Ela continuou me olhando com aqueles verdes penetrantes dos seus olhos e meu coração vacilou um pouco. Porra, eu já sabia o que estava se tornando e eu não queria cortar o clima ou acabar de vez com que nós tínhamos porque eu gostava demais dela. Ela puxou meu rosto para colar nossos lábios e alguém arranhou a garganta e a gente se separou para ver quem era. Meu pai.
— Estava te procurando, filho! — Ele comentou com aquele sorriso debochado nos lábios. Eduarda botou a mão no rosto para poder se esconder e meu pai queria rir da cena.
— O que aconteceu? — Perguntei.
— Seu avô me mandou uma mensagem agora pedindo para a gente ir no escritório. Parece que aconteceu alguma coisa muito séria por lá e pediu que todos estivessem presentes.
Eu soltei o ar que carregava comigo. Já havia algum tempo que eu notava que os negócios do meu avô iam de mal a pior e ele com certeza já estava mais afundado em dívidas do que poderia imaginar. Meu pai está segurando a barra até porque ele criou o próprio escritório que trabalha de parceria com o meu avô, mas de qualquer forma, eu não trabalho diretamente para o meu avô.
— Tudo bem, pai. Você pode me dar cinco minutos que eu já desço? — Eu perguntei para o mesmo que concordou com a cabeça.
Ele era meu pai, meu melhor amigo, mas também não conseguia manter a língua dentro da boca quando era para fazer alguma piadinha. Por mais que, a Duda estivesse vermelha querendo se matar por ter sido flagrada comigo com certeza, ele não poderia perder a piada.
— Ô filho, me espera chegar aos quarenta e nove pelo menos, não quero ser avô antes dos cinquenta.
Eu dei uma risada nervosa porque sabia que a Eduarda só queria morrer ali de baixo de mim. Eu dei uma risadinha de leve. — Tudo bem, pai. Tô descendo já.
— Em cinco minutos você pode fazer um neto, se arruma logo. — Ele comentou e deu uma risada quando saía do meu quarto. Maria Eduarda reprimiu um suspiro e um grito de "puta que pariu" e eu dei uma risada.
— Você imagina o que seu pai está pensando, Rael? Que eu sou uma safada que dá para o filho dele.
— Não mentiu — Dei de ombros e ela me deu um tapa no mesmo. Eu resmunguei.
— Eu to com vergonha, Rael William. É sério — Ela resmungou — Não sei como vou descer e encarar seus pais.
— Com as pernas e com os olhos — Debochei e ela me mandou o dedo do meio. Eu dei uma risada e botei uma roupa melhor, tinha um terno do meu pai, então decidi botar esse mesmo. Quando descemos, cumprimentamos quem estava lá embaixo e com certeza meu pai já tinha contado do incidente lá em cima porque todo mundo olhava para a nossa cara com a maior expressão de malícia. Eduarda quase se enforcou ali mesmo.
Quando entramos no carro, ela soltou o ar e botou a mão no rosto. — Imagina o que seus pais estão pensando? Que a gente transa.
Eu dei uma risada. — Meu pai era bem pior do que eu, e te garanto, minha mãe era pior do que você.
Ela resmungou — Mesmo assim me da uma vergonha absurda.
— Relaxa, não se preocupa que meus pais são super de boa com isso. Contanto que eu não dê netos antes dos cinquenta para eles não importa nada — Eu pisquei e ela deu um sorrisinho.
— Seus pais são bem conservados para a idade que tem, sabe? Bem novinhos.
— Fala isso não que minha mãe vai ficar se gabando. — Eu respondi com uma risada.
Eu tive que deixar a Eduarda em casa e depois partir para o meu trabalho resolver sabe-se lá deus o que com o meu avô. Quando estacionei em frente ao prédio, a Duda se inclinou e me surpreendeu com um selinho rápido, nem falei nada, deixei ela sair do carro e fiquei observando. Parti para o meu trabalho e quando cheguei no escritório já vi o péssimo clima que estava.
— Então, convoquei vocês aqui para um comunicado: Nós iremos fechar.
Eu olhei para o meu pai e para o meu tio que faziam a mesma expressão, fria e calma. Eu não estava entendendo como poderiam estar assim nesse momento. Até o João que nem trabalhava ainda efetivamente no escritório estranhou o que meu avô tinha acabado de falar. Todos ficaram falando ao mesmo tempo. — O meu escritório, Ackler, irá fechar. — Meu avô foi breve. Não se explicou, só jogou a merda no ventilador e foda-se. Eu respirei fundo e foquei na caneta na minha frente.
