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Laysa Narrando:

Kessilly gritava de dor e eu não sabia o que fazer, a favela tava sinistra, as meninas morriam de medo de invadirem a casa.

— Laysa, por favor não deixa meu irmão se meter no tiroteio, por favor. — Ela pedia chorando, agoniada.

— Não vai acontecer nada com ele — Eu dizia segurando firme sua mão.

— A Kessilly vai ter o bebê — A Dra disse.

— Que? Achei que era algum tipo de alarme falso.— A patética da Patricia fala.

— Deixa de ser burra, garota. A bolsa dela estourou. — Falei aborrecida.

— Agora não é hora de brigar, meninas. A kessilly precisa de toda ajuda possível agora, por sorte, eu trouxe meu kit de primeiros socorros, eu tenho tudo que vamos precisar. — A Dra fala colocando luvas e pegando algumas coisas que eu nunca tinha visto na vida.

— A água quente tá aqui — Samara diz e logo a Samantha chega com as toalhas.

— Ok, peguem uma toalha grande, molha na água quente e faça compressa nela, vai ajudar muito na cólica. — Ela diz e as meninas começam a fazer.

Soltei a mão de Kessilly.

— Onde tu vai? — Ela pergunta.

— Eu vou com o Arthur. — Digo firme, todas me olharam e Samantha veio até mim. — Tá decidido, fiquem com ela, eu vou com ele, a gente precisa resolver isso — falei me referindo aos tiros.

— nem imaginava que diria isso, mas, cuidado por favor. — Ela me abraça e eu pego um colete que havia lá e duas pistolas mais munições.

Deixei elas lá, antes de sair aquela cena se prendeu em minha mente: Kessilly gritando de dor em um colchão no chão, as meninas tentando ajudar e a Dra que não tinha experiência tendo pulso firme de fazer o parto, abri a porta da casa e encontrei dois caras lá na atividade.

— A senhora não pode ficar aqui não, dona, maior atividade aqui fora. — O Farinha disse.

— Cadê o Arthur? — Perguntei sério.

— Arthur foi com uma equipe pra boca, parece que a chefia dos zé quer negociar. — O outro cara responde.

— Ótimo! Chama uma equipe pra me levar pra lá, se possível avisa que eu quero um carro. — Digo firme e eles riem.

— doninha só pode tá brincando. Isso não é pra mulher não. — O Farinha debocha.

— Não é pra mulher o caralho — Puxei uma pistola e apontei pro radinho — Pega essa porra aí e liga agora.

— Já tô chamando já, dona. — Ele diz, dessa vez sério. — Já tão chegando.

A bala tava comendo solta e de cima do morro dava pra ver alguns caras caindo, olhei pro céu e mentalmente pedi à Deus proteção, o carro chegou com seis caras dentro, todos fortemente armados, saíram de lá e ficaram de frente pra mim.

— Tamo na atividade, dona. O que a senhora mandar, nós tá aqui pra obedecer. — Murica fala.

— Negócio é assim, a filha do tio Kekel tá parindo nesse momento, eu quero que cinco homens fiquem aqui de vigia e três vão comigo pra boca. — Falo e um olha pro outro. — Qual foi? — Pergunto .

— A boca tá cercada de pela, se nós for pra lá, nós tá se matando. — Murica fala.

— Quem tá com o Arthur lá? — Pergunto mil grau.

— Minha outra equipe, e até agora ninguém respondeu nada no radinho. — Ele diz, começo a suar e criar paranoias 

— Vocês três, fiquem aqui com o Farinha e o Bio. Murica e vocês dois aí, a gente vai descer pra boca agora. — Digo firme e entro no carro.

No caminho pra boca, vi alguns corpos no chão, os barulhos de tiro ainda estavam altos, no meio do caminho, cruzamos com dois policiais que começaram a meter bala no carro, dois pneus estouraram.

— Abaixa caralho, abaixa. — Murica gritava e eu não sabia o que fazer.

— Mete bala nesses desgraçados. — Um dos caras gritava também.

Meti a pistola pra fora e meti um tiro que acertou a perna de um deles. Murica me olhou e saiu do carro junto com os outros dois caras atirando nos policiais que caíram mortos, engoli a seco aquela cena, parecia um filme, mas era realidade e logo chegaram mais três policiais que trocavam tiros com dois soldados.

— Fica aí dentro, dona, não sai daí. — Murica gritou pra mim e eu me encolhi mais ainda no chão do carro, um tiro pegou no banco e eu senti o impacto, comecei a orar a deus para que tudo isso acabasse.

Um dos soldados do Murica deixou o radinho cair no banco do carro e ele começou a falar, reconheci a voz de longe, era o Arthur pedindo reforços, ele tava escondido em uma casa, e os caras estavam igual lobos atrás dele.

— Murica, Murica... A gente tem que acabar com isso, eu tive uma ideia. — Contei meu plano rapidamente pra eles e ele começou a passar o rádio pra todos os caras.

O plano era: atingir os caras de cima, eles poderiam ser bem treinados, mas não conheciam bem o morro como os nossos crias, então os caras começaram a subir nas lajes e realmente estava dando certo, eles começaram a recuar.

No radinho, Arthur disse onde estava e Murica e eu pegamos o carro de um dos moradores emprestado para ir buscar ele, chegando lá, pegamos ele e mais os soldados que estavam com ele e subimos pro morro, as ruas estavam cobertas de sangue e não se sabia ao certo quantas pessoas estavam feridas ou mortas.

— O que diabos tu estava fazendo no meio dessa merda toda, Lay? — Arthur grita.

— Eu tava tentando acabar com isso. — Falei sério.

— Acabar com o que? Que porra! Se te pegam, eles vão meter bala até pelo buraco do teu...

— Olha aqui, diferente de ti, eu controlei a situação, se eu tenho que meter a mão na merda, eu meto, cala a porra da boca, se não quem vai cravar bala pelo teu buraco, sou eu. — Falei e todos ficaram me olhando e calados.

— Desculpa, eu me exaltei. Precisamos que comecem a recolher os corpos dos nossos homens. — fala.

— A polícia do beco já começou a fazer isso — falaram.

Polícia do beco era como a gente do morro chamava pros caras que trabalham nos boxs daqui do morro, eles não eram corruptos, mas também não se metiam nos balaços que rolavam, eram imparciais.

Quando chegamos na casa do tio Kekel, Kessi ainda não havia tido o bebê e já estava fraca, não conseguia mais ter forças para empurrar a criança, quando viu o irmão entrando no quartinho, sorriu e pegou na mão dele.

— Se eu não der conta, salva meu filho, não opta por mim, opta por ele. — Ela diz, já muito fraca, as meninas já estavam todas chorando.

— Ninguém aqui vai morrer, você e o bebê estão sendo muito guerreiros e logo logo vai está tudo bem. — A Dra fala e incentiva ela a empurrar.

Não demorou muito pra ela finalmente nascer, e nem foi preciso ela dar a palmadinha, ele nasceu chorando.

— É uma linda menina, Kessilly... parabéns. — Todos chorávamos de emoção.

— Nas últimas ultrassons haviam dito que era um menino, tu tem noção que todas as coisas dela são azuis? — Só o Arthur mesmo para se preocupar com isso em um momento tão lindo.

— Stella, minha Stella. — Minha amiga chorava, e queria pegar a sua filha no colo mesmo cansada e sem forças.

Era oficial: Stella acabara de nascer.

Foi K.OOnde histórias criam vida. Descubra agora