Once Upon a Dream

Para minha neta

"Para minha neta,

Sei que você não esperava receber uma carta minha, ou se quer esperava ter uma avó, mas sim Mal, você tem uma avó e tem uma família. Receio que não saiba quem sou eu, então deixe-me apresentar a você. Todos, ou grande parte do mundo me conhece e se refere a mim como Babá. Sou uma fada, cresci e passei grande parte da vida na Terra das Fadas junto de minha irmã Helena, ou como todos conhecem agora, Fada Madrinha. Enquanto minha irmã se dedicou a ser madrinha, fui chamada para cuidar da escola das fadas ainda jovem e me mantive como diretora até quando me foi possível. Contudo, se posso te confessar a verdade, os melhores dias da minha vida vieram bem depois, quando voltava para casa, depois de uma longa viagem.

Houve um tempo onde as fadas interagiam com os humanos não somente para realizar seus desejos ou cuidar para que não faltasse alimento nas trocas das estações. Creio que agora em seu tempo elas pouco saem de seu esconderijo, mas naqueles dias eu saia ativamente para resolver situações que somente seres mágicos poderiam resolver. Ironicamente, enquanto cuidava dos problemas humanos, as fadas não conseguiam lidar com uma fácil situação.

Naquele dia cheguei muito cansada em casa, porém assim que pisei na Terra das Fadas minhas forças foram renovadas e ganhei um novo motivo para viver. Escondida em uma árvore abarrotada de corvos estava uma pequena fada de olhos verdes brilhantes e tão linda como se espera que seja uma pequena fadinha. Ela era perfeita. Não tinha asas, mas seus pequenos chifres eram pontiagudos e bem desenhados. Seu nome era Malévola, infelizmente esse nome lhe foi dado por causa de pessoas más, fadas que não mereciam ser chamadas assim. Talvez se dependesse de mim seu nome seria outro e acho que ela nunca iria gostar disso. Daquele dia em diante deixei ser apenas Babá, a diretora ou irmã da Fada Madrinha, depois deste dia me tornei mãe, mãe de Malévola.

Male era em muitas coisas diferentes das fadas de sua idade. Não era a falta de asas ou a cor de sua pele que a fazia diferente das outras, era quem ela era. Fadas na maioria do tempo só se preocupam em voar e sorrir, mas minha garotinha tinha que aprender o que era felicidade, enquanto aprendia a aceitar quem era. Não imagina como foi difícil mostrá-la que a amava de verdade e que não iria abandoná-la por nada nesse mundo. Tão inteligente, aquela escola era insuficiente para Malévola. Das centenas de livros que estudei durante toda minha vida a pequena conseguiu ler como se fosse uma historinha de ninar. Quando estava com ela esquecia quem eu era. Nunca imaginei ser mãe antes, porém desde que ela apareceu era tudo que queria ser. Acordá-la, fazer seu café, ajudar a cuidar de seus corvos, que eram muitos por sinal, ensinar magia, ler com ela e finalmente a pôr na cama me fazia esquecer do fardo que a vida tinha me dado.

Não quero que se assuste minha neta, não sabe como me emociona só por escrever essas palavras, mas não sou uma fada qualquer, minha magia me permite ver o futuro, não como um vidente, vejo traços do que está por vir, por isso sei de você. Tem outros truques também, mas são irrelevantes agora. Para além disso, o conhecimento que adquiri com os anos me fizeram saber da existência de um poderoso livro. O Livro de Contos de Fadas. Este livro. Antes o via como uma maldição, como pode um simples objetivo escrever a vida das pessoas? Vi e por alto acompanhei como ele descrevia a vida de reis e rainhas. Humanos, são tão tolos, criam seus próprios problemas e não se dão conta que a maioria deles poderiam ser resolvidos com conversas. Eles deixam que a vida se complique a ponto de somente a magia resolver. Estou divagando demais.

Eduquei Malévola, não sabia o que era ser mãe, mas fui aprendendo e com os anos vi a pequena fada se transformar em uma adolescente linda, inteligente e confusa. Mal, a Malévola que você conhece não é a mesma que eu cuidei. Mostrei a ela que não precisava ser fada se não quisesse, poderia ser uma grande feiticeira, com o conhecimento que tinha, poderia fazer qualquer coisa, porém por mais que tentemos, não tem como fugir de quem somos. No dia dos seus dezesseis anos, foi quando a perdi para sempre.

