Capítulo LXI ● Youngjae

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— ...Então a gente abriu a porta, os anjos cantaram aleluia e uma luz divina desceu do céu e iluminou todo o material de artes. Nós pegamos tudo e aqui estamos nós agora. — Conto aos meninos, ou pelo menos aos que já haviam chegado no refeitório, a grande saga pela qual Jaebeom e eu passamos para conseguir material para a trolagem, mas eles não acreditam nem na metade da história, é claro, porque realmente são um bando de hereges tristes e desprovidos de inteligência.

— E como você sabe de tudo isso se nem pode ver? — Yugyeom comenta, debochando da minha cara, o que faz com que eu delicadamente pouse minha mão direita em sua bochecha esquerda, em um carinho de melhores amigos para sempre, que ficará marcado no rosto dele pelo resto da semana.

—  E eu preciso ver pra saber de alguma coisa, sua criatura sem luz? — Bufo e empino o nariz, cruzando minhas pernas e os braços para demonstrar toda a minha irritação. Estou sentado em uma das mesas do refeitório, porque nos filmes os delinquentes sempre quebram mais de uma regra, esperando pacientemente por Mark, Jackson e Bambam, que são como três lesmas com déficit de atenção e não chegaram até agora. — Ouvi a música, senti a luz e deduzi que estava direcionando diretamente para as coisas que estávamos procurando.

— E o Jaebeom também viu isso ou foi só sua cabeça bitolada que inventou toda essa merda? — Yugyeom pergunta, sem temer o perigo, e como forma de agradecimento ao seu grande amor por mim e sua confiança em minhas palavras, eu humildemente dou outro tapa em seu rosto, mas dessa vez do lado direito, porque ainda sou justo e quis fazer com que pelo menos os dois lados das bochechas dele parecessem iguais.

— Talvez ele seja esquizofrênico. — Jinyoung pontua de algum lugar do refeitório. A voz parece distante, mas não tão distante, e soa quase como um berro no eco vazio do refeitório. Completamente assustador, pra não dizer aterrorizante, mas a gente releva em nome da tão famigerada amizade.

— Se isso aconteceu mesmo, por que Jaebeom não viu nada? — Solto um suspiro teatralmente ao escutar a pergunta de meu melhor amigo, então levo minhas mãos ao rosto e gentilmente massageio minhas têmporas, tentando aliviar a dor de cabeça fantasma que magicamente eu comecei a sentir.

— Apenas seres de luz poderiam ver outros seres de luz. — Resmungo como se fosse óbvio e ao meu lado, Jaebeom ri. 

— Então eu não sou um ser de luz? — Ele pergunta fingindo estar sério, mas dava para sentir a ameaça de um sorriso no tom de sua voz. Com Jaebeom é sempre assim, eu sinto que poderia partir o coração dele mil vezes e mesmo assim ele não ficaria bravo comigo, e essa coisa, essa confiança que ele deposita em mim, só faz com que eu sinta mais vontade ainda de nunca jamais o machucar. Eu prefiro sofrer no lugar dele, mesmo que eu sinta que ele iria preferir sentir toda a dor no meu lugar também.

— Você bateria nos anjos do céu e ficaria entediado lá em cima, então acho que você é mais como um poderoso rei do submundo, tipo o Hua Cheng de TGCF, que é um rei fantasma. — Explico meu ponto da forma mais doce o possível, afinal, isso não era uma coisa ruim, tanto que eu mesmo sempre achei que existia muito mais sinceridade no submundo do que no reino celestial, mas talvez isso seja apenas um efeito colateral por ler muitas novel's chinesas de cultivaçao.

— Então sou naturalmente mau? — Ele pergunta, agora fingindo estar triste e ofendido. Sorrio para ele, esticando minha mão para fazer carinho em seu rosto, e sinto ele inclinar a cabeça para mais perto da minha mão, como um gatinho pedindo carinho.

