[ CARLOS ]
Acho que nunca vou me acostumar com o reflexo do flash na minha cara. Preciso dar crédito pra quem lida e trabalha com isso o dia inteiro, porque não é nada fácil. Levo mais tempo que o normal pra me recuperar e voltar a enxergar quem ou o que está ao meu lado. Se não fossem meus pais me guiando desde o começo, eu não teria feito quase nada nesse lugar. Talvez seja por isso que eles nunca me convidaram pra fazer uma sessão de fotos.
A questão é que agora tudo parece inevitável. Ir nesse evento de formatura foi mais uma ideia deles do que minha. Estaria satisfeito com o diploma e a foto pro anuário escolar que a própria instituição fez há duas semanas, pouco antes de registrarem as notas finais. Mas claro que pros Barones, o que vale é todo e qualquer tipo de recordação. Não é algo que abrimos mão.
O interessante é que durou menos do que achei que duraria. Não fui a muitas formaturas pra ter uma base exata. Teve a cerimônia, um discurso de alguns professores, o do orador, a clássica entrega de canudos pra cada aluno — e talvez eu esteja louco, mas acho que ouvi mais comemorações quando chegou minha vez — e mais um pouco de discurso. Deve ter durado horas para quem assistia, mas, pra mim, sinto que levou pouco tempo. O que me deixa meio inseguro.
A resposta bem óbvia é porque sei que falta alguém aqui. Estou bem satisfeito que parte da minha família veio me ver, mas quem eu queria ainda não apareceu. Sei que Luke recebeu o convite. Li sua mensagem uma hora depois me agradecendo por ter deixado na mesa do escritório dele. E também vi a que me mandou há três horas, dizendo que já estava se arrumando pra vir.
Não costumo ficar paranoico com essas coisas. Muito menos decepcionado. Claro que deve ter um motivo bastante convincente sobre seu atraso, mas não posso negar que é inquietante. Também não quero ser aquele tipo de namorado que insiste em ficar ligando e perguntando sobre seu paradeiro a cada dez minutos — já fiz isso com ele uma vez, e me arrependo demais.
— Tem certeza que não quer vir? — minha mãe aparece gritando pela terceira vez na mesa onde estamos reservados, dessa vez com uma bandejinha de fritas na mão.
Não mencionei, mas faz alguns minutos que o conceito da formatura se foi e agora o lugar virou uma espécie de boate enorme com música alta. Algo bem exclusivo e chique até. Tem bares e gente vindo reabastecer as mesas com aperitivos pra quem quiser.
— Quero não, obrigado — repito a mesma resposta das outras anteriores.
Minha mãe deixa a bandeja na mesa e se inclina pra poder falar sem precisar aumentar muito o tom.
— Se quiser alguma coisa, é só me pedir, tá? — diz — Ou pro seu pai. A gente está por ali.
— Eu sei, valeu. Pode voltar agora.
Ela ri. Desde o instante em que anunciaram a transformação do lugar pra uma balada, meus pais não saíram da pista. Sempre foram desse tipo em qualquer festa. A questão é que, a cada duas músicas, minha mãe aparece aqui me dando bebidas ou algumas porções. Sei que ela sabe do meu estado e tenta me consolar da maneira que pode ajudar. Mas não estou chateado, na verdade. Só não estou realmente no clima pra dançar agora. Sabendo disso, ela apenas pisca pra mim e volta até onde meu pai também está.
Deve ser difícil conciliar sua vontade de dançar com dar atenção ao filho deprimido.
"tô saindo agora :)", dizia a última mensagem. Luke me falou uma vez que detestava emojis. Achava inútil, superestimado ou que só serviam como poluição visual — inclusive quase me convenceu do mesmo. Agora é raro vê-lo não usar pelo menos um no final de cada frase, por mais simples ou curta que seja. Seu emoji preferido sempre está lá.
VOCÊ ESTÁ LENDO
IMPÉRIO [✓]
AdventureCarlos achou que entrar numa multinacional cobiçada pelo ramo da tecnologia, seria a base para encontrar sua vocação que tanto almeja no auge dos seus 18 anos. O garoto, que esbanja uma inteligência impecável, ainda não descobriu o que quer ser da v...