𝒸𝒶𝓅í𝓉𝓊𝓁𝑜 𝓊𝓂

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We keep this love in a photograph
We made these memories for ourselves
Where our eyes are never closing
Hearts are never broken
And time's forever frozen still
Ed Sheeran - Photograph

Verão, 1965

Os dias na prisão eram normais como qualquer outro. Tão iguais que se não houvesse um calendário no refeitório e as anotações em seu diário, Michael nem saberia que dia da semana era. Maldita rotina que o fazia perder a noção do tempo, ainda mais agora, onde o tempo era uma das coisas que ele menos tinha.

Ele acordava de manhã, ia ao refeitório tomar café da manhã e voltava para sua cela e lá ficava até a hora do almoço. Depois ele retornava ao refeitório para o almoço. Então, após um tempo, ele iria para o pátio e, depois, para o trabalho que os presos faziam na prisão, para recompensar os gastos que eles tinham. E no final do dia, ele passava e corrigia algumas lições que ele dava para Calum.

O homem mal sabia ler e escrever quando Michael o conhecera. Clifford se sentiu mal por Calum quando estava lendo um livro e o homem de olhos puxados ficou observando as letras que havia na página, dizendo que o livro era ruim para disfarçar que não entendia coisa alguma. Ao reparar que Calum estava falando da boca para fora, Michael pediu para que ele lesse e não se surpreendeu ao ver que o moreno não sabia nada do que estava escrito. Michael se sentiu pior quando descobriu que Calum só sabia escrever o seu próprio nome, ainda mais porque já se sentia próximo do homem.

Por esse motivo, Michael começou a ajudá-lo. Fazia-o ler os livros que tinha na biblioteca da prisão e escrever um resumo sobre cada um deles. Também dava aula sobre regras gramaticais, o ajudava na ortografia. Coisas que um professor ensinaria para o seu aluno. Muitas vezes Calum ficava com preguiça ou encontrava algo muito difícil de fazer que o dava vontade de desistir, mas Michael insistia, dizendo que ao sair da prisão, tal aprendizagem seria muito necessária e que ele não podia desistir, e isso, claro, fazia com que Calum insistisse mais um pouco e deixar de lado qualquer obstáculo que ele mesmo colocava para aprender.

Michael também ensinou o que ele sabia de matemática, o que não era muito, pois Michael odiava matemática e sempre fora péssimo.

E com a janta no início da noite ele finalizava o seu dia praticamente.

Tudo normal, em seu lugar. Desde o primeiro dia que ele entrara neste presídio nada havia mudado muito. Até agora...

A chegada da noite começou a diferenciar bastante desde o dia que Michael conhecera o carcereiro. Normalmente, Michael ficava acordado escrevendo até que a exaustão o alcançasse e ele desmaiasse na cama, ou ele simplesmente tirava a sorte e dormia de primeira. Porém, agora, Michael tinha frequentemente episódios de insônia, e o carcereiro estava sempre passando e de olho nele.

Muitas vezes, ele só passava e apontava a lanterna direto no olho de Michael, cegando-o pela luz repentina. Outras vezes, ele ofendia Michael, o chamando de viado, erro, aberração, coisas do tipo. Sempre capazes de magoar. E todas as vezes, seja com a luz ou com a ofensa, o homem soltava uma risadinha falsa e irônica. Aguda e irritante.

O homem de olhos verdes pensava que se talvez conhecesse o homem em alguma outra situação, ou em algum outro lugar, se Michael não fosse um presidiário e esse homem um carcereiro, se esse homem não fosse desprezível, Michael talvez gostaria da risada dele.

O caso era simples, o homem gostava de irritar Michael, como se estivesse no controle e Clifford fosse um alvo para fazer piadas. Entretanto, Michael decidiu não responder, não mostrar se afetar pelas palavras, porque, afinal, já havia escutado-as tantas vezes que nem fazia mais diferença. E a falta de reação de Michael, instigava o homem a piorar mais e mais as provocações.

Give My Love To Luke - muke clemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora