Parte II

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[22/10/18 — Segunda-feira — 13h07]

Depois de passar pelos portões e seguir através da pequena estrada de pedra, Carlos fez o mesmo procedimento com suas digitais no painel ao lado da porta. Precisando de apenas poucos segundos pra ler suas digitais.

Alarme desativado. Bem-vindo de volta, Carlos. — A voz de SHIP ecoou por perto.

E Carlos sorriu por conta disso. Mesmo já tendo escutado aquilo todas às vezes em que visitava a casa de Luke. Mas ainda não se acostumou com uma IA lhe dando as boas-vindas. E nem queria, na verdade. Gostava de ser bem recebido por ela.

Tirou seu headphone em torno do pescoço e pausou a música que estava ouvindo com ele fora de seus ouvidos. Aproveitou pra mandar uma mensagem a seu namorado, avisando que chegou na casa dele. Também decidiu tirar pelo menos uma alça da mochila enquanto ainda se mantinha em pé, próximo do sofá. Notou que Luke não esteve online há algumas horas. Provavelmente estava ocupado no trabalho, em horário de almoço ou, possivelmente, dirigindo. Então se convenceu que ele não iria lhe responder tão cedo.

Deixando a mochila e a blusa de moletom sobre o sofá, Carlos se sentou na mobília e também começou a tirar seus tênis. Depois, se deitou e esticou as pernas enquanto o braço fazia o mesmo pra alcançar o controle remoto sobre a mesa de centro. Ver televisão parecia ser a melhor coisa a se fazer naquele momento. Um bom jeito de se distrair até que Luke ao menos retornasse sua mensagem. Por isso, deixou o celular sobre seu peito para o caso de que, se vibrasse, iria sentir.

Mas ele acabou dormindo 10 minutos depois. O sofá e almofada macias, o fato de ter acordado muito cedo e a televisão estar ligada, apenas acelerou esse processo. Os braços esticados para trás, repousando-os sobre a cabeceira, e com o corpo relaxado na mobília era admiravelmente fofo. Mas de tanto sono que o habitava, seus roncos apareceram pra evidenciar que já estava dormindo profundamente. E só esperava acordar quando seu namorado enfim chegasse.

O problema era que, quanto mais minutos se passavam com Luke dentro daquela sala cinzenta de interrogatório, mais seu desejo de ir embora se tornava inexistente. Estava com um braço sobre a mesa de aço frio, os dedos batendo de leve na superfície, mas com a perna balançando num frenesi estressante. Só tinha ele naquela sala, pois Luke havia alegado que só iria responder as perguntas com a presença de sua advogada. Afinal, o delegado encarregado do caso foi bem específico ao dizer exatamente seus crimes.

Ter sido visto naquela empresa com o objetivo de ir até o terraço, foi só o início de seus problemas se tornarem incontroláveis. Alguém havia denunciado anonimamente sua presença ali, o que desencadeou a questão principal de como exatamente conseguiu acesso. Luke sabia que a hipótese óbvia era terem contrato algum hacker pra lhe investigar e seguir seus passos durante essas semanas. Um que fosse experiente o bastante pra ousar ultrapassar as defesas que criou afim de evitar que exatamente isso acontecesse.

Mas aconteceu, e agora estava ali. Mudando de postura e arqueando a cabeça para trás enquanto cruzava os braços. Manteve seus olhos fechados, pois a lâmpada estava bem acima de sua cabeça e a luz era forte demais para enfrentá-la, mesmo se apertasse os olhos em direção à ela. Pelo menos não teve nada a ver com o fato de ter dirigido sem o cinto de segurança antes de ser pego, mas desejou que fosse esse o problema real. Porque, assim, já estaria em casa novamente com Carlos, após pagar a multa que iriam cobrar pela infração.

E lembrar dele, lhe fez se irritar mais ainda. Só tinham lhe dado apenas uma ligação e essa teria que ser a que chamaria sua advogada. O problema era que Luke sequer pôde ligar, mas sim a própria delegacia. Porque eram espertos demais pra deixar o acusado de hacking, espionagem, invasões cibernéticas e quebra de sigilo nacional, lidar com um frágil telefone fixo de delegacia. Era arriscado. Luke sabia que o medo deles era também terem os sistemas invadidos de alguma forma. E eles estavam certos, porque era exatamente o que pretendia fazer quando ligasse para Eric.

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