3° Capítulo Extra: Imortal

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[ CARLOS ]

A última coisa que me lembro é de estar sonhando com o espaço. Flutuando entre as estrelas e vendo os planetas de perto. É a primeira vez que sonho com algo assim, especialmente tão real e nítido. Quase sou capaz de sentir a presença de todo o cosmo ao meu redor.

Só que ele acaba inesperadamente. O barulho de alguma coisa caindo me arranca do universo e puxa de volta pro meu próprio corpo. Ouço alguém xingando num tom bem baixo por esse objeto aparentemente pesado ter ido ao carpete. E acredito que já é de manhã, porque alguns raios solares atravessam as cortinas quando abro os olhos pra ver, deixando esse quarto enorme meio iluminado. Preciso apertá-los pra que a claridade não os machuque.

— Tá tudo bem? — minha voz sai meio rouca.

— Tá sim, desculpa por isso. Pode voltar a dormir.

Luke pega o negócio do chão e fecha o armário. Pelo formato, o que caiu era um de seus notebooks. Normalmente é ali que guarda os defeituosos pra depois descartar ou transformar em obra-prima.

— Eu disse que pode voltar a dormir — repete quando me vê ainda com a cabeça levantada.

— Não vai ser fácil. Que horas são?

— Muito cedo. Principalmente pra você que dormiu às três da manhã.

São 6h da manhã de sábado agora, depois que pego meu celular pra ver. Não estou surpreso que Luke já esteja de pé e usando social. Quase sempre tem algum compromisso durante a manhã de fins de semana.

— Onde você vai? — pergunto, apesar de já ter uma ideia.

Ele atravessa o quarto até seu closet com o notebook ainda embaixo do braço. Mas o deixa sobre a cômoda assim que chega perto.

— Tenho uma reunião às sete e meia com a Gi e uns dois caras que trabalham pra uma de nossas fornecedoras. Ela tem algumas ideias pra melhorar os negócios com o hardware deles. Depois tenho outra às oito com o pessoal de marketing pra discutir nosso software que vai ser lançado mês que vem — diz enquanto dá um nó na gravata. Só pelo jeito como faz isso percebo que já está estressado — Depois, se tudo correr bem, vou pro aeroporto. Tenho um vôo marcado à uma da tarde.

— Vai viajar? — indago na hora.

Ele sorri, porque é óbvio que nota o tom meio desesperador que tentei esconder. Por isso insere as mãos no bolso e se aproxima da cama.

— Vou, mas é a trabalho. Preciso pessoalmente falar com um dos nossos associados no Rio — explica — Não vou demorar. Talvez volto pra casa antes das seis, aí podemos finalmente sair pra jantar naquele restaurante que você adora.

É impressionante que tenha tanta coisa pra fazer hoje e ainda considerar em cumprir o que me prometeu. Luke vem planejando essa noite há quase um mês, mas sempre tinha algo urgente pra resolver de última hora na empresa. Não me preocupo mais com os pedidos dele pra adiar. Conheço suas prioridades e sei que são válidas demais ao ponto de até querer desistir desse jantar. Eu com certeza entenderia.

— Pro Rio, então? — encosto a cabeça no travesseiro, ponderando — Em que lugar exatamente?

— Niterói. Esse sócio comanda uma de nossas filiais perto do centro.

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