Eduarda

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João me deixou na porta do escritório. Me inclinei para dar um beijo em sua bochecha e ele me puxou para perto dele pela cintura, colou seus lábios na minha bochecha de uma forma que me deixou intimidada pra caralho. Tirei o cinto tentando não demonstrar que fiquei meio balançada e abri a porta do carro me despedindo com um aceno. Por sorte tínhamos passado em casa e eu tinha pego a minha saia de trabalho que ficaria com a blusa que eu fui pra faculdade mesmo. Eu fui até o banheiro da empresa, vesti a mesma e fui para a minha mesa. Eu foquei no trabalho para não focar em nada mais.

— Eduarda — Rael cortou meus pensamentos — O cliente de Niterói ligou?

Eu neguei com a cabeça — Seu Hélio? Não deu notícia.

— Hm. Beleza! — ele respondeu curto e grosso. Eu olhei ele se afastar só pensando em quanto aquele moleque era bipolar. Ficamos ontem num clima que eu considerava até um clima bom para o que a gente tinha vivido em pouco tempo. Mexi lá no computador digitando qualquer porra só para distrair minha cabeça. O Rael me pediu um documento quase na hora de ir embora, peguei a pasta, entrei no elevador e cheguei na sala dele. Ajeitei a saia e bati na porta.

— Entra — ele respondeu. Eu entrei e ele estava no telefone. De costas com uma carinha de sério que me deixava intrigada pra caralho. Ele tinha aquela pose de responsável mas ao mesmo tempo de safado que comia quieto que me deixava as vezes viajando na barba mal feita dele e aquele terno que deixava ele um gato. Ele desligou e viu que eu estava ali viajando — Me entrega a pasta do dia sete, por favor.

Eu entreguei a pasta para ele, mas ele não me dispensou. Continuei ali. Ele deu uma conferida e achou o papel que ele queria. Digitou alguma coisa no notebook e virou o olhar pra mim — Almoçou bem?

— Aham — respondi enquanto ajeitava minha saia que subia o tempo todo. Já era tarde. Ele já tinha descido o olhar para as minhas pernas e secava com vontade.

— Eu torci para você se engasgar com a comida. Não foi dessa vez — Rael disse com aquele tom ácido dele e eu dei uma risada debochada.

— Que bom. Eu tive um almoço maravilhoso com a pessoa maravilhosa que é seu irmão — respondi e ele ajeitou a gravata meio nervoso. —  O que foi? Tá incomodado?

— Vai se catar, Eduarda — ele riu — Agora vaza que eu tenho trabalho.

— Grosso — revirei os olhos e sai da sala dele quase jogando a porta embaixo. Chato pra caralho. Não conseguia ter mais de dois minutos de conversa com o Rael porque ele era muito temperamental muito estressadinho e isso me deixava muito puta.

Terminei meu trabalho por volta das seis da tarde, arrumei minhas coisas na mesa e desliguei as luzes. Chamei o elevador e desci até o estacionamento. Rael não tinha me oferecido carona e eu não ia ficar igual uma idiota pedindo carona a um cara inconstante pra caralho. Sabe o que era o pior? Eu tinha transado com ele ontem mesmo e agora estou aqui parada no ponto de ônibus cuspindo no prato que gostei bastante. Escuto uma buzina e olho para o lado. O carro preto do Rael abaixou o vidro e eu vi a cara de sem vergonha dele dentro do mesmo. — Bora, Eduarda.

Tinha umas meninas que tinham acabado de sair da faculdade e ficaram com a pepeca piscando quando viram o Rael e o carro dele. O Rael era gato mesmo e chamava bastante atenção, mas ele não me compraria fácil. Foi um escroto comigo e acha que vai ficar assim mesmo. — Pode ir, Rael William. Eu não preciso da sua carona — respondi debochada e ele bufou. Com certeza foi pelo Rael William.

— Entra logo, Eduarda. — ele respondeu meio impaciente e abriu a porta do carro.

— Eu não vou, Rael. Pode ir embora que eu vou de ônibus....

Ele procurou um lugar para estacionar e saiu do carro muito puto. Ele atravessou a rua e parou na minha frente e na frente de todo mundo que esperava o ônibus junto comigo. — Bora, Eduarda.

— Pô, ela não quer — um cara se meteu.

— Entra no carro, Eduarda. Tá tarde... — ele ignorou o maluco que falou com ele e eu bufei.

Atravessei a rua junto com ele e entrei no carro. Ele partiu com o carro e eu fui o caminho todo em silêncio. Sei lá, não queria muito assunto com o Rael até ele parar de ser tão escroto. — Qual foi? Tá puta comigo por causa da brincadeira do escritório?

— Você é assim comigo sempre, Rael. Eu nunca sei quando é brincadeira.

— Hm — grunhiu — Tu almoçou com o João hoje?

Eu concordei com a cabeça. Ele queria assunto porque já sabia que eu tinha almoçado com o irmão dele.

— Vieram me perguntar se vocês estavam ficando — ele jogou um verde. Ele estava jogando verde para a pessoa que mais jogava verde na história.

— De tanto verde que tu joga daqui a pouco tá maduro — respondi sarcástica — O que tem? Eu poderia ficar com o João.

— Formaria um bonito casal — Rael respondeu mas sempre com aquele ar ácido dele. Garoto chato.

— Só que ele é meu melhor amigo.

— Ah —  Rael dobrou a rua e quando parou no sinal me deu uma olhada. — Então não rolaria nada?

— Por que? — Levantei a sobrancelha e ele me encarou com aquele sorrisinho.

— Curiosidade.

— De curiosidade morreu o gato.

— Mas o gato aqui ainda tá vivo — ele piscou e deu aquele sorriso que me deixava toda cheia dos nhenhenhe. Não era paixão, era óbvio, mas ele me atraía demais.

O carro parou no prédio, nos descemos, chamamos o elevador e chegamos no apartamento. O apartamento ainda estava trancando, então, o João ainda não tinha aparecido por aqui ou então saiu para algum canto. Rael acendeu a luz da sala e eu joguei minhas coisas na sala e tirei aquela sapatilha que apertou meus dedinhos.

— Bota esse troço aí, cheia de chulé — ele riu e zombou do meu chulé.

— Nojento. Você que tem um chulé brabo — resmunguei.

— Vou fazer alguma parada pra gente comer. Quer o que? — ele perguntou e eu dei de ombros.

— Qualquer coisa pra comer.

— Pode ser você? — sua piadinha duplo sentido ecoou na minha cabeça que estava cheia de papéis e coisas da faculdade. Eu mandei o dedo do meio para ele que deu uma risadinha. — É gastaçao.

O João apareceu ali no exato momento que o Rael disse isso. Com a maior cara de sono do mundo. Ele tinha trancado a casa e desligado tudo porque estava dormindo. — O que é gastação?

— Nada não, mano. Relaxa — Rael soltou a risadinha dele e o João se sentou ao meu lado. Puxou minha perna para o colo dele e batucou na minha coxa.

— Que isso, Duda. Esse coxão todo e eu dormindo em um duro — João comentou em tom de brincadeira e eu fiquei vermelha. Era a diferença da brincadeira do Rael para o João. Eu morria de vergonha do João mas não do Rael.

Rael soltou uma risada irônica da cozinha e eu escutei. — Coitado de você que vai dormir com essa garota. Ela ronca.

João suspendeu a sobrancelha com um sorrisinho — Porque você já dormiu?

Me encantou demaisOnde histórias criam vida. Descubra agora