Capítulo XXXII ● Youngjae

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- Então agora vocês estão namorando? - Yugyeom pergunta e escuto ele jogar alguma coisa dentro do carrinho de compras. O supermercado onde nos encontravamos estava abarrotado de pessoas, mas a voz do meu amigo ainda conseguia se sobressair sobre todas elas, porque ele era bem mais barulhento do que todo o mundo.

Ontem, depois que Jaebeom e eu voltamos pra casa, eu fui totalmente bombardeado com perguntas e mais perguntas, tanto pela parte dos meus pais, quanto pela parte de Bambam e Yugyeom. Mas, porém, entretanto, todavia, eu não respondi nenhuma delas porque eu mesmo não sabia o que eu estava sentindo, quem dirá poder falar sobre isso com alguém, então eu apenas subi pro meu quarto, me joguei na cama e me fingi de morto, sabendo que Jaebeom estava no quarto ao lado, que pertencia a Yugyeom, provavelmente passando pela mesma situação que eu, só que com Jinyoung.

E quando meus dois carrascos entraram no quarto, como eu estava fingindo de morto, eles pensaram que eu já estava dormindo, por isso consegui adiar a conversa iminente até agora, de manhã cedo depois do café, porque comer me impedia de falar, então eu usei essa desculpa para adiar mais ainda o assunto. Mas agora, aqui, nesse momento, eu não posso mais fazer isso, porque não tem pão, nem torradas e muito menos café para me deixar com a boca cheia e me arranjar uma desculpa para não poder falar, sou apenas eu e a obrigação de confrontar meus queridos, e malucos, amigos.

Passos apressados brotam no corredor e então escuto mais coisas sendo jogadas no carrinho, possivelmente por Bambam, que tinha ido pegar sei lá o que, sei lá onde. Eram as compras da semana, disse meu pai antes de basicamente nos expulsar de casa com apenas casacos e o cartão de credito dele, o que foi uma ideia bem idiota, essa de dar o cartão na mão de dois lunáticos e eu, mas se meu pai confiava em mim e nos meus amigos pra fazer esse tipo de coisa, então ok, eu não concordo com ele, mas ok.

- Não, nós apenas confessamos o interesse mútuo um pelo outro e nos beijamos. - Suspiro, empurrando o carrinho pelo corredor. Era uma ideia burra também, essa de me deixar empurrar o carrinho, porque a partir do momento em que você descobre que eu sou cego, obviamente você sabe que eu não posso ver, afinal, é isso que cegos fazem, logo, você também entende que eu não vejo quem vai ou vem pelos corredores, ou uma prateleira perdida no meio do caminho, ou apenas o caminho. Eu sou cego, acidentes envolvendo carrinhos e prateleiras podem acontecer a qualquer minuto comigo no comando.

- Só isso? Eu pensei que vocês já estavam juntos e planejando o casamento e o quarto dos bebês! - Bambam exclama, jogando mais e mais coisas dentro do carrinho, o que fazia um barulho estranho, quase como se as coisas estivessem se quebrando ao entrar em contato com o fundo de metal frio do carrinho, e talvez estivessem mesmo. Eu duvido que metade das coisas que ele esteja botando ali dentro sejam as coisas que estão na lista de compras, mas o cartão não é meu, então eu não vou falar nada.

- Admitir o sentimento já é um passo bem grande, beijar é outro maior ainda. - Tento argumentar, mas era inútil quando se tratava de Yugyeom e Bambam, eles nunca me escutam de verdade a menos que o assunto seja do interesse deles. Deus, como eu queria ter ficado em casa fingindo de morto por mais tempo!

- Passo grande só se for pra você, né pigmeu? Porque pra mim isso é um passo de formiga. - Reviro os olhos por trás dos óculos escuros, não que eles pudessem ver o ato, mas só porque sinto que isso é o que eu deveria fazer como o adolescente normal que eu sou.

- Eu não sou um pigmeu, você que cresceu demais. - Resmungo, parando pra pegar uma coisa que eu sei que estava ali, bem na prateleira do meu lado, a única coisa que eu sei onde fica no supermercado inteiro, e também a única coisa que eu considero importante nas compras do mês. - Vocês acham que eu deveria levar os M&M's com amendoim ou os que são apenas de chocolate?

- Você odeia amendoim. - Bambam me lembra, e eu faço um barulho de contentamento em resposta, antes de devolver um dos pacotes gigantes de M&M de volta para a prateleira e jogar o outro dentro do carrinho de compras, junto com mais três pacotes menores contendo o mesmo conteúdo do maior.

- Não muda de assunto Youngjae, você tem que contar o motivo de não estar namorando ele ainda. - Suspiro bem alto e teatralmente, voltando a empurrar o carrinho que ficava cada vez mais pesado, e Yugyeom e Bambam me seguiam de perto, como se eu fosse um imã, que puxava eles para perto de mim, os obrigando a andar também.

- A gente se conhece a pouco tempo e o fato de termos interesse um no outro é muito recente, queremos dar tempo ao tempo, ir devagar, porque tudo parece estar indo rapido demais. - Yugyeom bufa ao meu lado, provavelmente não satisfeito com a resposta, mas eu ignoro ele, como faço com todos os outros assuntos que ele aborda e que não me interessam. Nada contra o meu amigo, mas as vezes você só quer deixar as coisas quietas no canto delas, sem mexer muito pra não quebrar ou bagunçar mais ainda.

- Então em suma, vocês estão com medo porque mal se conhecem. - Bambam resume o que eu acabei de falar, mais do que eu já tinha resumido inclusive, e eu assinto em concordância, rezando pra que isso faça o assunto morrer mais rápido, e provavelmente vai, mas ainda não, não com Yugyeom tão ansioso do meu lado.

- Então vocês não querem namorar? - Yugyeom pergunta, fazendo força para que eu pare o carrinho, o que eu faço calmamente, antes de ouvir ele pegar uma coisa em uma prateleira e jogar no carrinho também.

- Não foi isso que eu quis dizer, é só que... - Paro de falar, não porque não soubesse como continuar, mas só porque não sei se vou explicar de uma forma que ele entenda, por sorte bambam é melhor com as palavras do que eu.

- Não é que eles não queiram, eles só sentem que precisam se conhecer melhor antes disso, o que eu não concordo, mas quem liga? - Eu faço um som com a boca e balanço a cabeça afirmativamente, mostrando que era exatamente isso. Por sorte, essa resposta parece agradar Yugyeom.

- Então ainda vai ter um casamento?

- Eu nunca falei que não ia ter. - Sorrio, voltando a empurrar o carrinho e deixando meus amigos para trás, antes de virar um corredor silencioso, feliz de saber que agora a conversa chegou ao fim.

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora