Capítulo XXI ● Youngjae

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— Por que vocês decidiram falar sobre a guerra dos canudos? — Jaebeom pergunta do colchão no chão onde estava deitado, lugar onde ele tem dormido desde que chegou aqui. Eu não faço questão de responder assim que a pergunta é feita, me encontrava perdido demais na minha própria imaginação para fazê-lo, e sei que Jaebeom não se importa com isso.

Eu ora imaginava um céu estrelado acima da minha cabeça, sem nuvens, apenas estrelas, e ora criava uma forma de ir mais longe, para um lugar fora da terra, fora do nosso sistema solar, distante, tão londe que nem dá para observar, perdido em lugar nenhum. Acho que Jaebeom também está olhando para o teto que eu encaro sem ver, vendo as milhares de estrelas que brilham no escuro que tem coladas em todo ele, estrelas que eu nunca vi, mas imagino. Fico feliz que ele possa vê-las, é a atenção que elas merecem receber.

Gosto da forma como nós agimos agora, eu e ele. Ele parece não ter mais medo de falar comigo, embora ainda tenha um pé atrás para falar com meus pais, principalmente com SonHee, mas ele sempre responde quando eu o chamo aleatóriamente no meio da noite só para falar sobre coisas que antes eu não tinha para quem contar, pensamentos tão aleatórios que até me surpreendo com o fato de ele nunca rir de nenhum deles. Ele não ri, ao invés disso ele escuta, atentamente, e sempre comenta coisas mais aleatórias ainda por cima. É tão engraçado a forma como ele me entende de verdade, além de Yugyeom, ninguém nunca entendeu.

Eu acordo para conversar com ele de madrugada também, ele sempre acorda no meio da noite por culpa dos pesadelos, mas nunca me chama, sempre tentando esconder sua dor, não sei se de mim ou dele próprio. Mesmo assim, ele me chamando ou não, eu sempre sei quando ele precisa conversar, assim como sei quando precisa apenas de alguém ao seu lado, em silêncio, mostrando que ele não está sozinho.

Jaebeom é forte, a presença dele é marcante, segundo Yugyeom ele tem o estilo de um bad boy de filmes americanos, com piercing e tudo. Porém, esse não é o Jaebeom que eu conheço, acho que esse Jaebeom bad boy é o ele que ele quer que as pessoas vejam, mas eu não estou incluso nessas pessoas. Eu conheço o Jaebeom de verdade, o Jaebeom doce e gentil, que é como SonHee contava antes de eu o conhecer de fato, o garoto que sempre, sempre mesmo, fazia de tudo para que os outros se sentissem bem. A versão de si próprio que ele me deixa ver é a versao que ele era quando as coisas não eram completamente ruins. Em troca, mostro a ele a versão mais verdadeira de mim mesmo, aquela que quase ninguém conhece.

— Yugyeom achou o nome engraçado, por isso a gente decidiu fazer sobre ela. Ele quem vai fazer os slides, então com certeza vão ter tartarugas envolvidas.

— Vai ser engraçado, queria poder estar lá pra ver.

— Queria que você estivesse lá também. — Sorrio, involuntáriamente, só porque Jaebeom me faz sentir assim, leve. Não sei se eu faço ele se sentir da mesma forma, feliz e aquecido, como chocolate quente em tardes frias, mas espero do fundo do coração que a resposta seja sim, que ele veja em mim o mesmo que eu vejo nele, mesmo que eu não possa ver de fato. — Prometo te mostrar os slides depois, ai você me diz se tem tartarugas ou não.

— Certo, eu vou cobrar.

— Dou minha palavra de escoteiro.

— Você já foi escoteiro?

— Claro que não. — Ele ri com isso e eu gosto do som da risada dele, é rouca e melodiosa, bonita como eu imagino que ele seja. Queria poder ouvir o som da risada dele com mais frequência, obvio, fico satisfeito em poder ouvir suas risadas nas noites em que passamos acordados apenas apreciando a presença um do outro, porém, queria que o mundo todo pudesse ouvir como Im Jaebeom e sua risada são incríveis.

É bom ficar em silêncio com Jaebeom, não é desconfortável nem incômodo, é apenas... Silencioso. Gosto de dividir esses momentos com ele, nós dois perdidos dentro de nossas próprias mentes, vagando por ai, bem longe, mas ao mesmo tempo perto, estando aqui e ao mesmo tempo não estando de fato. E eu não sei o que ele pensa no silêncio, talvez fique revendo as memórias que tem com o pai na própria cabeça? As vezes ouço o choro baixinho que ele tanta esconder de mim, mas eu percebo, sempre percebo, e nessas horas a única coisa que eu queria poder fazer é abraçar ele até que a dor vá embora, mas eu não posso, infelizmente.

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora