𝐘𝟔: What Starts, Ends

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as cinzas guardam
as últimas confidências do fogo.

– ramón gómez de la serna.

⚠️: conteúdo sensível para algumas pessoas.

.˚﹟ 𓂅 ♡ ᵎ ˖ ˙ Ϟ 𐄹 १

Tentei gritar, mas Draco provavelmente enfeitiçara os arredores da Torre de Astronomia para que ninguém ouvisse. Também tentei usar meus poderes, o que não adiantou muito. Não era algo sobre o qual eu tinha controle, e no momento eu estava desesperada demais para conseguir reunir concentração suficiente.

Quando minutos intermináveis se passaram e o silêncio penetrou meus ouvidos, sendo minha respiração o único ruído, pensei. Se força bruta e magia não adiantariam, poderia tentar uma estratégia diferente: minhas habilidades manuais. Como artista, era jeitosa quando efetuava o manuseio de pequenos objetos, acostumada aos pincéis de ponta fina e esponjas para toques finais. Portanto, deveria encontrar o que pudesse me servir.

Assim, após minutos de procura, achei um parafuso longo o bastante para que fosse encaixado à fechadura, amassado na ponta. Então, com cuidado e muito esforço, obtive sucesso.

Ao escancarar a porta, prendi a respiração, meio que esperando escutar o som de feitiços jorrando e gritos ecoando pelas correntes de ar. No entanto, silêncio. Isso fez meu coração bater muito rápido devido à adrenalina: quietude demais quase nunca significa coisa boa.

Desci as escadas correndo, esperando me deparar com um monte de corpos e mobília destruída, mas isso não aconteceu. Havia um pouco de sangue no chão, sim, mas nada preocupante ao extremo. E os corredores pareciam vazios, sem ao menos um fantasma preenchendo as lacunas.

Segui, então, para o lado de fora do castelo, porque os portões da frente estavam abertos, e as luzes, acesas. E, aparentemente, todos acordados.

Fileiras e mais fileiras de estudantes de todas as idades amontoavam-se aos pés da Torre de Astronomia, em torno de onde jazia o corpo de Alvo Dumbledore. Reconheci as costelas quebradas e o ângulo estranho em que se posicionava um dos braços em relação ao restante do corpo. Sangue seco pontilhava uma porção de seu crânio, os oclinhos de meia-lua caindo-lhe do nariz torto.

O cenário era triste e fazia pena. Com Dumbledore morto, as forças de Hogwarts não seriam mais as mesmas. A notícia espalharia-se como água no dia seguinte, e muitos pais buscariam seus filhos às pressas, à procura de um local seguro. Não haveria muito em quê pôr esperanças senão nos boatos (verdadeiros) de que Harry era O Eleito.

Cheguei mais perto, e as pessoas afastaram-se para me deixar passar, uma por uma, formando um pequeno caminho de sombras. A essa altura, acredito que ninguém fosse ter o trabalho de perguntar sobre a fumaça que saía de mim e que fluía por entre pés e tornozelos como um abraço. Deixei que escapasse, pois é nas horas mais escuras da madrugada que os verdadeiros sentimentos florescem como ramos, entremeando-se em raízes e ervas daninhas.

Precisávamos mesmo de sentimentos verdadeiros. Com urgência.

Harry ajoelhava-se próximo ao corpo, os ombros encolhidos de tristeza. Quando percebeu que eu me aproximava, começou a chorar, sem ligar que todos estavam vendo. Ajoelhei-me também, nós dois lado a lado, como sempre havíamos sido, e abracei-o com força. Desejei tanto tomar suas dores para que o desespero amenizasse, mas talvez não fosse tão simples: éramos a cura um do outro, mas também o veneno. Por esse motivo, a conexão entre nossas mentes mostrava-se tão intensa.

Ele chorou contra meu pescoço quando permiti que apoiasse a própria cabeça nele, fungando baixinho. Fiz carinho em seus cabelos, segurando-o em minhas mãos como se fosse ruir, e ainda assim sua dor parecia enorme.

𝐌𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑𝐏𝐈𝐄𝐂𝐄, harry potterOnde histórias criam vida. Descubra agora