Capítulo XLIII ● Youngjae

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— Foi a mais ou menos uns três anos atrás, era nosso primeiro ano no acampamento, isso aconteceu antes de virarmos monitores, estavamos aqui como campistas, assim como vocês. — Jackson começa a contar a tal história e todos na fogueira fazem silêncio. Acho que essa é a parte mais assustadora nas histórias de terror, o silêncio. Quando você junta o silêncio com a tensão de uma história assustadora, qualquer barulhinho, por menor que seja, se transforma em um monstro ameaçador, e eu odeio isso mais do que qualquer um, porque minha audição é boa demais, então eu sempre escuto tudo, até o que não é pra escutar.

Até houveram protestos ainda a pouco, a metade de nós não queria ouvir histórias assustadoras enquanto estivessem no meio de um lugar assustador, mas a outra metade convenceu todo mundo de que seria uma boa idéia, afinal, é realmente um clássico de acampamentos. Eu fui um dos que fiquei contra, eu realmente, realmente mesmo, não aprecio esse tipo de diversão, mas todos aceitaram, então eu apenas aceitei também, afinal, o que eu poderia fazer pra impedir? Sair por ai gritando por socorro? Não ia funcionar com eles. 

— Tinha essa garota, Molly, era estrangeira e tinha acabado de se mudar pra coreia. Era bem estranha, do tipo esquisita de verdade, e a maioria das pessoas não gostava dela, mas isso era mais pelo fato de ela ter acabado de se mudar e não conhecer ninguém do que por ela ser mesmo assustadora. Eu nunca falei com ela de fato, acho que ninguém além da Naenaa falou, mas eu sempre via ela por ai, andando de cabeça baixa, sempre sozinha, parecia bem triste, mas também parecia não querer que as pessoas se aproximassem.  — A voz de Jackson deveria soar assustadora, eu suponho,  mas ao invés disso ela soava nostálgica, como se ele estivesse revivendo a história enquanto a contava. — Molly conseguiu, de alguma maneira, irritar um grupo de meninas que estavam aqui como campistas também, talvez tenha sido por causa do jeito quieto que ela tinha, ou então só porque as meninas acharam que seria legal fingir que estavam em um filme adolescente ruim, mas o que importa é que elas começaram a pegar no pé da Molly, zoavam a menina em tudo o que ela fazia.

— Era um tipo de bullying que começou leve e indireto, mas foi ficando cada vez mais e mais pesado com o decorrer do tempo, e tudo só piorou porque todo mundo percebia, mas ninguém fazia nada. As pessoas, até os adultos, preferiram ficar calados, fingir que não estavam vendo o que acontecia. — Mark conta, com um tom enojado. O ódio na voz dele faz com que eu me encolha e me aproxime mais de Jaebeom, não por medo, é só que... é tão triste e real.

— Tentei comunicar os monitores umas mil vezes, mas eles diziam que não podiam fazer nada. — Lucas conta, rispidamente, e não é para menos, afinal, quem em sã consciência se cala em frente a uma situação dessas? BULLIYNG É CRIME!

— Eles eram responsáveis por nós, mas diziam que não podiam fazer nada porque as denúncias não tinham provas concretas, sendo que a prova concreta estava ali na cara deles, mas eles fingiam não ver. — A menina, Naenaa, fala, e de todos, a voz dela é a que soa mais triste. Ela também é cega, como eu, e é uma das monitoras amigas do Mark e do Jackson, e ela conhecia Molly melhor do que os outros, ou pelo menos foi isso que eu entendi com o lance de ela ser a única a falar com a menina.

— A gente se perguntava o porquê de ela nunca contar nada pra ninguém, ela sempre aguentava tudo calada, nunca reclamava, acho que ela tinha medo ou então vergonha, a gente deveria ter feito mais por ela, ter tentando ajudar de alguma maneira, talvez ela só precisasse de apoio. — Jungwoo, outro monitor, acrescenta essa parte a história com um tom de voz particularmente culpado.

— Mas nós eramos novos e burros, não estavamos muito preocupados com os outros naquela época, era nosso verão, a gente só queria se divertir. — Mark suspira, soando completamente derrotado. Imagino todos esses meninos aqui, assim como eu e meus amigos, só que mais novos, apenas querendo se divertir em um passeio da escola, e então, tragicamente, sendo obrigados a passar por uma situação como essa, e se culpando internamente por não terem feito nada, mas o que poderiam fazer? eles eram crianças, Molly era uma criança. Eles tentaram ajudar, mas os adultos não fizeram nada.

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora