Rael

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Eu não estava conseguindo processar todas aquelas informações que a Isabela estava me falando. Soquei o volante mais uma vez e forte demais fazendo a Isabela até tomar um susto. Ela tentou me segurar mas eu não queria que ninguém ficasse com peninha. — Tu sabia dessa porra desde quando?

— Desde ontem, Rael — respondeu — Eu não tive culpa.

— Puta que pariu — respirei fundo. — Você não me contou ontem mesmo porque, Isabela?

— Rael, eu não sabia sua reação. Vitória tinha prometido que se eu fechasse a boca ia ser a última vez que ela faria um troço assim. Eu pensei inocentemente que ela tinha se tocado, que ia parar de filha da putagem mas não parou. Ela continuou e o pior, dormiu ontem na casa do Bernardo e quando eu descobri ela veio pagando de santinha delibitada. "Aí meu deus como o Rael me trata mal"

Eu respirei fundo e tentei digerir as coisas que a Maria Vitória estava falando nas minhas costas. Mas também não estava conseguindo engolir a Isabela e nem ninguém. — Isabela, me deixa sozinho.

— Beleza, nego. Se quiser desabafar é só me ligar — ela comentou e eu esperei ela sair para partir com o carro. Se tinha algo que eu gostava de fazer quando a raiva me batia era ir para a praia. Peguei essa mania de moleque com o meu pai. Ele sempre desabafava na praia e também era meu lugar favorito. Eu estacionei o carro ali e fui para a areia da praia, parei num quiosque e pedi uma cerveja. Fiquei olhando para as ondas do mar, pensativo como sempre até meu celular começar a apitar.

📲 — Mensagem (2)
Vita: Eu tô na porta do seu apartamento, Rael.
Vita: Eu quero falar com você, cara. Desce, por favor.

Bloqueei o número dela para ela parar de me mandar mensagem e parar de me ligar. Tinha duas ligações perdidas dela e eu não queria escutar ninguém. Paguei minha cerveja, entrei no carro e parti para o trabalho da minha mãe. Só ela poderia me escutar nesse momento. Eu nem me apresentei lá para a secretaria e já sai quase entrando. Ela estava grávida de seis meses e com uma barriga já considerada mas não parava de trabalhar. Ela desligou o celular assim que me viu.

— Filho — ela me deu um beijo no rosto — O que aconteceu, Rael? Que cara de enterro é essa?

— Vitória, mãe.

— O que essa garota fez? — minha mãe suspirou — Te deu um chá de — ela notou que ninguém vinha — Um chá de buceta que nem eu dei para o seu pai uns anos atrás.

Eu fiz careta e soltei uma risada fraca — Que nojo.

— Eu e ele éramos mais rápido que você e João — Ela comentou para descontrair — Vocês vieram de uma transa bem lentinha pra serem tão lerdos.

— Vitória me traiu.

Minha mãe não demonstrou surpresa. Eu estranhei enquanto ela continuava me olhando. — Você tá chorando por causa dessa garota, Rael? Eu não botei você no mundo, sofrendo as noites em clara, morrendo de dor pra você me falar que tá chorando por aquela garota — ela deu uma risada fraca enquanto eu continuava em silêncio. — Você puxou sua mãe mesmo. Trouxa demais.

— Me ajudou muito, mãe — fui irônico enquanto fungava.

— Você quer colo de mamãe, né? — ela perguntou e veio me abraçando. Mexendo no meu cabelo. Minha mãe era a mulher mais foda que eu conhecia. Não me imaginava me casando e tendo família com alguém que fosse diferente dela. — Não chora, amor.

— Tá foda, mãe. Eu gosto dessa vagabunda.

Ela levantou a sobrancelha — Ensinei você e o João a nunca tratarem uma mulher mal ou xingar desnecessariamente alguém, mas sinceramente, ela tá merecendo — bufou — Quem ela pensa que é pra trair meu filho? Ela é maior de idade já, né? Vou meter a porrada.

Eu dei uma risada — Para de caô, mãe.

— Vai pra casa, toma um banho, relaxa que eu falo pro seu avô sobre hoje. Não precisa vir trabalhar — Ela ajeitou meu cabelo. — Eu falo com ele.

— Tô afim de dormir a tarde toda mesmo. Sem clima.

Engoli em seco e ela me deu um beijinho. — Pode ter certeza que foi livramento, amor. Você sabe que eu sempre fui contra esse namoro mas pra ver um filho feliz uma mãe passa por cima até do próprio orgulho.

Eu marquei um dez ali com a minha mãe e depois eu me despedi com um beijo na bochecha. Fui para casa e torci para a Vitória ter desistido e ido para a casa. Por sorte, ela não estava mais la. Subi pro meu apartamento e quando entrei em casa encontrei a Eduarda cantando alguma música dos anos 2000. Ela nem notou minha presença, só notou quando a porta fechou e ela tomou um susto.

— Puta merda — ela botou a mão no coração — Tu não viu essa vergonha né?

Eu dei uma risada fraca — Só não gravei porque estava sem o meu celular aqui.

— Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou para mim e eu neguei com a cabeça. Na real, tinha acontecido tudo mas eu não ia desabafar com ela que não tinha nada a ver com essa história.

— Se a Maria Vitória bater por aqui diz pra ela se fuder.

— Ah, isso aí nem precisava me mandar — Eduarda comentou sarcástica. — Opa, desculpa.

— Sem sarcasmo — debochei.

Fui pra o meu quarto. Taquei minha mochila no chão e tomei aquele banho para relaxar. Fui para a minha cama e deitei. Deitei e descansei a tarde toda porque eu estava com a cabeça pegando fogo de tanto estresse. Acordei por volta das seis da tarde. Tinha dormido tanto que acordei até sem sentido. Fui até a cozinha e a Eduarda estava terminando de fazer uma comida. Eu senti o cheiro de massa e já me embrulhou o estômago. Estava só com a comida do café da manhã.

— Sua mordomia vai acabar — Eduarda puxou assunto comigo. — Amanhã eu faço uma entrevista de emprego.

— Sério! Maneiro — comentei, fingindo entusiasmo porque na real eu queria estar muito dopado.

— Em pouco tempo já não vai mais ver uma menina cantando música dos anos 2000 e calcinhas espalhadas pelo apartamento — ela comentou.

Eu ri — Eu sou irmão do João, sempre tem calcinha pelo apartamento.

— Não vai mais ter as calcinhas da Eduarda então — ela riu. — Tá bolado com alguma coisa?

Eu neguei com a cabeça. Queria deixar isso quieto. — Tem certeza?

— Tenho — respondi meio ríspido e ela levantou a sobrancelha entendendo que eu não queria conversar. Eu fiquei ali um tempo pensando em tudo. Eu tentava processar tudo que aconteceu naquele dia. Tinha desligado meu celular a tarde toda para ninguém me ligar, ninguém me mandar mensagem e poupar hipocrisia.

— Puta que pariu. Eu sou uma anta! — Eduarda comentou irritada e eu comecei a sentir o cheiro de queimado. — Eu queimei a porra da lasanha.

— Lasanha? — Eu perguntei curioso — Eu só não resmungo porque não tenho força pra isso. Minha comida preferida.

Ela resmungou por si só e pegou a maçã toda queimada da lasanha. Eu dei uma risada fraca enquanto ela tentava tirar aquilo que ficou grudado. — Como é que eu faço? — ela apontou para o tabuleiro e me olhou.

— Ué, tá perguntando pra mim? Minhas comidas chegam tudo de ifood — ri — Se arruma ai, vamos dar uma saída.

— Hã? — ela perguntou até meio assustada — Tu tá me chamando pra sair?

— É, ué — Dei de ombro. Ela suspendeu a sobrancelha de forma irônica.

— Sua namorada vai surtar e me chamar de piranha para baixo? — ela perguntou.

— Não, eu não namoro mais ela.

— Então, eu não nego comida e vou mesmo. Ainda mais se você pagar.

Eu dei uma risada sarcástica — Ô, eu sou o Rael. Teu manda chuva é o João. Ele que faz tuas vontades todas. Não se acostuma.

Me encantou demaisOnde histórias criam vida. Descubra agora