𝐘𝟕: Breaking Hearts

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Novembro chegou num piscar de olhos, com galhos secos de árvores e ventos gelados, cortantes como navalhas. Em breve, nevaria. Devido à rigidez do frio, seria um pouco mais difícil de nos deslocar. 

Mal usamos a TV que Harry trouxera, antes que quebrasse. Era bem velha, danificada pelo tempo e pela umidade do ar. Hermione pareceu satisfeita quando aconteceu; Ron pouco se importou.

Sem notícias de nada nem de ninguém, seguimos nosso caminho. Às vezes, eu permitia que minha mente afundasse nos pensamentos depressivos de que eu nunca mais poderia ver minha família. Maddie, Dorcas, Remus, minha mãe. Além disso, havia Draco. Ele se arrependia de ter fugido, deixando-me para trás, na Torre de Astronomia, ou se orgulhava por tê-lo feito? Estaria vivo? Os Comensais teriam descoberto acerca de sua traição?

O que mais me intrigava, no entanto, era o sumiço de minha irmã. Como uma auror conhecida, filha de uma das bruxas mais famosas do mundo, não virara notícia de especulação mundial? Ainda que não fosse querida pelas forças das Trevas, àquela altura, já deveríamos ter ouvido falar do caso.

Quando eu pensava em Maddie, era impossível não recordar de Ginny. As lembranças do último natal que tivemos na Toca ainda assombravam minha memória, como fantasmas. Depois de tanto tempo desaparecida, nem mesmo eu conseguia acreditar que estava viva. E supondo que fosse alimentada (na melhor das hipóteses), nada garantia que a comida não continha veneno.

No geral, minha rotina era a mesma, sempre. Acordava, tomava café, ouvia o diálogo de Harry com Hermione acerca de nosso próximo destino. Além disso, vasculhávamos os arredores, para nos certificarmos de que não estávamos deixando nada passar. Depois do almoço, Harry e eu treinávamos até a exaustão, cozinhávamos o jantar e conversávamos até dormir. Hermione participava mais do que Ron, embora preferisse a companhia noturna de um bom livro. Dizia que meu namorado e eu precisávamos de um tempo sozinhos. Nunca contestei, mas sentia falta de nossa dinâmica em Hogwarts; os dias pareciam melhores quando não estávamos correndo contra o tempo.

Ron, por sua vez, voltou a ficar mau humorado; mesmo após conseguirmos comida. Cismou em usar o medalhão no pescoço, de modo que isso passou a fazer parte da rotina dele. Retirava-o apenas para comer e dormir. Hermione acabou aceitando. Segundo ela, Ron usava o medalhão para compensar o sentimento de inutilidade que habitava seu peito. Todos estávamos sem rumo, mas até eu admitia que ele parecia pior. E se ficar com aquela Horcrux de merda fosse manter a sanidade dele no lugar, ainda que evitasse a nossa, por mim, tudo bem.

Em um dia particularmente frio, quando entrei na barraca com Hermione, após sairmos para procurar lenha, me deparei com Ron, Harry, e um aparelho de rádio.

— O que está fazendo? — perguntei ao ruivo, que mexia aleatoriamente em todos botões.

— Tentando encontrar uma frequência. Exige concentração, em especial...

— Onde você conseguiu um desses? — quis saber Hermione, referindo-se ao aparelho.

Ron deu de ombros.

— Aqui mesmo, na barraca. Acho que era de meu pai.

— Ah.

Hermione seguiu até a cozinha, deixou a lenha sobre a mesa e tornou a sair da barraca para buscar mais. Eu faria o mesmo. Antes de acompanhá-la, porém, puxei Harry para um canto, aproveitando que Ron estava entretido com o aparelho de rádio, para perguntar:

— Senti sua cicatriz doer. Está tudo bem?

Harry deu de ombros.

— Acho que ele está com raiva de alguma coisa. Na verdade, "frustrado" é melhor. Toda aquela história de Gregorovitch só serviu para irritá-lo — respondeu Harry, referindo-se, obviamente, a Voldemort.

𝐌𝐀𝐒𝐓𝐄𝐑𝐏𝐈𝐄𝐂𝐄, harry potterOnde histórias criam vida. Descubra agora