Capítulo 87

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Capítulo 87

Brooke

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          John e Agnes retornaram quando estava preparando Beatrice para almoçar. Nem percebi o tempo passando e quando estava recebendo as notas pela manhã trabalhada, tive que beliscar meus braços para ter certeza que não estava presa em algum tipo de um sonho. Apesar da parte de ter que aturar a presença de Agnes pela manhã, o restante das horas foram divididas entre rabiscar desenhos e assistir a animações bobas na tv com Beatrice. Inclusive, nessa manhã finalmente descobri quem raios era o personagem que pertence ao nome; Mike Wazowski. Não entendo como um monstrinho verde de um olho só, pode ser tão citado por pessoas da minha faixa etária. Beatrice me surpreendeu, quando em nenhum momento incorporou as crianças que sempre via na rua, onde sempre estavam com as bocas abertas berrando com os rostos vermelhos, apenas e somente porque seus pais lhes negaram algo. Na verdade, ela parece ser muito esperta e aprendeu rápido como desenhar uma borboleta da forma mais rápida. Logo em seguida a ensinei como contornar sem borrar, mas essa qualidade ela ainda não dominou. A ampla variação de apetrechos de desenho que a pequena tem, me fez ligá-la — por algum motivo — à Cathryn, irmã de Chuck. Talvez seja porquê em algum outro universo, fantasio uma cena das duas colorindo uma cartolina branca, com todas as mais inimagináveis formas e cores possíveis. John se ofereceu para me levar até o campus, mas neguei. Ainda acho estranho ele estar tão por dentro da minha vida particular, mas como recebi muito mais do que recebia trabalhando na lanchonete, apenas em algumas horas e não precisei ter que ouvir que; só "iria receber" caso eu chupasse algum pau pequeno, está ótimo. Deixo o salão de entrada do prédio que John é proprietário e espero próximo ao estacionamento. Conforme me aproximava dos carros estacionados, corro olhar a procura de um em especial. Não que Chuck tenha a obrigação de vir aqui me buscar... Mas ele havia dito que se conseguisse sair da sua aula mais cedo, me pegaria. Por algum motivo estou louca para contar à Chuck sobre o desenho animado que finalmente vi e como foi perfeito esse primeiro dia de trabalho. Claro que tirando a parte de Agnes. Me escondo embaixo da sombra que a árvore muito bem podada, plantada em um canto do estacionamento, está produzindo e olho para a direção da entrada do prédio.

Espero, espero e espero, até o último carro do estacionamento sair e o motorista me lançar um olhar estranho, como se jurasse que eu era algum tipo de assaltante. Respirando fundo, largo o graveto que estava usando para desenhar na parte onde ficava o jardim e me levanto, batendo com a mão na bunda para limpar quaisquer sujeiras que tenham grudado. Caminho em direção ao portão de entrada e saída do prédio e pergunto mentalmente se Chuck não apareceu e o porteiro não o deixou entrar. Apresso o passo com a ideia e assim que atravesso o portão de saída, olho por volta dos poucos carros estacionados à beira da calçada. Nenhum é o de Chuck.

— Seu namoradinho não veio, senhorita — a voz rouca e velha do porteiro me chama a atenção e me faz olhá-lo.

Agradeço resmungando e começo a caminhar em direção ao campus, que fica a mais ou menos uma hora e meia de distância a pé. Levo uma mão até a frente dos meus olhos... Talvez duas horas com esse sol. Vamos lá Brooke, você está mesmo muito mal acostumada andando no carro de Chuck toda hora. Tento incentivar a mim mesma, porém uma outra eu reclama e resmunga, só por ter consciência da distância que preciso percorrer até o campus embaixo do sol. No meio do caminho encontro um telefone público e telefono para meus avós assegurando aos dois que eu ainda estava viva e bem.

*

Chego a tempo da apresentação das obras e antes mesmo de chegar ao centro da sala, começo a rasgar o papel pardo, que havia enrolado o quadro para que nenhum cocô de pombo estragasse minha chance de participar desse concurso. O professor assim que me vê chegando com o quadro; ergue as sobrancelhas expressando surpresa e eu tento não olhá-lo, dizendo à mim mesma que ele só está surpreso por eu ter entregado o trabalho na data certa e não pelo fato de eu realmente ter o feito. Além do olhar do professor, me esforço para ignorar os outros olhares voltados para mim, conforme arrumava meu quadro em um dos inúmeros cavaletes, que estavam ali apenas e somente para que deixássemos nossas obras a mostra. Respiro fundo encarando o trabalho que fiz e repito várias vezes que ele está bom. Não espero pelos elogios ou críticas do professor, apenas me viro e me afundo em alguma cadeira qualquer. Quanto menos estranhos por perto, melhor. Corro olhar nas outras inúmeras obras de arte, que também irão concorrer para entrarem no concurso e respiro fundo. Todas são concorrentes à altura, no entanto há uma que rouba o brilho de todas as outras; sugando como o buraco negro suga as coisas no espaço. A obra transparece uma tarde quente, um casal dançando, flores e sorrisos. Não é o retrato de um casal real, entretanto é uma obra de arte digna do significado que tem. Os traços que seja lá quem utilizou para fazer cada detalhe, simplesmente me deixa entorpecida. As cores vibrantes e a sensação de calor que a obra transmite é surreal. Ela é perfeita. A pouca esperança que tinha antes de vencer o concurso e ganhar o dinheiro do prêmio, se vai como água no ralo e afundo mais ainda na cadeira, voltando a atenção para o meu casal. Ou melhor dizendo; tento olhar para o meu casal, já que várias cabeças impedem que eu veja minha pintura. Tranco a respiração quando dentre elas, encontro a cabeça do professor e percebo que ele fala e vários outros colegas de classes meus, concordam com a cabeça. Ele... Ele está usando a minha obra como ensinamento? Consigo fazer com que meus pulmões voltem a trabalhar, no entanto eles logo param novamente, quando o grupo que estava à frente da minha pintura se abre e o professor no meio deles olha ao arredor da sala, parando seus olhos e seu sorriso em mim. Não é apenas o mais velho entre todos aqui que está sorrindo, há diversos outros sorrisos vindos na minha direção também e isso me faz afundar ainda mais na cadeira, mesmo que meus joelhos já estejam entrando nas costas da cadeira à minha frente.

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