Parte V

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[30/10/18 — Terça-feira — 14h02]

Carlos sempre se interessou por séries ou filmes que envolviam mistério, investigação policial e advocacia. Seu catálogo em entretenimento desse gênero só não é mais extenso do que sua paixão por filmes de ação e aventura. Desde pequeno adorou esses tipos, e é incapaz de parar de assistir.

Mas tudo mudou quando soube que seu namorado era quem estava sendo acusado de cometer crimes. De todos os anos que passou vendo aquelas pessoas num traje social, sentadas ao lado de seus advogados e sendo acusadas de uma série de coisas, ele jamais imaginaria que Luke seria o vilão da história toda na vida real. Era um absurdo pensar que, depois de tudo o que passaram, solucionando mistérios e impedindo que coisas ruins acontecessem, seria ele o responsável por todos aqueles ataques.

Havia sido bem no dia seguinte ao sufoco que ambos passaram. Carlos pensou que levar uma bronca de seus pais — principalmente de sua mãe — quando Luke lhe levou pra casa e explicou o que houve, fosse a pior coisa possível. O fato de Luke ter tomado total responsabilidade e lhe protegido o tempo todo perante argumentos deles, não foi o suficiente pra amenizar completamente as coisas. Mesmo ele tendo passado a noite consigo em seu quarto, Carlos sentia que não deveria ter permitido que ele levasse toda a culpa.

Porém, o pior aconteceu na manhã seguinte quando acordou e viu seu namorado terminando de abotoar a camisa social.

— Onde você vai? — Carlos havia perguntado, sonolento e apertando os olhos por conta da pouca luz que entrava no quarto.

E Luke tinha sorrido, passando a colocar a gravata no pescoço.

— Tenho um julgamento hoje. Aquele caso do hacking ainda está em aberto. — Ele tinha respondido, lhe encarando. — Também recebi uma intimação, me acusando do que aconteceu ontem. Mas consegui fazer com que você ficasse de fora disso tudo. É tudo mera formalidade, eu presumo, porque não encontraram a pessoa certa pra culparem ainda.

Carlos sabia que ele só tentou diminuir a gravidade da situação naquelas palavras simples e com um sorriso perfeito. E mesmo tendo sua testa beijada pelos lábios dele e o "volto antes do almoço, ok?", seguido de uma carícia em sua bochecha, Carlos não conseguiu se sentir melhor. Parecia sério demais, mas não havia dito mais nada enquanto via seu namorado ir até a porta e desferir uma piscadela a si antes de sair. Apenas se manteve deitado e olhando para o teto, ponderando desenfreadamente.

Só que aquilo tinha sido apenas o começo. Luke tinha dormido em seu apartamento a semana inteira, mas quase não parava em casa por conta de outras sessões do julgamento. Voltava apenas para almoçar, passar um tempinho consigo e depois sair pra resolver os assuntos na empresa. E quando retornava, já era bem tarde. Carlos se lembrava de acordar no meio da noite e ver aquele braço forte envolvendo seu corpo e sentindo a respiração profunda de Luke em sua nuca. Ele andava tão ocupado durante aqueles dias que mal pareciam ter tempo pra conversar. E Carlos sequer se lembrava da última vez em que se beijaram de verdade. Algo romanticamente intenso, e não às vezes em que apenas davam um selinho um no outro antes de Luke sair novamente. Aquilo parecia não ter fim.

E era por isso que Carlos tinha voltado a assistir séries com tais gêneros. Elas conseguiam lhe passar uma certa confiança acerca do que acontecia atualmente, e que não era tão assustador quanto se parecia. As sessões do julgamento eram fechadas, então Carlos só conseguia imaginar como estava sendo. Luke não falava muito sobre o progresso, pois realmente não tinha tempo. As poucas mensagens que trocavam durante o dia, já eram o suficiente. Mesmo algumas não sendo nada relevante quanto o que acontecia dentro da corte, mas compensava quando Luke perguntava como estava sendo seu dia ou simplesmente lhe enviando uma foto dele sentado na cadeira giratória do escritório na empresa.

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