Desejava passar no teste de concessão de desejos e se tornar uma fada madrinha e nem Ruby, Martha e Lucinda, que eram as bruxas que ela mais admirava conseguiram a convencer a não fazer o teste. Não que ela não fosse capaz, porém desejava tanto que minha filha vesse que poderia ser muito mais do que suas inseguranças a mostrava. Não imaginava o quão cruel poderia ser aqueles seres que deveriam ajudar a todos. Malévola foi julgada a vida toda por ser diferente, não eram os cifres ou falta de asas que afastava as outras fadas, era a inocência que toda fada deveria ter e a algumas não tinham. Mal, me perdoe se não conseguir te explicar direito, se pedir Clarion a explicará como tudo naquele dia aconteceu com riqueza de detalhes, porque para mim tudo se passou como nevoa. Vi Malévola chorar pelo seu adorável corvo, as fadas envergonhadas e lembro-me bem da decepção nos olhos verdes ao me olhar e saber que eu havia mentindo.

Não fiz por mal, o que o livro mostrava era um monstro destruidor e o que eu via era a fadinha que não conseguia controlar o brilho de seus olhos. Sim, como diretora e fada sabia que é impossível mudar as visões que se tem ou mesmo ir contra o Livro de Contos de Fadas. Se Zeus tentou destruir e falhou miseravelmente, imagine eu? Quando Malévola me olhou deixei de ser sua mãe e me tornei mais uma das outras pessoas que mentiram para ela. O ódio foi evidente, eu e minha irmã podíamos sentir a raiva que saía dela, mas mesmo se não tivéssemos esse poder era nítido para qualquer um. Em um minuto ou menos tudo que se construí foi ao chão, não somente a escola, mas meu relacionamento com minha filha.

Depois disso, tudo mudou, a meiga e risonha Malévola foi embora junto daquele incêndio e no lugar nasceu uma mulher cheia de raiva, contudo ainda havia esperanças, não para mim, mas para o futuro. Mal, sua mãe não te ama, porque é má, Malévola escolheu não amar mais, ela achava que o amor tinha a machucado demais para querer amar ou ser amada de novo. Meu coração doeu e o dela ainda mais, porque acredito que quando tomou aquela odiável poção viu que perderia a chance de viver um grande amor e principalmente de amar a mais adorável garotinha. Malévola se tornou a vilã que o mundo não estava preparado. Vi sem poder ajudar reinos serem destruídos simplesmente, porque ela queria, vidas foram dizimadas para que pudesse ganhar sua soberania como rainha do mal. Finalmente vi Philip empunhar e cravar uma espada em seu peito. Juro a você Mal que nunca em toda minha vida sofri tanto, não me lembro de chorar tanto quanto chorei ao ouvir os gritos do dragão imenso. Eu perdi para sempre minha filha.

Você merecia uma mãe melhor, merecia a Malévola que eu vi crescer, merecia ser amada desde o dia que veio ao mundo. Seu pai, sei que é difícil ver agora, mas Hades é um bom homem. Malévola pode não ter o amado, mas o agradeço por ter ficado ao seu lado e ainda acredito que será um bom pai para você. A vida também não lhe sorriu muito.

Mal, há uns dias quando lhe vi pela primeira vez vi seus cabelos púrpura, as covinhas fundas e os olhos iguais da minha doce Malévola. Você me fez sorrir de novo, porque mesmo não podendo te conhecer, sei que vou ter uma linda neta. Não somente linda, mas inteligente, forte e cheia de magia. Mal, o amor é difícil, mas também é fácil, sua vida até aqui foi complicada demais para menina tão nova. Entretanto, preciso que acredite que sua história não é só essa, seu futuro é maravilhoso. Você não é uma Malévola, você tem amigos, (li que Grimhilde terá uma belíssima menina que será muito importante na sua jornada, assim como um jovenzinho de cabelos brancos e um lindo moço, bem parecido com os homens de Agrabah) e sua mãe cresceu sozinha, tendo somente a mim. Você se permitiu ser amada e amar, nada é tão lindo como o amor.

Mal, você terá muitos desafios, mas lembre-se sempre minha querida, você é forte e mesmo que seja difícil sentir, saiba que te amo, te amo sem nem te conhecer pessoalmente e poder te abraçar. Para sempre você me terá com você.

Com amor,

Babá.

De repente o chão sumiu dos pés de Mal e ela se viu chorando como um bebê a procura de colo...

Lágrimas?
Se não entenderem me falem.