— Não, você apenas naturalmente gosta do caos. — Isso faz Jaebeom sorrir, tanto que consigo sentir o sorriso em minhas mãos enquanto acaricio seu rosto de gatinho manhoso. Ele é tão bonito, é uma pena que eu não possa vê-lo.  

— Mas esse não é o Jinyoung? — Yugyeom interrompe a conversa, soando irônico e provocador, porque essa criança é uma peste e não tem medo da morte, como já deu pra perceber.

— Cara, você deve me amar muito, não tira o meu nome da porra da sua boca nem por um segundo. — Jinyoung reclama irritado, agora mais perto de onde eu e os outros dois estamos, lentamente se aproximando como um tubarão sondando a presa.

— Acertou miserável. Bem que dizem que o amor e o ódio andam lado a lado. — Comento de forma descontraída, mas sincera, e então escuto os passos de Jinyoung pararem no lugar, sendo seguida pela respiração de Yugyeom, que trava no peito, e a risada de Jaebeom, que ameaça sair, mas parece não ter certeza se é uma boa hora. 

— O que disse machista? Do que você tá falando? Isso é alguma pegadinha idiota também?  — Jinyoung pergunta, atônito. Sorrio o mais inocente o possível antes de responder a pergunta de forma calma, porque eu sou um ser de luz.

— Choi Youngjae... — Yugyeom murmura meu nome com um tom de aviso forte na voz e eu até consigo sentir seu olhar assassino direcionado a minha pessoa, mas quem liga? Eu não.

— Por que eu brincaria com algo assim?  Estou falando sério, ele ama você mesmo. — Dou de ombros, como se isso não fosse nada demais, e escuto Jinyoung derrubar alguma coisa no chão.

— Eu vou matar você. — Yugyeom sussurra ao meu lado, mas ele parece completamente desesperado então a ameaça não sai muito assustadora, porém, me aproximo mais de Jaebeom apenas por precaução.

— Vai me matar por que eu falei a verdade? — Faço bico, tentando parecer indefeso e assustado, mas Yugyeom apenas bufa em resposta.

— Cala a boca! — Ele exclama, completamente transtornado, então eu apenas faço o movimento de passar um zíper na minha boca, fechar ela com uma chave e depois jogar a chave imaginaria fora, afinal, eu já disse tudo o que eu tinha pra falar mesmo.

— Relaxa Yugyeom, no final das contas é completamente recíproco mesmo. — Jaebeom solta a pérola, e isso é o suficiente para tirar Jinyoung do transe, mas agora é a vez de Yugyeom ficar completamente paralisado.

— Você não fez isso... — Jinyoung murmura, de forma tão raivosa que até parece que ele vai atacar a qualquer momento, e como é o Jinyoung, provavelmente ele vai mesmo.

— Aqui se faz, aqui se paga. Vocês fizeram a mesma coisa comigo e Youngjae, então agora é a vez de vocês passarem pelo mesmo. — A voz de Jaebeom revela o quanto ele esta gostando dessa situação, o que me faz sorrir, porque realmente me sinto vingado. A vingança realmente é um prato que se come frio.

— Como eu amo as voltas que o mundo dá. — Comento, cobrindo meu sorriso com a mão e dando uma risadinha.

— Vo-você gosta de mim? — Escuto Yugyeom resmungar e gaguejar, com a voz tão baixa que parece um mosquito, mas acho que Jinyoung tem uma audição muito boa, porque ele responde.

— Eu... — Ou pelo menos ele tenta, porque antes que ele possa formar uma frase como resposta a porta do refeitório se abre e eu escuto Mark, Jackson e Bambam entrarem, rindo e conversando como um bando de idiotas. Porém, como se eles sentissem que algo estava acontecendo, eles param de falar no momento em que pisam no recinto e um silêncio se faz presente por vários e vários segundos, até que finalmente alguém o quebra.

— Gente, o que rolou? 

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora