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Laysa Narrando

Quando senti o sangue escorrer da minha boca e do meu supercílio, comecei a enxergar tudo rodando, minha única reação foi correr o máximo que pude para a casa da Kessilly, eu sabia que ela estava grávida, mas não consegui pensar em outra pessoa para me ajudar naquele instante além dela, sua cara de espanto me deixa confusa, será que estou tão deformada assim?

— Laysa, pelo amor de Deus, o que foi isso? — Ela diz pegando nas minhas mãos e me conduzindo até a cama.

Não respondo nada, apenas aceito a toalha que ela me oferece e limpo a boca que estava ensanguentada.

— Vou buscar gelo, vai pro banheiro lavar isso... — Ela manda e eu a obedeço indo para o banheiro do seu quarto e ficando na parte de dentro onde estava o chuveiro.

Minutos depois a minha amiga entra, fecha e tranca a porta e me ajuda a lavar, só de tocar em meu rosto, a água gelada me fazia murmurar de dor, Kessi pegou duas toalhas, me embrulhou em uma e colocou a outra na minha cabeça, eu nunca tinha levado uma surra em toda a minha vida, a sensação era de frustração e de ódio por não ter tido a chance de revidar.

— Toma, veste essas roupas aqui... deita pra eu fazer um curativo nesse supercílio. — Kessilly pronuncia e eu afirmo com a cabeça, me sentia derrotada.

Ela terminou de cuidar dos meus ferimentos e depois sentou do meu lado e me abraçou, choramos um pouco juntas, não sei qual seria a reação do meu pai depois disso, mas sei que a pessoa que fez vai se arrepender mortalmente de ter mexido com quem estava quieta, depois de alguns minutos em silêncio, finalmente quebrei o gelo.

— O que eu faço agora, Kessi? — Pergunto cabisbaixa.

— Me diz o que aconteceu, foi o Lúcifer? — Ela pergunta e eu apenas digo que não com a cabeça.

De onde ela tinha tirado essa ideia absurda? Acho que se o Lúcifer soubesse que tinham tocado em mim por causa do Arthur, ele iria surtar de vez, ou talvez não, já que ele provou que o amor que dizia sentir por mim não era nada, enquanto estava de papo com um bando de vagabunda.

— Foi a Paty, aquela vagabunda. — Limpei uma lágrima que insistiu em cair do meu rosto e Kessi me olhou perplexa.

— Essa maldita vai ficar careca, com certeza vai. — Kessi levanta do meu lado com sangue nos olhos e pega o telefone e eu mais do que depressa puxo ele das suas mãos.

— Não, por favor... tudo o que a gente menos precisa agora é de uma confusão, aquela desgraçada me deixou com o rosto todo fodido, e é isso que eu quero fazer com ela também, mas sem ajuda de ninguém... Vamos disfarçar um pouco com maquiagem e falar que eu cair da escada. — Digo e ela arqueia as sobrancelhas, mas concorda com a cabeça.

Minha amiga pegou suas maletas de maquiagens e fez um ótimo trabalho no meu rosto, uma maquiagem muito pesada, um reboco de parede praticamente, só fiquei com alguns traços de hematomas no rosto, mas era de noite, ninguém ia perceber.

— Eu nem deveria ir nesse churrasco, minha mãe se estivesse viva, nunca me permitiria ir em um churrasco de agradecimento, ou sei lá como chamam, mas um churrasco para comemorar um roubo que ainda nem tinha sido feito. — Minha mãe... nossa, já faz meses que não tocava no nome dela assim, estava sempre evitando falar ou pensar em como minha mãe iria se sentir se soubesse que abandonei os estudos, namorei um bandido, adotei uma criança e vivo com o dinheiro do meu pai, que por sinal é um dos maiores traficantes do Brasil... Minha vida tem sido um verdadeiro combate.

— Ai amiga, tenta não pensar tanto assim nisso... ajuda a não doer tanto. — A grávida a minha frente diz e eu limpo a lágrima que insistiu em descer.

— Kessi, eu vim pegar a capinha do meu celular que eu deixei aqui e... — Arthur entra no quarto e quando me ver sorri, devolvo o sorriso e viro de frente para o espelho, mas ele chega mais perto e vira com cuidado o meu rosto.

— O que foi isso?

Foi K.OOnde histórias criam vida. Descubra agora