Capítulo Especial: Luke, a Raposa

1.7K 185 43
                                    

A melodia cativa e orquestral do piano era capaz de ser ouvida não só em cada canto daquela vasta mansão, como também nas calçadas afora dela

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A melodia cativa e orquestral do piano era capaz de ser ouvida não só em cada canto daquela vasta mansão, como também nas calçadas afora dela. Nenhuma brecha ou sombra tinha a audácia de inibir a aura sentimental que Luke emanava daquele instrumento perfeito. Ele era capaz de emocionar qualquer um que escutasse pelo menos uma mísera nota, pois, seus dedos, estavam carregados de sentimentos.

A garrafa de uísque estava vazia sobre a superfície do piano, assim, como seu copo se encontrava ausente de líquido. Também havia uma lente de contato ao lado do copo. Essa que o francês havia removido de seu olho esquerdo, tornando evidente sua íris verde e, consequentemente, a heterocromia que mantivera oculta por vários anos.

Luke estava com sua camisa social branca desabotoada, e sem os pares de sapatos, deixando apenas as meias e a calça preta como peças inferiores. Seus cabelos loiros estavam rebeldes, e o rosto um pouco ressecado devido as lágrimas que já se cansaram de escorrer. Mas, Luke nem sequer se importava com seu estado, naquele momento. Sua mente já estava cheia, pois processava diversas informações fragmentadas. Só que, apesar de tudo, ele estava sereno e em completo silêncio. Deixava que a melodia falasse por si.

O porta-retratos de sua mãe junto a si, quando criança, estava bem posicionado no centro do piano. Mas, de olhos fechados, Luke se concentrava em tocar a música no instrumento, como se fosse a última coisa a se fazer antes de seu último suspiro. Uma obrigação que ele mesmo criou, afim de trazer à tona todas as sensações e lembranças que tinha de Rita. A única pessoa que lhe inspirou a alcançar o que almejava na vida.

Estava lúcido em boa parte de sua sanidade, o que deveria sentir o efeito contrário após incontáveis doses de Jack Daniel's. Ele não se importava com nada, além de mover seus dedos precisamente em cada tecla do instrumento, com a límpida ação de reproduzir a música favorita de sua mãe, e até si mesmo. Ambos cantavam em sua mente, mas Luke sentia a presença dela ao seu lado no banco do piano. Ela sorria enquanto cantava suavemente.

Luke também sorria. Ouvir a voz dela novamente lhe arrepiava. Ver seus cabelos longos e ruivos, além dos indescritíveis olhos azuis celestes, lhe inspirava a não parar com a música. Afinal, Rita estando presente ou não, conseguia reintegrar toda sua delicadeza e amor que tinha aprisionado. Só ele e sua mãe sabiam o que o caçula da poderosa família francesa passou ao longo dos anos. Mas ele sabia exatamente o que sua mãe diria agora se ousasse relembrar a angústia que superou.

Agora cantando o refrão um pouco mais alto, Luke conseguiu sentir Rita levar um braço em torno de suas costas e cantar no mesmo tom. Também tinha o privilégio de sentir ela acariciar levemente a lateral de seu corpo, e subir até seus cabelos loiros. O toque, como sempre, gentil e doce que sentira por vários anos.

E agora, lágrimas desciam de seus olhos de duas cores. Estava ausente de emoções, mas podia sentí-las indo e vindo a cada clímax que alcançava na melodia do instrumento. Pois, naquele momento, era o ápice do que Luke pudera sentir o que eram as fortes emoções.

IMPÉRIO [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora