Capítulo XLVI ● Youngjae

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— EH EH OH, VIDA DE GADO... — Grito o mais alto que consigo, tentando lembrar o resto da música, mas sem sucesso. Estamos aqui a deriva no lago ao que me parecem anos, me sinto exausto, estou com calor, com sede e acho que estou começando a delirar. Não como nada a dias, meu estômago ronca e está quase criando pernas e indo sozinho de volta a margem, e eu sinto minhas forças indo embora. Acho que não vou sobreviver. Acho que este é meu fim.

— Você é o amor da minha vida, mas estou por um fio de virar esse caiaque de propósito e fazer você calar a boca com água. — Jaebeom resmunga lá da frente, ele ainda não parou de reclamar sobre como o ombro dele está doendo e como ele só queria ir pra cama dormir e como ele vai esganar o Bambam quando voltarmos pra margem por ele saber que eu tinha perdido meu remo e não ter me dado um novo. O engraçado é que ele não coloca a culpa de nada em mim, sendo que eu sou o maior culpado.

— Tenho que fazer algo para passar o tempo, estamos aqui a dias.

— Não se passaram nem 10 minutos, Youngjae. — Jaebeom se mexe no lugar dele e eu sinto o barco balançar. Me seguro nele como se minha vida dependesse disso, até que ele para de balançar e eu sinto os olhos do Jaebeom em mim. 

— 10 minutos? Mas me pareceram 1000.

— O tempo não tem culpa se você é hiperativo demais e não consegue ficar quieto em um só lugar por 10 minutos. — Eu bufo indignado. Eu? Hiperativo? Mas eu sou a pessoa mais calma que eu conheço. Sou zen, quase um monge.

— Isso me pareceu um julgamento, por acaso você me odeia?

— Não, mas bem que eu queria. — Abro a boca, indignado, e Jaebeom ri, se divertindo com a minha cara provavelmente.

— Machista, Homofobico, vou te denunciar pro ibama por maltrato aos animais.

— Estou no aguardo.

— Idiota. — Dou uma risadinha e Jaebeom também. Pelo menos eu não estou aqui sozinho, tenho alguém pra irritar e passar o tempo. — Eu não sou hiperativo, vou ficar quieto pelos próximos minutos, você vai ver.

— Certo. Você nem sabe o quanto isso me deixa feliz. — Jaebeom comenta, realmente parecendo feliz por eu ficar quieto, e eu bufo e jogo meu olhar pra longe dele.  Eu hiperativo, até parece, eu sou muito tranquilo, quase nunca irrito ninguém, esse trabalho é do Yugyeom e do Bambam.

Me remexo no caiaque para procurar uma posição mais confortável e ele balança, me lembrando como é instável, então eu paro quieto e deixo o conforto pra lá. Tento pensar em coisas pra fazer enquanto estou aqui, coisas silenciosas, coisas não hiperativas. Cutuco o remo que deixei apoiado do meu lado, logo depois erguendo o mesmo acima da minha cabeça, então começo a girar ele como se fosse as hélices de um helicóptero, primeiro bem de vagar, depois bem rápido.

Me sinto um ninja fazendo isso, por um momento eu não estou no caiaque, preso a deriva, mas sim em um filme de ação com guerreiros que lutam usando espadas e lanças e pedaços de madeira e qualquer coisa. Quase posso ouvir os inimigos, gritando, bufando, se irritando. Sinto o cheiro do sangue e o calor da adrenalina. Não sou mais Youngjae, o garoto, Sou Youngjae, o guerreiro.

— Essa é sua idéia de ficar quieto? — Jaebeom me tira dos pensamentos, me fanzendo lembrar que não sou nenhum guerreiro e sim um adolescente preso no meio de um lago assustador. Suspiro, ok, acho que ele tem razão, talvez eu seja um pouco hiperativo, mas que culpa eu tenho? Ficar parado é tão chato, não sou uma planta.

— Me sinto entendiado, estou tentando achar uma coisa para me distrair. — Jaebeom suspira lá na frente, acho que ele não está entediado porque está ocupado demais sentindo dor, mas só acho mesmo.

— Vamos falar sobre algo então, assim você para de balançar o caiaque.

— Ótima idéia! Sobre o que a gente vai falar?

— Sobre o que você quer falar?

— Não sei, deixa eu pensar. — Penso, tem tantas coisas sobre as quais eu posso falar, mas qual delas é a mais interessante? Talvez a gente posso conversar sobre como ele aprendeu a usar um caiaque. Talvez a gente possa falar sobre o pai dele, eu adoraria ouvir mais sobre ele. E tem aquele assunto, a mãe, Jaebeom nunca fala dela e nunca fala com ela, age como se ela não existisse, mesmo que ela esteja bem ali, na frente dele. Mas ele vai me responder se eu perguntar os motivos? Eu estou pronto para perguntar? Ele está pronto para responder? É melhor eu começar a conversa com assuntos mais normais e simples. — Você já percebeu que se zumbis são mortos vivos eles são a prova morta de que alguém morto pode ser a prova viva de que há vida após a morte?

— O que?... — Ele resmungou, confuso. — Eu não entendi nada do que você falou, parei de ouvir no "prova morta".

— Ei, esse assunto é sério ok? Existe vida após a morte, os zumbis são a prova e é isso o que eu quero dizer.

— Mas zumbis não existem.

— Ah é? Diz isso para o zumbi que correu atrás do Yugyeom uma vez, aposto que ele discorda.

— Um zumbi correu atrás do Yugyeom?

— Sim.

— Onde isso aconteceu?

— Em uma festa de Halloween no ano passado, por que? — Ele não responde, apenas fica em silêncio como se digerisse minha resposta. Eu deixo que ele pense, zumbis são realmente assuntos sérios.

— Certo. — Ele diz por fim, suspirando.

— O que você quer dizer com "certo"?

— Certo.

— Mas o qu...

— Não quer dizer nada, apenas certo. — Ele me interrompe, o que me deixa bem irritado, mas não vou deixar isso transparecer, apenas vou pegar esse remo e enfiar na goela dele, nada demais. — Por que você não faz uma das suas perguntas importantes? Acho que até falar de coisas sérias é melhor do que falar sobre isso.

— Mas zumbis são coisas sérias!

— Certo.

— Para de falar "certo"! Não sei o que significa!

— Certo, amor, certo. 

— JAEBEOM! — Exclamo, irritado, e ele ri da minha cara, claramente estava fazendo de tudo para me irritar agora, talvez como troco por eu ter feito o mesmo com ele.

— Vai, me faz uma pergunta que não seja sobre zumbis.

— Posso perguntar qualquer coisa?

— Claro.

— Você não vai ficar zangado ou sei lá, vai?

— Não, pode perguntar qualquer coisa.

— Ok. — Respiro fundo, me preparando mentalmente para a provavel tenção que vai surgir a seguir, mas ele disse que eu podia perguntar, então não vou perder a chance, pode ser a única que eu tenho.

— Por que você não quer perdoar sua mãe?

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora