4° Capítulo Extra: Ideais

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[ LUKE ]

Mal consigo me lembrar da última vez que fui à praia. Ir de verdade. Deitar na areia. Tomar um bronze. Nadar sobre as ondas. E não só usar o lugar pra chegar num barco. É engraçado, porque antigamente eu tinha tempo de sobra pra isso. Mas nunca quis. Ironicamente agora eu quero, mas o tempo ri da minha cara quando calculo o próximo dia que talvez estarei livre.

Esse pensamento surgiu de repente enquanto olhava pra janela na sala de reuniões. O fato de eu girar a cadeira lentamente de um lado pro outro, esperando alguma coisa acontecer, contribuiu pra que minha imaginação continuasse trabalhando nisso. No tempo em que estou esperando meus programadores finalmente chegarem, consegui construir uma lista bem grande de litorais pelo país que caíram bem agora.

Carlos provavelmente deve estar agorinha aproveitando o ápice do verão com uma galera que ele conheceu num jogo online, um mês atrás. Ele ficou tão próximo deles que até decidiram finalmente se encontrarem. Começaram marcando num bar. Depois a coisa se estendeu e foram pra uma convenção de jogos semana passada. Agora, nesse sábado, todos foram à praia. Sei porque ele me mandou uma foto de si com óculos escuros e seus amigos no fundo sem nem notarem o que estava fazendo.

Filho da puta covarde. Fez questão de me provocar me mandando várias fotos deitadão na areia ou se refrescando na água, enquanto precisei vir à empresa resolver um negócio pessoalmente. É uma disputa que, dessa vez, infelizmente, não pude participar. Senão eu estaria agora pelado na piscina de casa mostrando o que ele tava perdendo. Sempre deu certo.

Mas acho que não posso ganhar todas. Tenho que dar crédito pra ele. Faria a mesma coisa se estivesse em seu lugar. Aproveitar os 33°C numa praia enquanto o namorado está se lascando na empresa desde manhã? Não perderia essa chance por nada. Pelo menos não estou de social.

— Isso até que é verdade, só não sei ele aprovaria depois do acordo na semana passada — Vinícius entra na sala com mais dois caras logo atrás. Levanto da cadeira — Luke, esses são Thiago e Natan, os acionistas da startup em Fortaleza. E senhores, Luke.

— Luke Neville — Thiago aperta minha mão primeiro — Achei que esse dia nunca chegaria. Videoconferência não é tão íntegra pra mim e muito menos direta.

— Também nunca fui fã — depois de cumprimentar o outro, gesticulo pra que se sentem — Como foi o voo?

— Bem confortável. E obrigado pela exclusividade naquele jato.

— É o mínimo que eu podia fazer — pisco.

— Pelo menos espero que a temperatura aqui esteja à altura do que vocês estão acostumados — Vinícius comenta — Sei que no nordeste deve tá muito quente agora.

— Vocês não fazem ideia — Natan complementa — Mas deu pra notar bastante diferença depois que saímos do avião. Aqui é praticamente inverno.

A gente riu. Falar sobre a divergência climática sempre será um bom começo de conversa. Venho investindo na startup deles há alguns meses, e até agora a troca de recursos foi tudo por videoconferência. Senão era a lotação tanto na minha quanto na agenda deles, o aeroporto nunca colaborava com o cronograma de voos de Fortaleza pra cá ou vice versa. Tive que apelar no aluguel de um jato.

Assim como eles precisam de mim, eu preciso deles. Causar uma boa impressão nos dois lados é o que eu chamo de lealdade legítima. Porque tenho uma lista imensa de decepções com startups que, além de me fazerem perder dinheiro pra caralho investindo, gerou uma série de problemas nas demandas da minha empresa. Levei um tempo pra voltar a procurar outras que realmente valiam meu tempo.

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