Estava escuro, úmido e frio. Arrepios percorriam minha espinha dorsal, refletidos nas pontas duplas de meus cabelos e nas unhas de meus pés.
Obviamente que era um sonho; senão, eu não estaria, outra vez, beirando afundar nas águas profundas do Lago dos Inferi. A ilha de cristais em que eu estivera na noite em que Dumbledore morreu permanecia igual. Procurei por ele, assim como por Harry, forçando a vista para onde eu sabia que localizava-se a entrada da caverna. Pensei que talvez estivessem a caminho, naquele barquinho que ficava no outro lado, mas, após minutos torturantes, ninguém surgiu das sombras. Ninguém chamou por mim; ninguém tentou me ajudar a deixar a ilha de maneira segura.
Ainda assim, esperei; e enquanto isso, o tempo se dissolveu por entre meus dedos, tornando-se líquido e impreciso, impossível de segurar e, ao mesmo tempo, de deixar escapar pelos espaços vazios. Foi excruciante. Tanto que, parando para pensar, houve um momento em que eu não soube direito dizer pelo quê esperava.
— Você deveria pular — disse uma voz, atrás de mim.
Com um sobressalto, virei-me, deparando-me com o rosto de meu tio: Regulus Black. A cada vez que eu sonhava com ele, nossas conversas iam ficando mais estranhas; sem propósito. Ou será que havia, e era eu quem não enxergava? Provável.
Regulus inclinou a cabeça, dando um sorrisinho igual ao de papai. Por um instante, como das outras vezes, pensei tê-lo visto. Mas me enganei.
— Para quê? — perguntei, desconfiada.
— Há uma espada no fundo do lago — explicou Regulus. — Passei muitos anos submerso. Sei que essas águas estão conectadas às demais da Escócia, porque sinto. Aqui — ele apontou para a própria cabeça. — Que cara é essa? Não me diga que achou que eu era Sirius.
Revirei os olhos, recusando-me a encará-lo.
— Papai nunca me assombraria após a própria morte, então é meio óbvio que ele não é você.
Regulus deu uma risada sombria que em nada se parecia com a de meu pai, apesar do sorriso. Era fria, proveniente dos abismos do inverno.
— Tão previsível.
— Deixe-me em paz.
Ele deu de ombros, andando até que estivesse ao meu lado. Nos encaramos por nossos reflexos, através da água escura.
— Só quando você pular.
— Para quê? — repeti.
— Já expliquei. Faz parte de sua missão. A não ser que já saiba o que fazer com o Poder da Destruição.
Sobressaltei-me.
— Quem te disse?
— Estou conectado a você, querida sobrinha, através do sangue. Sei de muitas coisas.
Quando não respondi, Regulus me fez olhá-lo de frente. Parecia tão real, tão próximo de mim, que pensei estar vivenciando um momento verdadeiro. Na minha cabeça, pelo menos, era.
Ele apertou meu pescoço, forte o suficiente para me fazer arquejar. Era isso, Regulus me mataria por não cumprir com o proposto. E eu nem teria tempo de dizer adeus.
— Você sabe que está destinada à Morte.
Trinquei os dentes, contraindo o maxilar, tremendo de ódio. Mas o destino já fora traçado.
— Sei.
— Então mergulhe — disse, e me atirou no lago.
Busquei por oxigênio, por qualquer apoio. Não adiantou. Os mortos começaram a me puxar rumo às profundezas, agarrando meus cabelos, braços, e pernas, decididos a cobrar a vingança da própria morte, cometida por mim. Que audaciosa, humana infeliz que mata o que não mais respira. E se pensei em argumentar, as palavras morreram conforme Regulus observou, lá de cima, com um sorriso de triunfo no rosto, os primórdios da minha Destruição.
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𝐌𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑𝐏𝐈𝐄𝐂𝐄, harry potter
Fanfiction𝐚𝐫𝐭𝐞. substantivo feminino ? १ 𝐢. produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um 𝐢𝐝𝐞𝐚𝐥 𝐝𝐞 𝐛𝐞𝐥𝐞𝐳𝐚 e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana. 𝐢𝐢. forma de agir; maneira, jeito. 𝐢𝐢�...