54° Capítulo

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[22/08/18 — Quarta-feira — 9h10]

Carlos estava em um devaneio profundo. Sua mão servia de apoio para sua cabeça, e seu tédio como combustível para a distração.

Ele estava em aula. Não prestava atenção nela, pois apenas tinha Luke em seus pensamentos. A tarde que tiveram no dia anterior havia sido interessante e divertida. Produtiva, na verdade, pois juntos adiantaram semanas que tinha em trabalhos escolares. Mas aquele não era o único motivo que fazia Carlos pensar no amigo.

Luke, era único para ele. Havia conhecido poucas pessoas ao longo da vida, mas nenhuma delas se destacou tanto quanto Luke. Ele tinha algo de diferente que Carlos ponderava ser o fator de idade. Era um pouco interessante para o garoto quando pensava por esse lado. Afinal, ele não via motivos de alguém como Luke lhe escolher pra ser amigo.

Mas, acima de tudo, Carlos ainda gostava dele muito mais do que apenas amizade. E era esse o motivo de não dar ouvidos a explicação do professor.

Passar o tempo com Luke na tarde de ontem, só provou que seus sentimentos por ele ainda estavam vivos, e mais evidentes do que antes. Achou que tinha superado quando soube que Luke viajou após o acidente da mãe. Passou todos os dias seguintes tentando seguir a vida, já que Luke tentou seguir com a dele. Um dos fatores que levou Carlos a sair da YuTech, já que estar lá somente lhe deixaria pior.

Mas nunca seria tão fácil assim, e Carlos sabia disso.

Estar com Luke — assim como foi no dia de ontem —, lhe trazia paz. Era bom vê-lo sorrir novamente. Era ótimo conversar com ele. Ouvir sua voz e a risada de quando comentava algo engraçado. A mania que considerava ser fofa que ele tinha de gesticular com a mão enquanto falava. Era tudo tão cativante, que Carlos se perguntava em como alguém poderia ser tão incrível assim.

Mas a ideia de jamais adquirir algo a mais de tal relacionamento, o entristecia. Quanto mais tempo passava com Luke, mais se convencia dele ser hétero. Não tinha condições de ser algo além disso, pois as pistas eram irreais demais para provar o contrário. Até porque, se Luke sentisse o mesmo, algo provavelmente já teria acontecido. E era com essa ideia que Carlos tentava convencer si mesmo de que precisava se afastar dele pra não se machucar mais.

Pois ele sabia que, quanto mais alimentava esses sentimentos, mais difícil a ausência de Luke se tornava seu desejo. O que era torturante. E não tinha ideia do que fazer pra contornar toda essa situação.

Mas, acabou sendo tirado de seus pensamentos quando começou a escutar sons estranhos pela sala de aula, além de perceber que muitos dos alunos olhavam em sua direção. E seu coração acelerou quando viu que o professor também lhe encarava.

— E então, Carlos, o que acha dessa citação que acabei de falar? — Questionou o professor.

Carlos engoliu seco. Mirou seu olhar para a lousa, os alunos lhe encarando como se estivessem tanto esperando que falhasse ao abafar o riso, e depois para o professor, que aguardava responder.

Ahm, pode... repetir, por favor? — Requisitou, nervoso.

O professor suspirou.

— Exemplifique alguns aspectos do fascismo. — Disse ele.

— Oh, bem... — Carlos se ajeitou melhor na cadeira enquanto buscava as palavras. — A censura é uma delas. Normalmente buscam todas as maneiras de barrar a oposição, e privar todo o conhecimento que faria duvidar das palavras dos fascistas. Outro aspecto é a imposição de conteúdos benéficos apenas para o governo ou regra, onde somente traria vantagens pra quem seguisse os conceitos. Fora isso a imposição vem, muitas vezes, através de religiosos fanáticos ou até mesmo da... força bruta... — Carlos findou as últimas palavras encarando Matias nas carteiras afrente. Mas desviou o olhar no mesmo instante.

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