𝐘𝟕: Death Comes

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e haja só amizade verdadeira
duma caveira para outra caveira,
do meu sepulcro para o teu sepulcro?!

– augusto dos anjos, "idealismo".

⚠️: sangue, tortura, morte.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Quando deixei o escritório de Dumbledore, com minha varinha e meu novo frasco de veneno no bolso da calça, segui para fora do castelo. Estava frio, mas o casaco de Harry me aquecia bem; e embora fosse cedo, o céu escuro era como uma assombrosa pintura da noite.

Todos se reuniam no Pátio Principal. Conforme me aproximei, vi Voldemort, que chegava perto da multidão, e seu exército atrás. Vi Maddie, que visivelmente era controlada pela Maldição Imperius; vi Bellatrix. Fiquei chocada que ela estava viva, mas era de se esperar, considerando que não morreu em nenhuma das outras ocasiões.

As pessoas abriram passagem quando me viram, permitindo que eu ficasse cara a cara com meu segundo maior inimigo (Bellatrix ocupava a primeira posição, por questões pessoais). Meus amigos tentaram me impedir, me chamando, e minha mãe até pareceu querer segurar minha mão; no entanto, eles sabiam que aquele era meu destino. Mais do que isso, sabiam que era meu direito, pois eu merecia mesmo uma vingança saborosa. Nem que morresse tentando.

Uma dor dilacerante e aguda envolveu minhas entranhas e esmagou meu coração quando vi que Hagrid, ainda acorrentado, segurava Harry. Resisti ao impulso de chamá-lo através de nosso laço de almas gêmeas, porque eu não queria que Harry não respondesse. E pelo modo como seu corpo pendia molemente, balançando um pouco porque Hagrid chorava sem controle, Harry não diria nada mesmo.

Só percebi que estava chorando porque Voldemort, ao me encarar, começou a rir. Mantive seriedade e permaneci quieta, mesmo querendo explodir de raiva contra ele. Eu nunca lhe daria esse gostinho. Por Harry, eu seria forte, e mostraria que eu era capaz de vencê-lo.

Minha dor era tamanha que eu não conseguia gritar, não conseguia pensar em nada letal o suficiente. Eu poderia matar, torturar, destruir, queimar e mutilar cidades inteiras; e ainda desejaria mais. Mais sangue, mais sofrimento; mais carnificina por todas as noites em que eu reviveria, em meus sonhos, meus últimos momentos com Harry, e pelas ruínas que foram deixadas a mim para sofrer. Agora que eles me deram todos os motivos do mundo, eu finalmente abraçaria o nome que fazia jus a meu poder. Morte, pois assim dizia Agouro em sua profecia traçada nas estrelas, sob a redoma de folhagens escuras da Floresta Proibida, antecedendo intensos momentos de agonia:

A Morte se aproxima, Mckinnon Black. Acontecerá ao amanhecer.

Durante todo aquele tempo, essa frase falava de ninguém menos que eu mesma, e do sofrimento que viria quando o momento chegasse.

Mas não havia mais o que me impedisse, porque eu não tinha mais o que perder. Não sobrou nada. Então, juntei os cacos de vidro que compunham o restante de meu coração e decidi que eles já tinham perfurado minha carne fazia tempo. Não havia mais motivos para eu ter medo de mim mesma, e eu sabia que era isso o que os aterrorizava. Foi a razão pela qual Voldemort desistiu de me ter em seu exército, e foi a razão pela qual Dumbledore disse a Snape que eu era a chave; a peça final de um elaborado quebra-cabeça. Era hora de mostrar que deveriam me temer.

HARRY POTTER ESTÁ MORTO! — anunciou Voldemort.

Os Comensais da Morte começaram a rir, mas isso não foi nada comparado ao som da desesperança que aflorava em nosso lado do campo minado. Minerva gritou, alto e estridente. Ron e Hermione também, de tristeza. Eu não tive forças. Apenas encarei o sorriso cruel e podre de Voldemort, desejando quebrar cada um de seus dentes, enquanto lágrimas escorriam sobre minha face e eu mordia o interior de minhas bochechas, sentindo o gosto metálico de sangue.

𝐌𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑𝐏𝐈𝐄𝐂𝐄, harry potterOnde histórias criam vida. Descubra agora