𝐘𝟔: Whispers and Secrets

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N/A: sei que disse que o nome do capítulo seria Harry, The Cook, mas achei que esse faria mais sentido. Boa leitura!

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Remus estava numa situação pior do que eu ousara imaginar. Apesar de ter um sorriso no rosto sempre que eu o encontrava, o estado da casa refletia seu interior: bagunçada e meio vazia, com os quadros das paredes faltando. Não sei onde todas aquelas pinturas tinham ido parar.

Fiquei estacionada na soleira da porta por um bom tempo, apenas olhando em volta. Eram lembranças demais, mas não foi tão doloroso quanto achei que seria, porque a sensação de pisotear meus próprios medos me inundou como uma onda. Gostei disso. Ao menos, meus pés ainda controlavam o corpo, e minha mente sabia o que estava fazendo.

— Deixem as coisas de vocês lá em cima, está bem? — pediu Remus, como se nada estivesse acontecendo, despertando-me de um sono de inconsciência. — Depois lavem as mãos e desçam. Vou começar a preparar o jantar, para não perdermos tempo.

Harry e eu carregamos nossos malões até a escada, sendo necessário um pouco de força para subir com eles. O caminho até nossos quartos ainda era nítido em minha memória. Eu poderia traçá-lo de olhos fechados. Mas Harry e eu, que não dormíamos mais sem o outro, decidimos ficar no meu, onde alguns dos livros que papai me dera ainda jaziam na estante. Fiz uma nota mental para carregá-los comigo quando fôssemos embora.

Deixei que meu malão ficasse no chão mesmo, não importava.

Eu conhecia tudo aquilo com a palma de minha mão e, no entanto, sentia que estava num lugar estranho. A cama arrumada parecia nunca ter sido usada, e as cortinas estavam fechadas, o pano grosso feito de pequenas estrelas parecendo uma cascata que cintilava sob o luar, em um degradê de rosa-salmão que mudava para o prateado. Eu havia escolhido aquela combinação porque tinha acabado de ler a série Corte de Espinhos e Rosas, e achava que servia para realçar a coloração dos tapetes que enfeitavam o chão. Hoje, era poluição visual diante de meus olhos.

Senti uma mão de Harry em meu ombro, num aperto confortável. Ele disse:

— Se não gosta das cortinas, podemos pedir que Remus mude a cor, usando magia. Ele não vai se importar.

Olhei para elas por mais uns segundos.

— Quer saber? — disse eu. — Gosto delas, sim. Mesmo que doam nos olhos. Elas me trazem a lembrança de uma época feliz.

Como resposta, Harry apoiou o queixo em minha cabeça, mantendo-me junto a si.

— Preciso descer — disse meu namorado, relutante. — Quando o assunto é cozinha, Remus fica bastante estressado. Você vem, ou quer ficar um pouco sozinha?

— Vá na frente. Vou lavar as mãos, e já desço.

— Tudo bem.

Harry deu um beijo em minha têmpora e saiu do quarto, fechando a porta para me dar privacidade. Meu namorado tinha uma mania estranha de só querer lavar as mãos na pia da cozinha, por mais que Remus brigasse com ele por conta disso.

Depois de observar meu quarto por mais um tempo, decidi tomar um banho rápido e me trocar. Lavei meu cabelo, passei perfume e desodorante e coloquei roupas confortáveis, com um moletom branco de Harry por cima da camisa larga que eu normalmente usava para dormir. O espelho do banheiro estava decididamente embaçado quando tentei observar através dele, mas não fazia diferença. Às vezes eu não reconhecia meu próprio reflexo, de tanto que tinha mudado.

Uma vez pronta, peguei o livro que estava lendo e desci as escadas com ele junto ao peito, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, e instintivamente os dedos de minha mão direita deslizaram sobre a superfície envernizada do piano de cauda que enfeitava a sala de estar. Agora que não havia mais segredos entre Harry e eu, o medo não viria como antes, quando a vergonha falava mais alto que o bom senso.

𝐌𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑𝐏𝐈𝐄𝐂𝐄, harry potterOnde histórias criam vida. Descubra agora