Capítulo XX ● Youngjae

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— Yugyeom, eu já falei que não tem nada a ver com tartarugas, canudos é o nome do lugar onde o conflito aconteceu! — Exclamo para o meu amigo pela milésima vez no dia e escuto ele bufar alto, provavelmente revirando os olhos. Desisto de tentar enfiar juízo na cabeça dele e apenas começo a ler um livro que falava um pouco sobre o assunto, Yugyeom não vai ajudar e sei disso porque ele é o Yugyeom, conheço ele melhor do que a mim mesmo. Da escrivaninha perto da janela eu podia ouvir o digitar incessante de Jaebeom em seu computador, rápido e com a precisão de quem fez isso a vida toda. Ele também está fazendo um trabalho, eu acho.

— A gente devia falar sobre as tartarugas.

— Eu desisto. — Jogo o livro longe, deito na cama de bruços e enfio meu rosto no colchão. Se Deus não vem me bucar por vontade própria eu mesmo pago o frete e vou sozinho, pra mim deu desse mundo, passar bem.

— Você está tentando se suicidar se asfixiando no próprio colchão? — Jaebeom pergunta e eu escuto o barulho dos dedos dele no teclado parando de soar e o som da cadeira se movendo, provavelmente ele estava olhando pra mim agora.

— Ou é isso ou a faquinha de pão.

— Você é tão dramático. — Yugyeom comenta e na mesma hora me levanto e jogo uma almofada em sua direção, escutando seu gemido de protesto e sorrindo com isso, eu sempre acerto. Logo uma almofada atinge meu rosto também e eu entendo que agora estamos falando de guerra, mas não a de canudos.

— Se você quebrar alguma coisa minha eu juro que mato você. — Bato no meu amigo com o travesseiro e ele me bate de volta. Era uma cena ridícula, eu sei, mas não mudava o fato de ser super divertido.

Em algum momento da brincadeira eu decidi que não queria mais brincar e fui correndo em direção de Jaebeom, me escondendo atrás de sua cadeira, mas Yugyeom veio pra cima de mim mesmo assim e no fim das contas a cena vista era de dois adolescentes brincando de guerra de almofadas, enquanto um deles, o que não vê nada, empurra um terceiro adolescente sentado em uma cadeira de rodinhas ao som de seus gritos de protesto.

Depois que paro de empurrar a cadeira, Jaebeom levanta e entra na brincadeira, então logo ele, eu e Yugy lutavamos um contra o outro, de verdade mesmo, parecendo três retardados de 5 anos. E eu nem me lembro da ultima vez em que ri tanto, nem me lembro se já ri dessa forma antes. Me sinto vivo, como se uma corrente elétrica passasse por todo o meu corpo, me deixando quente, como se eu estivesse com febre, mas não tem febre nenhuma, apenas êxtase.

Em certo ponto da brincadeira eu subi em cima da minha cama e percebi como ela era elástica, de um tipo bem resistente, como um trampolim, então eu comecei a pular, pular bem alto, sentindo o vendo balançar meus cabelos e a adrenalina atravessar meu corpo. Logo Jaebeom e Yugyeom se juntaram a mim, e nós realmente pareciamos crianças fazendo coisas bobas, mas nós não nos importávamos com isso. Se parecia infantil, então deixa ser, não me importo de fazer algo constrangedor se isso me fizer feliz.

Do nada Jaebeom e Yugyeom param de pular e eu também paro porque não estava entendendo o motivo de eles terem parado, é então que escuto o barulho de uma câmera antiga e automaticamente sei que é meu pai fazendo um de seus vídeos caseiros de familia, que ele faz desde que eu me entendo por gente, porque não quer esquecer de nada quando estiver velho e não lembrar nem do próprio nome. É uma ideia meio mórbida, mas é legal também.

— Por que pararam de brincar? estava perfeito. SonHee vai amar ver esses rostos lindos sorrindo tão abertamente. A felicidade de vocês era genuína.

— Era mesmo. — Sorrio, tendo uma idéia do nada. Estico minha mão e pego lentamente um travesseiro qualquer, então dou impulso e arremesso o objeto em direção ao meu pai. Depois disso, tudo se passa muito rápido, quando percebo a brincadeira que estava em três se transformou em quatro e eu acho que nada no mundo me deixa mais feliz do que sentir que as pessoas que eu amo estão felizes. E quando eu sinto um travesseiro ser arremessado no meu rosto, fazendo meu óculos cair no chão, eu não fico bravo e envergonhado, apenas pego uma almofada e jogo na direção da pessoa que me acertou, ouvindo o som do gemido de dor de meu pai logo em seguida.

Não sei por quanto tempo ficamos nessa, mas sei exatamente quando paramos. Assim que ouvimos o barulho de alguém subindo as escadas, travamos no lugar, paralisados de medo. Eu não podia ver, mas tinha noção de como meu quarto deveria estar bagunçado, e quando minha mãe ver isso... bem, ela vai matar meu pai, Jaebeom, Yugyeom e eu com as almofadas que ela encontrar pela frente.

— Pessoal, o que vocês estã... CARAMBA! — É, a gente tá ferrado, é hoje que nós veremos o que a galinha viu quando chegou do outro lado. Conversaremos com Deus, pediremos misericórdia. — Que porra aconteceu aqui?

— Mãe, você disse que nós não podemos falar palavrão. — Comento, mas consigo sentir o olhar de ódio com o qual ela me olha. SonHee é assustadora quando quer.

— VOCÊS não podem falar palavrão, eu posso porque sou adulta.

— O tio não fala palavrão.

— É claro que ele fala, ele só.... espera, PAREM DE TENTAR MUDAR DE ASSUNTO, O QUE PORRA ACONTECEU AQUI?

— Um furacão de almofadas? — Jaebeom tenta quebrar o gelo e inacreditavelmente consegue. Acho que o errado sou eu de não conseguir fazer o mesmo, todo mundo consegue ser descontraido e divertido, mas eu não, será que é algum problema? será que eu sou um sociopata?

— Muito engraçado, mocinho, esse é o trabalho que vocês tinham que fazer? porque eu acho que não.

— Até que é, tia, o trabalho é sobre guerra, nós fizemos uma guerra, uma coisa tem ligação com a outra. — Yugyeom tem uma cara de pau que meu Deus, as vezes até eu fico surpreso, mas não agora, agora eu só consigo rir.

— Eu acho bom que vocês arrumem esse lugar logo e deixem ele brilhando, daí vocês vão sentar e terminar de fazer os trabalhos, caso contrario a única guerra que vocês vão ouvir falar vai ser aquela que deixou quatro mortos com espuma de travesseiro entalado na garganta, estamos entendidos? — Nós quatro respondemos um sim baixinho e acanhados, SonHee realmente conseguia ser ameaçadora quando quer. — Eu não ouvi direito, VOCÊS ENTENDERAM?

— SIM! — gritamos em uníssono e eu me sinto de volta ao primeiro, quando as professoras faziam uma pergunta e esperavam uma resposta da sala todo. A única parte que não parece a escola é o fato de ser minha mãe quem está gritando, e ela não está fazendo uma pergunta porque é paga para isso.

— Ótimo, então comecem agora! — E ela sai batendo a porta atrás de si, fazendo meu ouvido doer.

— Cara, ela me assusta mais do que o Pennywise. — Meu pai comenta e isso é o suficiente para fazer todo mundo rir de novo, antes de começar a trabalhar em arrumar o quarto.

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora