos para a casa de Paulo. Renato estava curioso para saber como Samantha soube da festa.
Chegando lá, pedi a ele que se sentasse para receber as novidades.
- Então, quem é que vai me contar o que Samantha estava fazendo numa comemoração da construtora?
- Amor, ela foi convidada pela própria construtora.
- Como é que é?
- Pai, deixa eu te explicar.
- Ah sim, você está por trás dessa brilhante ideia também, não é? Confio em você e é dessa forma que me retribui a minha confiança? Francamente Daniel!
- Renato, você vai nos deixar explicar ou não?
- E por acaso tem explicação para isso, Julia? - Ele estava exaltado.
- Tem sim. E não culpe Daniel, porque a ideia de deixá-la ir foi minha.
- Você não deve estar no seu juízo perfeito!
- Cala a boca Renato! Escute o que temos a dizer.
- Ok. Me explique então.
- Então pai, quando me integrou à equipe do Cássio eu comecei a observar as atitudes dele. E sempre achei ele meio estranho. Quase não me olhava nos olhos, não me encarava. Atitude típica de quem está escondendo alguma coisa. Bom, fui observando até que ele deixou uma brecha que eu aproveitei para investigar.
- Que brecha?
- Você lembra que ele se ausentou da empresa, dizendo que iria viajar para visitar a mãe que estava muito doente?
- Lembro.
- Então, quando ele disse isso, eu achei muito estranho. Estávamos prestes a entregar o empreendimento. As obras precisavam se adiantar. O prazo estava estourando já e ele resolveu se ausentar, sabendo que você não estava acompanhando o trabalho de perto.
- Daniel, imprevistos acontecem. As pessoas não calculam o tempo que ficarão doentes.
- Concordo. Mas nesse caso, eu tive uma ligeira desconfiança de que ele estava apenas saindo de cena. E aí resolvi investigar.
- E o que descobriu?
- Esperei ele sair e fui vasculhar o computador dele. Já que ele andava trabalhando tanto, era provável que tivesse comprado a passagem pela Internet, usando o computador da própria empresa.
- Sim.
- Pois é pai. Mas quando abri o computador dele, tive uma baita de uma surpresa. - Renato estava atento ao que Daniel dizia. - Ele havia deixado o e-mail aberto e eu visualizei uma mensagem, cujo remetente me chamou a atenção.
- Quem era o remetente?
- Samantha.
- E de onde eles se conhecem?
- Me fiz a mesma pergunta, quando vi o nome dela na lista de e-mails recebidos. Abri a mensagem e nela, Samantha confirmava seu retorno ao Rio de Janeiro. Inclusive dizia que desta vez, vinha pra ficar. O horário do voo batia com o que o Cássio havia me dito que viajaria.
- O que pra você, não soou como uma coincidência.
- Principalmente depois que eu vi várias outras mensagens dela na caixa de e-mail. Aliás, várias trocas de mensagens melosas entre os dois.
- Então eles estão juntos.
- Exatamente. Bom, depois que descobri a ligação deles, resolvi ir até o aeroporto para ver isso de perto. Quando cheguei lá, vi os dois num clima bem íntimo. Saíram abraçados do aeroporto. Liguei pro tio Paulo e pedi ajuda.
- E  então, pedi a ele que viesse para cá. Percebi que se tratava de algo sério e Daniel precisava de ajuda. Quando ele chegou aqui, me perguntou se eu havia falado recentemente com Samantha. Achei estranha a pergunta dele. Há meses que Samantha não fala com ninguém da família. Daniel me revelou que ela estava no Rio de Janeiro. Mas ela não tinha avisado a ninguém sobre sua chegada.
- Contei ao tio Paulo sobre minhas desconfianças a respeito de Cássio e a ligação entre ele e Samantha. E foi aí que ele resolveu me ajudar. Porém, nos precisávamos de alguém que conhecesse bem a mente feminina, pois Samantha é bem astuta.
- E foi aí que eu entrei para o time, amor! Daniel estava visitando algumas gráficas para fazer a escolha dos convites. Até esse trabalho, Cássio havia deixado sob responsabilidade dele. Como os dois estavam ligados, presumi que ela fosse convidada e decidi deixá-la ir. Pois eu faria questão de pô-la em seu devido lugar. Sabia que ela estava arquitetando algum plano para atingir você e nós não iríamos permitir isso.
- Gente, o que essa mulher quer depois de tantos anos?
- Destruir você. Ela me deixou isso bem claro.
- Mais do que já destruiu? Júlia, essa mulher fez eu me afundar numa depressão tamanha.
- Mas para ela isso não foi o suficiente.
- Mas o que mais ela quer? Por que não me deixa em paz?
- Quando vocês eram casados, qual era o sonho dela?
- Ser rica.
- Pois é. Vamos combinar que hoje você poderia oferecer a ela uma vida bem confortável!? Além disso, depois do fim do casamento, ela tentou reatar e você se negou.
- Claro!
- Pois é. Mas nem todas as pessoas conseguem absorver o não e seguir em frente. Para ela, essa rejeição fez com que criasse uma amargura dentro de si. Isso é tão forte que ela nutre um desejo de vingança por você. Ela quer te ver arruinado.
- Júlia, eu nunca fiz nenhum mal a ela. Pelo contrário, eu me dediquei ao nosso relacionamento, procurei entendê-la...
- Eu sei disso. Mas para ela só ficaram na lembrança os momentos ruins, infelizmente.
- Percebi. E como é que o convite chegou até ela?
- Enquanto eu visitava uma das gráficas, vi Cássio e Samantha entrando num restaurante juntos. Quando eles saíram de lá, peguei um táxi e os segui. Assim, cheguei ao prédio onde Samantha está morando. Na gaveta de Cássio, encontrei um contrato de locação de imóvel, no mesmo endereço. O contrato havia sido assinado dois meses antes.
- Aí eu lhe pergunto, se Cássio mora no Recreio, por que estaria alugando um apartamento no Leblon? E se está junto com Samantha, por que não a levou para o seu apartamento? - Indaguei .
- Eles podiam ser vistos juntos. - concluiu Renato.
- Exatamente. E foi aí que começamos a encaixar as peças desse quebra-cabeças. Daniel discordou, mas eu fiz questão que Samantha fosse convidada até porque se ela faria questão de estar presente eu também faria questão de dizer a ela tudo o que precisava ouvir. E aí começamos a trabalhar nas estratégias que usaríamos para pegar as duas raposas!
- Que estratégias foram essas?
- Bom, primeiro Daniel confirmou o endereço de Samantha na lista de convidados. Ele fez a entrega dos demais convites, enquanto me encarreguei de entregar o de Samantha pessoalmente.
- É como você fez isso, Júlia?
- Ahhhh meu amigo, você não tem noção do que a sua noiva aprontou.
- Estou curioso para saber.
- Criamos um disfarce. Paulo me emprestou umas roupas e Daniel me ajudou na caracterização. Assumi uma identidade masculina. Me disfarcei de menino e fui ao apartamento de Samantha à noite. Vi quando ela saiu de carro e fui até a portaria. Bati um papo com o porteiro, me passando por sobrinho dela. Voltei no dia seguinte, em outro turno, já que o porteiro seria outro e pedi que ele fizesse a entrega do envelope para mim. Vi quando Samantha recebeu o envelope das mãos dele depois que eu supostamente saí de lá. Depois disso, foi só aguardar pelo dia da festa.
- Não acredito que você fez isso, meu amor.
- Por que não? Tenho que proteger o homem que está comigo das raposas que andam por aí, não acha?
- Tem razão.
- Quando chegamos à festa, vi Samantha do outro lado da rua, esperando o momento de entrar em cena. Depois que terminou o discurso, vi quando ela se dirigiu ao toilette e fui atrás dela. Tinha certeza que faria com que ela confessasse seu plano diabólico.
- E você conseguiu isso?
- Pai, depois disso tudo você ainda tem dúvida? - Todos rimos.
Coloquei o telefone sobre a mesa e mostrei a todos a confissão de Samantha. Aquilo foi um choque para Renato, que mais uma vez foi traído por alguém em quem tanto confiava. Saímos da casa de Paulo. Durante o trajeto, Renato não disse nenhuma palavra. Estava muito pensativo. Deixamos Daniel em casa e seguimos. Aquele silêncio dele me incomodava. Até que ele resolveu falar.
- Amor, será que podemos dormir juntos hoje? Estou precisando de você.
- E desde quando o senhor precisa me pedir isso?
Vi um leve sorriso se formar em seu rosto.
Chegamos em casa e partimos para o banheiro. Precisávamos tomar uma ducha. Ele não estava bem e por isso, não demonstrei nenhuma intenção em irmos para a cama.
Terminada a nossa ducha, trocamos de roupa e nos deitamos. Renato me acolheu em seus braços e eu podia sentir sua respiração. Seu coração pulsava; percebi o quanto ele estava angustiado.
- Júlia?
- Sim...
- Você acreditou em Samantha sobre o que ela disse a meu respeito?
- Em nenhuma palavra.
Me virei para ele e disse olhando em seus olhos.
- Meu amor, escute o que vou lhe dizer: Eu conheço o seu caráter e não será Samantha ou qualquer outra pessoa que irá falar sobre ele para mim. Eu sei bem o que quero.
- Que bom! Porque eu também sei, mas, por um instante, tive medo de que acreditasse nela.
- Renato, Samantha nunca foi uma pessoa de confiança. Ela está mordida pelo fato de estarmos juntos e certamente, está roxa de ódio de mim, pois gostaria de estar no meu lugar.
- Disso eu não tenho dúvida.
- Mas, quer saber de uma coisa?
- Diga!
- Estou pouco me importando para o que ela pensa sobre nós ou para o que ela sente ao saber que estamos juntos. Ela teve a chance de ser feliz e desperdiçou. Agora, chegou a nossa vez de sermos felizes.
- Obrigado pelo que fez por mim.
- Fiz por nós. Atingindo você, ela me atinge também.
- Obrigado meu amor. Eu te amo!
- Eu também amo você!
Nos beijamos e ficamos um bom tempo abraçados. Dormimos agarradinhos.

Continua...

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