𝐘𝟔: Dirty Little Secret

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⚠️: conteúdo sensível.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

A cada aula que tínhamos de Transfiguração, eu sentia que o conteúdo ficava mais difícil. Não era uma matéria na qual eu costumava ter dificuldades, mas aquela única nota baixa que tirei no início do semestre foi o suficiente para me deixar muito ansiosa, especialmente quando Minerva passou de mesa em mesa entregando os deveres de casa corrigidos.

Havia três pessoas na minha frente, e eu estava contando os segundos, nervosa. Era inevitável. Meu cérebro começava a trabalhar muito mais rápido, desejando que o momento chegasse e que ao mesmo tempo acabasse logo, e eu mordia os lábios para aliviar a tensão. Certo, eu vinha fazendo isso com bastante frequência. Quando apenas meus dentes sobre a carne de minha boca se provaram ineficazes, passei a apertar minhas unhas longas contra as palmas de minhas mãos. E quando isso não se mostrou o bastante, comecei a comer menos como forma de punir meu próprio corpo.

Não que eu estivesse insatisfeita comigo mesma, mas precisava descontar toda aquela ansiedade em algum lugar.

Poucas pessoas perceberam que eu estava agindo daquela forma, o que de certa maneira foi um alívio, mas Harry obviamente notou. Na noite anterior àquele dia de entrega de provas, meu namorado conversou comigo sobre eu precisar me alimentar melhor, e eu tive uma crise de pânico porque estava me sentindo terrivelmente culpada por nenhuma razão em específico, e comecei a chorar muito, muito mesmo. Harry me abraçou até que a crise passasse, sussurrando palavras gentis em meu ouvido, e, depois de um diálogo bem extenso, ele me convenceu a comer um pãozinho com manteiga e beber um copo de suco.

Harry constantemente me perguntava se eu estava bem, e se queria alguma coisa. Eu dizia que estava ótima, mas acho que ele não acreditava muito. Além disso, parte de meus pensamentos concentravam-se nos sonhos que foram se tornando cada vez mais frequentes. Era difícil controlar aqueles poderes desconhecidos que espreitavam sob minha pele, principalmente porque não queria que Harry ficasse preocupado demais comigo, mas eu fazia isso mesmo assim — mesmo que custasse muita energia e concentração. Talvez esse fosse o motivo pelo qual eu tinha sono durante a maior parte do tempo, com picos de energia em horários improváveis.

A professora finalmente veio em minha direção, com um sorriso reconfortante no rosto. Hermione, que dividia a mesa comigo desde que Ron beijara Lilá (ela se recusava a falar com ele), segurou minha mão.

— Vai dar certo — murmurou ela.

— Vejamos... Srta. Black — Minerva buscou por meu nome em meio aos papéis em suas mãos, finalmente encontrando o que procurava. Meu coração batia muito rápido, enlouquecido. E quando meus olhos pousaram sobre a nota escrita em tom alaranjado...

"A". Não "E" de "Excede Expectativas" ou "O" de "Ótimo", mas "A" de "Aceitável". Grande merda.

Larguei o exame sobre a mesa, frustrada. Eu me recusava a chorar por tal motivo, mas meus olhos cheios de lágrimas me traíram mesmo assim. Faça-as voltar, aquela parte maligna de meu cérebro sussurrou para mim, em tom perverso. Enxugue-as agora, porra. Você não vai chorar, ouviu?

E aquela escuridão foi tomando conta de mim, como se meus pensamentos fossem a junção das copas das árvores de uma floresta fria e densa que nunca terminava. Senti quando as sombras ameaçaram fluir por entre os espaços mínimos de minhas unhas e pelas vias lacrimais de meus olhos, e todos os meus gritos sufocados ocasionados pelo medo e pelo ódio que eu sentia por mim mesma querendo tomar forma, pronunciando-se de uma só vez, confundindo minha cabeça e embaralhando meu cérebro.

Doeu como se minha pele fosse um amolador de facas, mas aguentei porque achava que merecia. Eu merecia tudo de ruim que o mundo tivesse a me oferecer e ainda acabaria mais quebrada a cada vez, a fluidez da fumaça expandindo as dobras grotescas de minha estrutura danificada conforme ia se alastrando.

𝐌𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑𝐏𝐈𝐄𝐂𝐄, harry potterOnde histórias criam vida. Descubra agora