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"Nove da manhã em num sei aonde
Tonto de champanhe com as minas que eu conheci ontem
Eu nem sei porque que eu to aqui
Era só necessidade de fazer alguém sorrir" - Start Rap.


Ret 09h00.

Cabeça doendo, estômago vazio. Me sento na cama calçando meu tênis Reebok, sem meias. Lembro que minha mãe ficava doida a quando eu calçava o tênis sem meias. Saudades é algo complexo.

Observo a negra dormindo serenamente na cama. Cristiane nunca reclama quando estou de volta ao morro, curto um baile e bato na sua porta pela madrugada afim de namorar.

Ela gosta até demais.

Levanto-me buscando a Glock em cima da cadeira, ponho na cintura e visto minha camisa vermelha.


minha cor favorita.

Ponho o boné afim de esconder o cabelo já grande, ainda hoje corto.

No meu celular havia três ligações perdidas; Ana Cláudia, ter uma irmã inconveniente é um dos meus defeitos.

Retorno a chamada, ela me atende rapidamente.

Onde você está Felipe?

Cheia de autoridade ela indaga.

— Para de gritar, por favor. Acordei agora, sua voz irrita. — Digo com a voz embargada pelo sono — Estou na comunidade desde ontem. — completo.

Aposto que ficou no baile enquanto minha mãe chamava por você a noite toda.

Ela gosta de jogar baixo. Sabe que nada nessa vida me importa mais que minha mãe.

— Ela nem fala, Ana. Não diga besteiras. — Suspiro — Tá falando como se eu não me importasse, quem tá pagando quase sete mil de hospital sou eu. Não é teu maridinho, não. — Digo irritado.

Mário não tem nada com isso, mania de implicar com ele. Não tô dizendo que você não se importa, eu s....

— Fala logo, cara.

Ordeno sem paciência alguma. A negra já havia despertado, estava sentada me encarando sem entender muito bem o teor da conversa.

Vem almoçar comigo, aí mais tarde eu vou buscar a mamãe e você vê se sossega um pouco aqui com ela.

— Beleza. Só vou passar em casa pra tomar um banho.

Faz esse favor, deve está fedendo a puta.

— Igual ao teu maridinho que vive te traindo, corna.

Ah, vai se ferrar, Felipe.

Dito isto, desliga. Guardo meu celular e termino de me ajeitar. Ao menos o rádio comunicador não encheu o saco, o que significa que a comunidade estava tranquila, como sempre desde que assumi; a cinco anos atrás.

A prioridade aqui não é só o dinheiro que entra ou sai feito água, mas os moradores. Se quem mora aqui não sentir confiança, quem mora no asfalto nunca subirá para adquirir as mercadorias.

CDC - Concluída.Onde histórias criam vida. Descubra agora