𝐌𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑𝐏𝐈𝐄𝐂𝐄, harry potter

𝐘𝟓: The Reunion

Estava frio, mas não o suficiente para que nevasse. A medida que caminhávamos pelas ruas movimentadas de Hogsmeade, as folhas secas de outubro se desfaziam sob nossos pés, sujando as pedrinhas que ficavam por entre as linhas das calçadas.

Àquela altura, eu estava começando a me arrepender de ter saído do castelo sem um agasalho extra. As pontas dos meus dedos sem luvas congelavam, e não havia bolsos em meu casaco para que eu pudesse escondê-los da ventania amena. Devia estar fazendo mais ou menos 10°C, e a pouca luz solar existente atravessava um punhado de nuvens acinzentadas na forma de pequenos feixes.

Harry e eu andávamos lado a lado, um pouco atrás de Ron e Hermione. Seus dedos cobertos por luvas acariciavam os meus, fazendo meu estômago dar cambalhotas. Tal sensação de euforia era tão grande que estava começando a me irritar; mas eu nunca — jamais — reclamaria. Achava que sentiria borboletas para o resto da vida.

— Para onde você disse que estamos indo mesmo, Hermione? — perguntou Harry, finalmente deixando de brincar com minha mão e entrelaçando seus dedos aos meus. Era a primeira vez que fazíamos isso em público, e tenho que admitir que gostei bastante da sensação (de mostrar ao mundo que eu era apenas dele, e que Harry era meu). Encarei-o, e um sorriso apaixonado ameaçou se formar em meus lábios. Comprimi-os quando o menino me observou de volta e desviei o olhar, envergonhada. Harry sorriu, beijando as pontas dos nossos dedos entrelaçados. — Ao Três Vassouras?

— Ah, não — respondeu Hermione. — Lá está sempre muito lotado e barulhento. Disse aos outros que nos encontrassem no Cabeça de Javali, que é fora da estrada principal. Não fica depois dos limites da aldeia, então não estamos quebrando nenhuma regra que possa enfurecer Umbridge. 

— Bem, então vamos logo, por favor — disse Ron, cujos braços tentavam aquecer o próprio corpo. — Estou congelando.

— É, eu também — concordei.

Harry parou de andar na mesma hora, tirou o moletom que usava por baixo do casaco e entregou-o a mim.

— Você vai ficar com frio, Hazz.

— Não vou não, nem se preocupe com isso. O seu bem estar é mais importante.

Para mim, o dele também era. E Harry sabia disso. Quando tentei lhe devolver a peça de roupa, Hazz me fez vesti-la por cima do casaco que eu já estava usando. Seus dedos ajustaram o moletom em meus braços, colocaram meus cabelos para trás das minhas orelhas e levantaram o capuz, puxando as cordinhas que pendiam da costura e praticamente escondendo parte do meu rosto do frio. Soltei uma risada, e Harry beijou a pontinha do meu nariz, e depois minha boca. Tirei o capuz da minha cabeça e Harry colocou-o de volta, como se estivesse cuidando de mim. Estava.

Ron olhou para Hermione, esperançoso, mas a única coisa que a garota fez foi revirar os olhos.

— O que você quer que eu faça, Ronald? Que controle o tempo?

O sorriso confiante do ruivo murchou, fazendo-a rir. Hermione lhe deu um empurrão carinhoso com o ombro, e Harry voltou a entrelaçar nossas mãos.

Após alguns minutos de caminhada, chegamos ao Cabeça de Javali. O lugar era úmido e mal iluminado, mas sua atmosfera se encontrava razoavelmente quente. Os móveis em tons de marrom-escuro estavam muito empoeirados, e o chão parecia ser de terra batida. Ao entrarmos, porém, pude notar que era de pedra, mas que parecia ter sido feito há muitos e muitos anos; talvez séculos. Se ali houvessem tochas ou lamparinas sobre as mesas circulares, eu poderia jurar que estávamos usufruindo de um cenário medieval.

As poucas pessoas que estavam ali olharam para nós conforme nos dirigíamos a uma mesa mais afastada, como se estivessem avaliando as circunstâncias. Havia um homem no bar que trazia a cabeça toda envolta em sujas bandagens cinzentas bebendo algum tipo de licor muito forte num copo pequeno, mas que estava cheio até a metade; dois vultos encapuzados, que conversavam num sotaque bem forte e arrastado, junto à janela; e uma bruxa, de aproximadamente um metro e cinquenta, usando um véu escuro que cobria-lhe da cabeça aos pés, sentada num canto sombrio junto à lareira.