Blind • 2Jae (HIATUS)

Capítulo LXXI ● Youngjae

— Declaro aberta a reunião dos cornos. — Proclamo em alto e bom som, para ser ouvido por todos os outros meninos que estavam espalhados por toda a sala de detenção. Sim, detenção, porque não bastava o castigo que tivemos em casa, toda a grana que tivemos que gastar para pagar o concerto de tudo o que destruímos e o fato de todos os nossos pais agirem como se fossemos vândalos em prisão domiciliar, a escola ainda decidiu que nós precisamos ficar na detenção. 

Não sei se foi uma ideia burra ou genial, porque colocar todos nós juntos no mesmo lugar por duas horas por tempo indeterminado só poderia terminar em catástrofe, mas nos forçar a aguentar uns aos outros todo santo dia e ser obrigados a encarar o Sr. Yin dormindo na mesa do professor é quase como um estilo novo de tortura, então o castigo fica oscilando entre muito bom e muito merda e eu não consigo decidir qual das duas opções é a correta. 

Mark e Jackson disseram que a escola está fazendo isso apenas para manter as aparências na frente dos outros alunos, para que coisas desse tipo não aconteçam novamente, o que eu acho completamente aceitável levando em consideração toda a merda que a gente aprontou no acampamento. Provavelmente o único lado positivo de todo esse castigo foi o fato de que os pais de Jackson e Mark concordaram em mudar os horários de aula dos dois para os mesmos que os nossos, assim poderíamos ser castigados todos juntos e de uma vez só, o que é outra idéia que eu ainda não sei se é muito burra ou genial.

— Nunca trai você, como você pode ser corno? — Jaebeom pergunta pra mim lá da frente da sala, onde ele estava tentando esquilibar coisas em cima das costas do adormecido Sr. Yin, igual em um vídeo que ele viu no YouTube um dia desses e me mostrou, antes de lembrar que eu não podia ver e começar a narrar cada detalhe do vídeo, que consistia em uma pessoa tentando empilhar o máximo de coisas em cima de outro pessoa adormecida antes que essa pessoa acorde.

— Você não, mas existem muitos tipos diferentes de traições. — Dou de ombros e começo a contar nos dedos, em voz alta mesmo porque eu vi o Sr. Yin se entupindo de antialérgicos hoje, então eu sei que ele não vai acordar mesmo se uma bomba cair no meio da sala e matar todo mundo. — Tem as traições familiares, as traições entre amigos, tipo aquela do Yugyeom e do Bambam para comigo, e até as traições profissionais, como na vez em que eu fiz dupla com uma tal de MinHa no trabalho de quimica e ela pegou todos os créditos pelo experimento que fizemos, mesmo que tenha sido eu quem ficou com as mãos todas manchadas de corante porque fui o ÚNICO a fazer alguma coisa no trabalho.

— Isso aconteceu na quinta série. — Yugyeom comenta, mas eu apenas dou de ombros sem dar importância, porque o que importa é que aconteceu e não quando aconteceu.

— Sou rancoroso.

— Então quer dizer que existe friend corno? — Jinyoung entra na conversa e eu afirmo silênciosamente com a cabeça em resposta, virando o rosto em direção ao lugar de onde a voz dele vinha com o semblante mais sereno que eu conseguia ter.

— São os mais comuns, todo mundo já foi friend corno um dia.

— E se a pessoa ainda não foi, então ela ainda vai ser. — Bambam completa minha frase, me fazendo afirmar com a cabeça de novo, em concordância.

— É tipo cagar nas calças ou morrer, se ainda não aconteceu com você, é porque ainda vai acontecer.

— A traição é a lei básica das amizades frágeis, uma hora você vai ser trocado por alguém e se você não for trocado você foi a pessoa que trocou. — Yugyeom entra na conversa como quem não quer nada, acho que ele cansou de apunhalar o coração dos amantes de livros e parou de rabiscar o livro que ele tinha pego da mesa do Sr. Yin hoje mais cedo.

— Mas isso nunca aconteceu com vocês. — Jaebeom entra na conversa também, provavelmente enquanto ainda continuava a empilhar coisas em cima do dopado Sr. Yin. — Bambam, Yugyeom e você se conhecem desde novos e ainda estão juntos.

— Infelizmente, mas não foi por falta de tentativa. — Bambam bufa, o que me faz rir e lembrar de todas as vezes em que ele disse que nunca mais falaria com a gente e arranjava um novo grupo de amigos pra andar junto só pra desistir de todos eles e voltar para nós pouco tempo depois. 

— Nossa amizade é retardada, mas é forte pra cacete. — Yugyeom diz, risonho, e eu concordo com a cabeça. — A gente pode agir como loucos psicopatas que querem se matar a cada meio segundo, mas no fim sabemos que sempre podemos contar uns com os outros.

— E agora deixou de ser só nós três. — Comento, com um sorriso no rosto porque esse fato me deixa feliz. Eu sempre quis ter um grupo de amigos como os dos filmes, unidos nas horas boas, ruins e nas loucas, e agora eu tenho. — Somos em sete agora e não vai haver traições entre nós.

— Depois de tudo o que a gente passou juntos, se alguém nesse grupo trair a amizade, eu juro por Deus que mato a pessoa e dou de comida para os esquilos. — Bambam ameaça, me fazendo rir de seu tom sério, mas concordar com a cabeça.

— Esquilos comem carne? — Mark pergunta aleatoriamente e todos parecem pensar no assunto por alguns segundos, em silêncio.

— São ratos de árvore. — Comento, realmente dando atenção ao assunto.

— E ratos comem carne? — Jaebeom pergunta.

— Os do filme que eu vi, sim. — Bambam responde. — Não! Cacela, não foi um filme, foram os ratos de TGCF, aqueles da cidade de WuYong que comeram os cadáveres das pessoas que morreram depois que o vulcão entrou em erupção, eles até aprenderam a falar.

— Você falou um quilo e eu entendi uma grama. — Jaebeom comenta, fazendo Bambam rir. 

— Só quem leu sabe.

— Por isso que eu sei. — Empino o nariz de forma debochada, fazendo o resto do pessoal rir também, o que me faz sorrir, antes de tomar um rosto sério novamente. — Mas gente, temos que fazer isso ser sério.

— O que? — Jinyoung pergunta, se aproximando do lugar onde eu estava sentado no fundo da sala, escuto os outros fazerem o mesmo.

— Vamos jurar nunca nos trairmos, um pacto para selar nossa amizade, concordando em sempre estarmos aqui uns pelos outros. — Explico, de forma séria e serena, e os outros prestam atenção em silêncio. — Vamos ficar juntos para sempre.

— Como melhores amigos. — Jaebeom comenta e eu sorrio e assinto em sua direção.

— Como melhores amigos.