Capítulo 29

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                                Capítulo 29

                                     Chuck

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  Me obrigo a comer essa droga, que Brooke tem coragem de chamar de pizza, mas fico apenas no primeiro pedaço, enquanto ela devora mais da metade da caixa sozinha. A pessoa que inventou de colocar vegetais em pizzas, deveria ser internada em algum manicômio. E claro que a princesa iria preferir, entre todos os inúmeros e impensáveis sabores; pedir pizza de vegetais. Já deveria estar preparado. Estou percebendo que esse é o jeito dela. Acho simplesmente incrível esse seu ar de "foda-se se estou falando com a boca cheia ou não, não ligo" porque até hoje, eu simplesmente nunca conheci nenhuma garota sequer, que agisse como essa sentada ao meu lado. Tenho a impressão que em um mundo paralelo; onde Brooke tivesse um pau no meio das pernas, seríamos bons amigos.

— Tá bom... — suspiro porque ainda estou tentando engolir, que terei que assistir filmes bobos da Disney com Brooke, droga, a última vez que vi esses filmes, foi quando Cathryn chegou — Temos; Bambi, Zootopia, Dumbo, O Rei Leão, Irmão Urso... — paro de ler as opções disponíveis, quando Brooke pega meu celular sem aviso prévio.

— Você está lendo como se estivesse sendo torturado — a princesa bufa e encara a tela do aparelho, sua atenção se fixa nos filmes e logo ela arrasta a tela para baixo e faz uma careta — Só esses filmes? — seus olhos negros miram os meus e não consigo não fazer uma careta.

— Não... — a respondo sem saber se ela estava brincando, ou não, já que ao invés de descer a lista de filmes, Brooke está tentando desesperadamente; subir para o início da página.

— Não aparece mais nada — a princesa rosna, claramente brava com o celular, o que me faz rir com o nariz.

— Porra, sério? — questiono sem saber se encaro seu dedo nervoso na tela do aparelho ou seu rosto.

— O que? — sua pergunta soa séria e um segundo depois, seus olhos estão me encarando novamente.

Tento não me demonstrar surpreso, mas é literalmente impossível... Não há como não se surpreender com uma garota que não sabe mexer em um simples celular. Porque há diferenças entre quem não está acostumado a mexer em outras marcas de aparelhos e quem definitivamente, não sabe mexer em nenhum. Porra, o que essa garota vem fazendo sem um celular a vida toda? Minha irmã de 14 anos, é tão dependente da tecnologia, quanto eu.

— Que você não sabe mexer em um celular — sussurro deixando o pensamento escapar e Brooke respira fundo, claramente controlando sua raiva.

— Jura, Sherlock? — sua pergunta sarcástica, me faz ter a confirmação para o que eu já suspeitava.

— Porra... — passo a mão pelos cabelos, correndo olhar no rosto da princesa boca suja — Como? — questiono a única coisa que consigo pensar agora.

— Não sou fã de tecnologias que não envolvam produzir comida para me alimentar, lavar minhas roupas e fazer arte, não tenho celular e sequer uso redes sociais, até porque mesmo se eu tivesse não faria proveito, esses aplicativos só servem pra comprovar o quão irreal queremos parecer — sua calma e tranquilidade alegando o sobrenatural; me assusta um pouco.

— Como assim? — consigo questiona-la, querendo descobrir que tipo de extraterrestre ela é.

— Resumidamente? Deixando de fora todo o lado dos comentários de merda? Entrar nesses aplicativos só serve para ver um monte de gente tentando desesperadamente ficar com um só rosto, um só sorriso, um só corpo... Prefiro a vida real, sem filtros ou efeitos, para deixar caras com o pau maior do que realmente é, ou sei lá — seus ombros sobem e descem, enquanto a mesma se mantém séria.

— Mas que porr... Não acredi... Porra! — tento, mas não consigo não me expressar da exata maneira que meu cérebro está recebendo essa informação.

— Não é o fim do mundo Riston, o fim do mundo é você ser mimado o suficiente, pra não comer a pizza que pagou, só porque ela não é do seu sabor favorito — Brooke adota uma seriedade repentina e volta sua atenção para o celular.

Minhas sobrancelhas se unem e por algum motivo; algo me diz que Brooke odeia quando comidas são desperdiçadas. Transfiro minha atenção para a pizza de legumes e uma culpa cai sobre minhas costas, mais pesada que os filhos da mãe, que se jogam sobre a gente quando estamos no gramado. Respirando fundo, pego o penúltimo pedaço de pizza da caixa e finjo ignorar o breve sorriso que Brooke projetou tão rapidamente, porque a verdade é que esse seu sorriso fica gravado na minha mente como tatuagem.

      *        

Ok, não quero nem pensar no que os caras falariam, se me pegassem assistindo filmes infantis e não transando, em uma madrugada com uma garota gostosa pra caramba, deitada com a cabeça nas minhas pernas. A princesa é a única deitada, pelo simples motivo de que; o sofá é pequeno demais para mim, então tive que permanecer sentado, enquanto Brooke se deitou e sem vergonha, ou receio transformou minhas coxas em travesseiros.  No fim, ela escolheu o filme; Irmão Urso e até onde conseguiu ficar acordada, deu várias dicas de como poderiam melhorar o desenho do longa. Em outras ocasiões, teria apenas concordado com seja lá, o que a garota estivesse tagarelando, mas com Brooke é... Diferente. Tudo que deixa os lábios carnudos da princesa, de alguma forma prende minha atenção e vê-la ter a confiança, de que as coisas que diz sem receio, não precisam se encaixarem como "normais", é simplesmente incrível. A Brooke dormindo é diferente da acordada. A morena continua bonita pra caramba das duas formas, no entanto há algo na Brooke dormindo que a deixa mais leve... Talvez seja o fato dela parecer menos sobrecarregada. Respiro fundo. Essa já é a terceira vez, que por alguma razão, transfiro minha atenção do seu rosto, para olhar ao redor dessa merda que ela chama de apartamento. Qualquer pessoa ficaria sobrecarregada só de se imaginar morando aqui. Volto a observá-la, quando a princesa resmunga algo bem baixinho dormindo e a tremidinha que seus lábios fazem, ao resmungar, por algum motivo me faz sorrir e imediatamente guardo esse detalhe; que ela parece uma velhinha resmungando quando está dormindo. Essa já é a segunda vez em que Brooke fala após estar apagada. Direciono minha mão, que estava apoiada no encosto do sofá, até sua cabeça, tiro os cabelos curtos do seu rosto e antes que eu perceba, estou dando cafuné na garota mais idiota e instigante que conheço. A lembrança de Brooke falando que se minhas mãos encostassem nela, eu perderia as bolas, me vem à mente e controlo minha vontade de rir, para não acorda-la. Corro olhar no rosto perfeito da princesa e bom, não é bem um ménage, mas... Estranhamente observá-la dormir, é igualmente e incrivelmente satisfatório quanto.

                                         *

       Um barulho chato pra porra me acorda. O corpo que estava dividindo o sofá comigo se mexe, o que me diz que essa droga de barulho não apenas me acordou, como também acordou Brooke. Todos os nervos em meu corpo entendem que não estou mais dormindo e começam a doerem, por eu ter dormido sentado, nessa porra de sofá duro. Brooke desperta de vez e se senta, soltando um prolongado gemido. A princesa ainda de olhos fechados, leva uma mão até a cabeça, enquanto movo uma das minhas até meu pescoço, que está doendo pra caralho. Brooke arisca em abrir os olhos e faz uma carinha de dor, quando olha para a luz do sol. A observando; sorriu de lado. Bem vinda a ressaca princesa.

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