POV SOFIA
Caminhámos de mãos entrelaçadas até ao carro onde o rapaz deu início à condução até ao local desejado.
Vou observando a paisagem através do vidro do carro numa tentativa de reconhecer o caminho, no entanto, o mesmo é-me completamente desconhecido.
Durante o trajeto não é ouvida nenhuma conversa entre nós. Acredito que talvez seja por não saber bem do que haveremos de falar, mas admito que é um silêncio um pouco constrangedor.
Sinto o jovem a estacionar o carro e olho em volta observando o local. Saio do carro e vejo o Jota a abrir a mala do carro tirando uma mala.
- Eu pensei em muitos restaurantes para te levar, mas achei que temos muito que falar e optei por fazer um piquenique. - contou os seus planos.
Assenti sem saber o que falar e caminhamos para a praia. Tiro os sapatos assim que calco a areia e ajudo o jogador a estender a toalha.
Vejo o rapaz a tirar uma pizza do interior da mala e sorrio mentalmente pela sua escolha.
- A minha preferida. - disse e o mesmo solta um sorriso tímido.
Jantámos sem mais nenhuma palavra ser trocada e admito que soube bem apreciar apenas a companhia um do outro.
- Vim o caminho todo a pensar no que te havia de dizer, mas a realidade é que agora que aqui estamos nada me sai. - suspira - Eu queria muito dar-te uma razão para o que eu te fiz, mas eu não tenho. Tu fazes-me feliz e és-me mais que suficiente. Aquele momento é como se fosse um borrão na minha memória. Eu apenas me lembro de gritar com ela e pedir para sair do quarto. - engolo em seco - Desculpa por ter estragado tudo...
O jovem ia continuar, mas eu interrompo o seu discurso.
- Eu ouvi Jota. - disse-lhe.
- Ouviste o quê? - perguntou visivelmente confuso.
- Ontem eu não estava a dormir e ouvi tudo o que tu que disseste. - aprecio a sua face surpreendida - E eu quero que saibas que ninguém te vê como um monstro, muito menos eu.
- Já tanta coisa me passou pela cabeça Sofia. - confessa - Pensei muito em propor ao clube a minha transferência para o estrangeiro durante uma época ou duas. - o meu coração quase que pára ao ouvir a sua afirmação - Seria bom para eu crescer enquanto pessoa e talvez tu encontrasses alguém que não te partisse o coração da forma que eu fiz.
- Ainda tens essa ideia em mente? - a minha voz sai apenas num murmuro.
Ele sorri fraco.
- Podes não te acreditar, mas no momento em que tu chegaste à casa, eu estava prestes a ligar ao clube. Quando eu olhei para trás e te vi essas ideias passaram logo. Eu não ia ser capaz de te deixar aqui, porque eu sei que nós pertencemos um ao outro. Além disso, eu não podia desistir. Não podia ir para outro país à procura da felicidade, se tu estás aqui. E tu és a minha felicidade. - limpo as lágrimas que caiam sobre a minha face.
- Eu não sei o que te dizer. - confesso.
- Não digas nada, pelo menos para já, porque há mais uma coisa que eu tenho que te contar.
- Diz. - incentivo.
Ele respira fundo e prepara-se para falar.
- Eu tenho uma depressão. - olho para ele chocada - Pouco gente sabe. Apenas eu, os psicólogos do clube, o treinador e os meus pais. Nem mesmo a minha irmã sabe. Antes de te conhecer eu frequentava os psicólogos quase todos os dias, mas depois de tu apareceres na minha vida eu passei a ir muito menos vezes. O médico notou uma melhoria imensa em mim a partir daí e deu-me uma espécie de alta das consultas dele. No entanto, eu ainda tinha que comparecer uma vez ou duas por mês.
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