Capítulo XXIX ● Youngjae

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Um silêncio se faz presente na mesa de jantar após a fala de Park Jinyoung, sendo cortado apenas pelo som de um talher que caí em um baque seco dentro do prato alguém. Eu me engasgo com a torta/empada/coisa que está presa na minha garganta me impedindo de respirar e quase morro de vergonha, porque caralho! que porra tá acontecendo aqui? 

EU (TALVEZ) COMECEI A GOSTAR DE UMA PESSOA E AGORA EU DESCOBRI QUE ELA TAMBÉM GOSTA DE MIM, MAS EU DESCOBRI ISSO NO MOMENTO ERRADO, DA FORMA ERRADA E NA FRENTE DAS PESSOAS ERRADAS! ALGUÉM ME MATA POR FAVOR.

— Puta merda! — Bambam exclama ao meu lado, dando tapinhas na minha costa para tentar me ajudar a desintalar, mas se voltar a respirar significa ter que presenciar o assunto que vai se seguir a partir de agora, então, de verdade mesmo, eu prefiro a morte. Quase sussurro baixinho pra ele me deixar morrer, mas o tom da voz de bambam é cheio de surpresa, com um leve pingo de diversão, e eu me calo. Eu sinceramente não sei se meu rosto esta vermelho por culpa da coisa na minha garganta ou por causa da vergonha. CARALHO JINYOUNG, NA FRENTE DOS MEUS PAIS? DO MEU PAI E DA MÃE DELE?

— Park Jinyoung, eu vou te matar. — A voz que Jaebeom usa transparece todo o ódio que ele sente, e por um momento eu até sinto pena do Jinyoung por isso, ele vai mesmo ser assassinado, mas depois de um segundo a pena passa, e no fim, se eu pudesse eu mesmo mataria ele.

— O Jaebeom gosta do Youngjae? Tipo, o nosso Youngjae? — Escuto Yugyeom perguntar, ele parece completamente extasiado com a notícia, como se tivesse acabado de ganhar o que tanto queria de presente de Natal.

— Você conhece outro Youngjae? — Jinyoung responde (lê-se retruca) a pergunta do meu amigo, que responde um "não" que sai mais como um grito do que como resposta. Eu finalmente, finalmente mesmo, consigo engolir o resto de torta na minha garganta e minha mãe me entrega um copo de água, e eu quase podia sentir o olhar de Jaebeom sobre mim, mas vou fingir que a vermelhidão no meu rosto é culpa da quase morte e não dele, mesmo que ele seja indiretamente o culpado pela minha quase morte.

— Alguém tira essas facas de perto de mim, assassinato ainda é crime. — Consigo murmurar ao mesmo tempo em que tento recuperar o fôlego.

— Jaebeom gosta do Youngjae? Por que isso não me surpreende e por que parece ser tão fofo? — Meu pai comenta, realmente não parecia surpreso ou bravo ou qualquer outra coisa, muito pelo contrário, ele parecia estar bem feliz. Minha mãe acariciava minha costa ao meu lado, ao mesmo tempo em que eu CONTINUAVA tentando recuperar o ar, ela também não parecia surpresa. — Porém, isso muda tudo.

Será que eu sou o único que acha essa merda muito insana? CARAMBA! é Im Jaebeom! o lindo bad boy de taubaté, triste e quebrado Im Jaebeom, o garoto por quem eu, novamente admito, talvez tenha uma quedinha, mas que eu sei que é perfeito demais e muita areia pro meu caminhãozinho. COMO ele poderia gostar de mim? Em um mundo com outras 7 bilhões de pessoas, 7 bilhões de possibilidades, por que eu? Não faz sentido, não faz O MENOR SENTIDO.

Admito, derrotado, que posso até estar me sentindo internamente feliz com a notícia, mas tento de todas as formas fingir que esse sentimento não está realmente aqui. Tento achar motivos para não acreditar em Jinyoung, para tentar não acreditar que Jaebeom gosta de mim de fato, só para evitar ficar triste quando a verdade vier a tona, a verdade de que na verdade Jaebeom não gosta de mim coisa nenhuma.

Tento explicar ao meu cérebro que; talvez seja um engano, talvez seja o Jinyoung querendo brincar com a cara de Jaebeom, talvez seja só uma piada. Tento não acreditar, não criar expectativa, porque ele não gosta de mim de verdade, certo? Ele não pode gostar de mim! Minha paixão por ele não pode ser platônica se ela for recíproca, como disse meu pai, isso mudaria tudo.

— Por que muda tudo? — Jaebeom pergunta, a voz soando calma novamente, não envergonhada ou chateada ou ultrajada ou muito brava com o amigo, mas plena e serena como a de um anjo. Por que ele não está negando? Por que não esta dizendo que é mentira? Por que não está falando "Sim, eu gosto dele, mas como amigo"? POR QHE ELE NÃO NEGA? POR QUE ELE NÃO NEGA? QUE PORRA, POR QUE ELE NÃO NEGA?! 

— Primeiramente, você realmente gosta dele? — Diga não, diga não, diga não, POR FAVOR DIGA NÃO.

Sim.  — PORRA?! ISSO REALMENTE ESTÁ ACONTECENDO? DO NADA?

Nesse caso, se o sentimento for recíproco a relação de vocês vai ficar em um nível elevado e essa casa é uma casa de familia, você não poderia mais dormir no mesmo quarto que Youngjae, para evitar certos contratempos, entende? — Meu pai responde, assim, sem nenhum pudor ou sei lá, negação? Acho que a única pessoa em negação aqui sou eu, acho que o único que pensa como isso é um absurdo sou eu.

— Como todos sabemos que é recíproco, eu ofereço meu quarto como tributo. Jaebeom pode ficar lá enquanto o quarto dele não ficar pronto. — Yugyeom diz, solenemente, e eu abro a boca em um perfeito "O". Eles realmente estão decidindo minha relação COMO SE EU NÃO ESTIVESSE AQUI?

— E quem disse que é recíproco? — É a outra única coisa que consigo falar, mas minhas bochechas estão ardendo tanto que sinto vontade de enfiar elas em um buraco cheio de gelo e água, quem sabe assim eu consiga morrer de hipotermia. Yugyeom dá uma risadinha e eu sinto vontade de enfiar meu garfo no olho dele, mas me contenho, não posso ir preso ainda, ouvi dizer que a comida da cadeia é horrível.

— A sua reação disse tudo, e também, é meio óbvio que vocês se gostam, eu só não falei nada antes porque né, não era da minha conta, mas por sorte meu querido Jinyoung aqui é mais fofoqueiro que eu, e quem diria? eu nem precisei fazer nada. — Yugyeom estava se divertindo muito com a situação, e eu estava lutando muito para não dar uns bons tapas na cara dele.

— Não precisa se sentir envergonhado, querido, todos nós damos total apoio se a resposta for sim. — Minha mãe fala suavemente, diretamente comigo, e eu quase começo a chorar, e isso soa meio bobo? talvez, mas é como me sinto, então que se dane. Ok, eu gosto dele. Ok, ele já deixou bem claro que também gosta de mim. Mas isso não deveria se resolver assim, não deveria ser dessa forma, eu não consigo lidar bem sob pressão, eu não consigo agir de uma forma calma como todos estão fazendo, não é simples pra mim, pode ser para eles, mas não para mim.

— Eu... — Tento falar, mas não consigo. O nó na minha garganta começa a ficar mais apertado e respirar volta a se tornar difícil. Eu só quero sair correndo daqui, para longe da vista do meu pai ou da minha mãe ou dos meus amigos ou de Im Jaebeom. Eu só quero sumir, desaparecer, virar fumaça.

Então é isso que eu faço, me levanto rápido, derrubando a cadeira em que eu estava sentado no chão atrás de mim, e saio correndo, não sei pra onde, apenas corro. Corro porque é só isso que sei fazer, apenas sei surtar e ficar desesperado e triste. Corro, porque eu só sei fugir, não tenho coragem como Jaebeom, eu sou covarde. Por isso corro e corro e corro...

Escuto a voz de meus pais me chamando, e também escuto a voz de Jaebeom, mas isso não me faz parar, pelo contrário, apenas me faz correr mais forte, e quando eu saio pela porta da frente da minha casa e o vento frio bate no meu rosto, entrando em contraste com minhas bochechas quentes, eu não me importo com o frio ou com o fato de estar descalço e sem casaco, apenas continuo correndo, sempre em frente, nunca parando, correndo de tudo, correndo de mim mesmo, não sei pra onde, não sei porque, mas as lagrimas descendo pelo meu rosto estão aqui para me provar que eu não posso parar de correr, não ainda, não agora, não nesse momento.  

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora