Giulia

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Marcelo era meu amigo de anos. Estudávamos juntos no ensino fundamental e é um dos poucos que eu levei pra a minha vida externa depois da escola até porque as amizades da escola acabaram parando por lá mesmo. Não quis levar muitas para a minha vida pessoal porque considerava amizades fracas e muitas delas eram amizades de fachada. Não queria essa vibe pra a minha vida adulta. Marcelo foi um dos únicos que eu trouxe até hoje comigo e eu gosto pra caralho desse filho da puta. Percebi que eu estava meio que empatando a conversa dele com a Eduarda e sai da piscina, peguei uma carne na bandeja e quem estava cortando a carne era justamente o João. — Quer que eu corte uma com gordura pra você? – ele perguntou pela primeira vez até direcionando a palavra a mim. Levei até um susto, mas concordei. Amava carne com gordura.

— Não vou nem negar porque amo uma gordura — eu comentei e ele tirou aquela carne suculenta da churrasqueira e eu senti aquele cheiro gostoso de carne invadir minhas narinas. Ele cortou a carne e eu besliquei algumas.

— Eu pensei que você fosse toda geração saúde, comer bem, três castanhas por dia...— ele me zoou e eu dei uma risada.

— Eu sou, mas não resisto a uma carne gostosinha e suculenta, né? – resmunguei e lambi até os dedos por conta daquela carne.

— Pega lá um prato pra você que eu boto as carnes — ele me olhou e eu não pude deixar de notar que ele também estava olhando para o meu corpo. Claro que ele não ia perder a oportunidade. Ele era uma Ackler. Minha mãe disse que o pai dele na época dele era até pior.

Eu me dirigi até a parte externa da casa do Celin e peguei um prato, voltei pra a churrasqueira e o João pegou o prato da minha mão e encheu de carne. Botou tanta carne que eu acho que eu fui o ser humano do churrasco que mais comeu carne. Eu me aproveitei, me sentei ali e comi até o cu fazer bico. João deu um tempo na churrasqueira e se sentou ao meu lado, roubando algumas carninhas minhas. — O mais engraçado é que a gente nunca se falou de fato.

— Aham — eu concordei — Já devo até ter falado com você, mas porque pensava que era o Rael. — respondi sincera e ele levantou a sobrancelha ofendido.

— Só falaria comigo se eu fosse o Rael, é? — ele comentou com um tom suspeito e eu neguei com a cabeça.

— Não, não é isso. É que o Rael sempre pegava o elevador justamente na hora que eu chegava do trabalho — comentei tentando me defender. Só falta ele achar também que eu quero pegar o Rael. Creio em Deus pai.

— Já saquei — respondeu — Então, se trombar comigo no elevador tu vai falar, né? — ele perguntou com um riso frouxo do lado do rosto e eu soltei uma risada sem jeito.

— Teria motivos pra não falar com você? Se você não me fizer nenhum mal.... — eu enfiei uma carne na boca. Puta que pariu. Poderia ser interpretado de duplo sentido e conhecendo o João como eu penso que conheço ele realmente ia interpretar com aquela mente safada dele de outra forma. — Mas me conta, João. — cortei o assunto. — O que você faz da vida?

— Estudo — respondeu — Não tenho saco pra trabalhar com o meu avô. Ele sempre vai jogar na cara que eu sou que nem meu pai, descompromissado, não puxei a veia da advocacia e dos negócios e a puta que pariu — bufou — Eu queria trabalhar em algo que eu não precisasse ver meu avô.

— Putz, tenso, viu? — comentei sem saber o que responder.

— Você é do tipo que se intromete na alimentação dos outros? — João me perguntou em um tom divertido e eu olhei sem entender mas com um sorriso.

— Como assim?

— Tipo aquela blogueira lá que fica se metendo no que os outros estão comprando pro café da manhã — ele riu — Se você visse a geladeira lá de casa antes da Eduarda aparecer....

— Nem imagino — ri — Só comiam porcaria, né?

Ele concordou com a cabeça — É bom ter uma nutri perto da gente, e melhor, do lado do nosso apartamento. — ele comentou e deu uma piscadinha. Estremeci. Mas dei o meu melhor sorriso.

— Sempre quando precisar de ajuda é só bater na casa ao lado — respondi no mesmo tom que o dele para ver se colava alguma coisa. — Eu moro la sozinha, é bom me dar bem com os vizinhos caso algum doido tente invadir meu apartamento.

Ele riu — O doido pode ser gemeo. — ele riu.

— Rael não ia invadir meu apartamento — comentei rindo.

— Quem disse que eu falei do Rael? — ele levantou uma sobrancelha. Caralho, o João estava jogando verde pra colher maduro. Logo comigo.... a que adora uns verdes. Eu fingi que aquilo não foi nada, aliás, morri de vergonha e eu acho que ele notou que eu fiquei sem gracinha. Odiava ficar assim na frente de alguém. — Mas é bom fazer amizade com alguém do prédio mesmo nem que seja para buscar papel higienico.

Eu dei uma risada e a Lia apareceu do nosso lado. Eu vi que ela estava deslocada para caramba e gritei o nome dela. Ela veio até nós dois — Senta aí com a gente. O povo tá tudo de panelinha.

Ela riu e puxou um banco para se sentar com a gente — Ah, fiquei meio deslocada. Rael e Isabela estão fumando e a Eduarda e o Marcelo no maior papo na piscina...

— Você cursa o que? — eu perguntei.

— Psicologia.

— Ótimo — sorri — Temos nutricionista, psicóloga e advogados aqui. Podemos até nos meter em barraco porque tem alguém para nos defender — olhei para o João que levantou a mão.

— Ih, nem vem. Não vou cobrir os barracos de vocês não.

Eu e Lia começamos a rir da cara que o João fez. — Conta outra, João. Tem mó cara de quem curte uma tretinha também.

Ele riu — Que isso, Giu. Sou super calmo.

— Nem parece — Lia comentou. Na verdade, foi uma das primeiras falas que eu escutei dessa menina. Talvez ela seja tímida e só estava procurando uma situação para se chegar mais a todo mundo. Ficamos ali conversando e estávamos num papo bom enquanto o clima lá na piscina não estava tão bom. Rael estava se mordendo de ciúmes e eu até gostei de ver ele assim.... Adoro ver homem que diz que não tem ciúme, que pega quem quer na hora que quer se morrendo de ciúmes quando outro cara invade o território dele.

Me encantou demaisOnde histórias criam vida. Descubra agora