— Mas, como ficaremos? — Um advogado perguntou, com a mesma expressão.
— Alguns terão que ser demitidos e outros, trabalharão com meus filhos Dante e Danilo — Apontou — Eu estou fechando minhas portas devido a problemas internos.
Eu dei um gole na água para não abrir minha boca. Devido a problemas na justiça, diga-se de passagem.
— Eu não acredito — Jonas, um cara que trabalhava a anos lá, bufou. — Você vai nos abandonar no olho da rua depois de tantos anos de trabalho, Paulo?
— Muitos de vocês são competentes, alguns, nem sei porque estão aqui se tratam a profissão como uma questão pessoal e não profissional — Ele encarou minha mãe, nesse momento, eu dei mais um gole na água porque se não ia dar muita merda.
Minha mãe olhou com um certo deboche. Eu amava uma mulher na altura dos seus quarenta anos debochando do sogro como se ainda tivesse vinte anos, o melhor de tudo isso era que ainda sim ela era uma mulher e tanto.
— Vamos falar de questões pessoais, Paulo? Sua briga comigo é por defender judicialmente aquela secretária dos abusos que o seu colega, amigo e seja lá o que for de profissão? Então, trate isso como uma questão pessoal. Eu trato o lado da justiça e você, o lado que lhe convém.
Meu pai deu um sorrisinho. Meu tio arregalou os olhos e eu comecei a rir vendo a cara de idiota que meu avô ficou.
— Pensei que fosse mais esperta, Leticia. Sabemos que você que defende o que lhe convém, o processo não foi para frente porque não ouve provas. Sabemos muito bem o que essas secretarias de merda procuram da gente.
Quem via meu avô defendendo alguém no tribunal nem imaginava o quão podre ele poderia ser. Ainda mais quando sabia que não perderia nada. Minha mãe ia retrucar. Aquilo estava mais para briga de família.
— Faltaram provas porque seu amigo tem dinheiro suficiente para persuadir as testemunhas, não porque minha mulher é incompentente — Meu pai cortou a resposta da minha mãe. Ele estava fervendo de ódio. — Se não fosse pela Letícia, há muito tempo, seu escritório já estava jogado ás traças porque por mim você poderia apodrecer dentro desse lugar sozinho, você e seu ego. — Meu pai soltou — Eu não preciso de você para nada, pai. Nem eu, nem minha esposa e nem meus filhos. Eu construí tudo sozinho.
— Que metade foi graças a mim. Graças a ser meu filho — Ele rolou os olhos.
— Pai, o Dante tem razão — Meu tio comentou — Você não percebe o quão irracional está sendo? Por favor, se não fosse pelo William Ackler, escritório do Dante, gente estava no limo.
Eu não estava aguentando mais aquela confusão toda. Ficar perto do meu avô me trazia momentos que eu odiava, quando ele nos negava, falando que não éramos os netos dele de fato porque éramos filhos da mulher que ele negava ser nora dele. Milhares de coisas, eu odiava ficar perto dele. Minha vó era perua, porém, menos complicada.
Quando eu saí da sala encontrei meu pai bufando com a mão no rosto e minha mãe abraçando ele de lado.
— Você vai dar conta, amor. Não tinha mais como compactuar com as sujeiras que seu pai estava armando. Você é bom, ótimo advogado e um marido maravilhoso. Só não se calou — Ela abraçou ele e eles ficaram um tempo ali abraçados. Peguei um café e fiquei olhando de longe.
Meus pais eram uma inspiração. Se um dia acreditei em família, amor, filhos e acordar com uma pessoa do lado é justamente por ter tido o melhor exemplo dentro de casa.
Eu nunca pensei em ter família, em ter alguém para ficar o resto da vida, mas quando os olhava, me batia um certo ciúmes. Meu celular apitou.
💌 (1)
Duarda: Quando você sair daí e se quiser vir para casa eu estarei te esperando.
Duarda: Quer comer lasanha?
Rael: Eu tava precisando mesmo, Duda. Valeu! ❤️
Duarda: Vou fazer uma lasanha então ☺️
Duarda: Você não precisa agradecer. Tá tudo bem!
Rael: Você não sabe o quanto eu to precisando de você agora.
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Me encantou demais
FanfictionSEGUNDO LIVRO DA TRILOGIA ''OS ACKLERS'' + 16 || Nesta história, Eduarda busca um novo estilo de vida diferente do seu estilo pacato no interior de Minas Gerais. Uma menina criada com todos os conceitos de menina de cidade pequena, muda para o Rio d...