𝒸𝒶𝓅í𝓉𝓊𝓁𝑜 𝓈𝑒𝓈𝓈𝑒𝓃𝓉𝒶 𝑒 𝓈𝑒𝓉𝑒

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"When you look at me

And the whole world fades

I'll always remember us this way"

Lady Gaga - Always Remember Us This Way

Seria pela manhã. Ou perto da hora que o dia vira tarde, Calum não tinha certeza. Ele possuía duas certezas, no entanto. A primeira era que, no instante que Michael atravessasse as grades da cela, o perderia. Não importava quantas horas prolongariam a sua vida nos corredores desta prisão e na outra - onde estava a cadeira elétrica -, a cela era o último lugar que o veria vivo. A segunda certeza era que Michael não veria o sol se pôr; antes dos indícios da escuridão, seu corpo já estaria gelado e sem vida, a sua alma, sabe-se lá onde estaria - se é que estaria em algum lugar. 

Contra a sua vontade, Calum fez um paralelo da morte de Michael com a morte de seus pais. Como seus pais, Michael partiria em plena luz do sol, na hora que os perigos que um dia Hood tanto temeu, pareceram distantes. Ao ficar órfão, descobriu que o perigo está em todo lugar e a qualquer minuto, sem marcar uma hora ou dia para acontecer, mas não precisava de uma nova demonstração. De novo, o sol tiraria dele uma pessoa que ele amava e que fez moradia em seu coração. 

Mas o sol não o levaria quando fosse a sua vez, Calum se negava.

Os raios de luz e os barulhos da prisão despertaram Michael e Calum de seu mundo particular. Não informaram Clifford o horário de sua execução, disseram que seria cedo e, por cedo, concluíram que seria antes do café da manhã. E Michael, temendo por seu melhor amigo que alguém os visse juntos, pediu para esperarem na cama debaixo.

No entanto, ainda que sentisse medo das represálias que Calum poderia sofrer, ao se acomodarem na outra cama do beliche, não manteve suas mãos longe do amigo. Imediatamente, as mãos de ambos se encontraram em cima de suas pernas e entrelaçaram os dedos. Calum não se importava em ser visto, não ligaria para as opiniões e conclusões alheias em troca de ter a pele de seu amigo encostada na sua, de sentir o calor dele.

Estavam inertes, com seus olhos presos nos dedos entrelaçados e os pensamentos vagando, que não viram a aproximação de três carcereiros; dois que conheciam de vista, um deles, que conheciam muito bem.

- É hora - a voz de Ashton reverberou na cela, grossa e rígida, uma ordem para ser seguida de imediato. Ao menos, era exatamente assim que seus colegas carcereiros ouviram, que combinava com a figura que Ashton era perto das pessoas com quem ele trabalhava. Mas Calum e Michael notaram, escondida por baixo das camadas de sua autoridade, a tristeza em sua voz. Ele também estava perdendo um amigo. - Detento, é hora.

Cada sílaba era dolorosa de ouvir e dizer.

Com medo dos dois carcereiros desconhecidos, que poderiam entrar na cela e tirá-lo a força de onde estava, Michael fez um breve aceno com a cabeça. Levantou-se da cama e Calum o acompanhou.  

Para se despedirem, ficaram na frente um do outro. 

Passaram a noite inteira acordados. Durante a madrugada, conversaram diversos assuntos: o futuro de Calum, a infância dos dois - as boas memórias que tinham quando eram menores -, as lembranças em comum na prisão e como se divertiram em muitas delas. Ficaram abraçados, da hora que Ashton saiu, até a hora que o mundo conhecido por eles despertou, os braços de Michael estavam em volta de Calum e vice-versa. Na proporção que riram desenfreadamente, choraram; Calum chorou por perder o amigo e por logo estar sozinho, Michael chorou por deixar o seu amigo, e por tudo que perderia nas horas seguintes. 

Give My Love To Luke - muke clemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora