01. Prodígio das poções

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Severus acordou na manhã seguinte com uma forte dor de cabeça e uma cama vazia. Potter se foi, assim como sua capa.

— Você está bem? — ele disse para sua pulseira, mas não houve resposta. Talvez o menino tivesse adormecido novamente. Ele teria que enviar um restaurador. Certamente Potter iria querer um quando acordasse. Ele não tinha lidado muito bem com o álcool, o que Severus provavelmente teria previsto se tivesse pensado um pouco mais. Ou mesmo.

Ele preparou o chá e tomou um gole devagar, depois tentou mais uma vez.

— Potter?

Nada. Sim, ele deve estar dormindo.

Bom.

Severus passou a manhã preparando algumas novas lembranças para o Lord das Trevas. Agora que Potter lhe deu a dica, ele precisava fazer isso, e aquele era um momento tão bom quanto qualquer outro. Sentado em silêncio à mesa, com a varinha na mão, ele fechou os olhos. Aprofundou e desacelerou a respiração. Sua frequência cardíaca diminuiu. Então, calmo e concentrado, voltou sua consciência para dentro de si e começou a vasculhar sua própria mente, categorizando, movendo as imagens e retirando aquelas que pretendia modificar. Ele começou a cortá-las, misturá-las e, em seguida, juntá-las em novas combinações. Afinal, era aí que estava seu verdadeiro talento. Não no ato de esconder, mas em mentir.

Ele pegou a memória de Harry sendo derrubado enquanto tentava e não conseguia repelir as maldições de Severus, e duplicou, fazendo-o cair cinco vezes, dez vezes. Ele apagou todos os seus sucessos. Ele se concentrou no rosto de Potter, olhando para ele do chão, cheio de incerteza, e acrescentou a isso o medo abjeto que ele sentiu no chão do quarto de Severus. Ele pegou suas palavras e as distorceu. Ele mudou, 'Eu não acho que isso vai funcionar' , e 'com Malfoy foi tão fácil' , para 'Eu não posso fazer isso. Com Malfoy foi apenas um acaso'. Ele acrescentou: 'Não sei como fiz isso' e 'meu nariz estava sangrando depois'.

Ele pensou um pouco. Voldemort disse a ele para desestabilizar Potter, se pudesse. Seria mais inteligente cortar todo o resto ou mostrar-lhe só um pouco? Potter em sua cama, talvez. Ou Potter perguntando, 'você vai me machucar?'

As marcas de unhas nas costas, talvez.

O que aconteceria com ele, perguntou-se Severus, se os Comensais da Morte soubessem? Se eles pensassem que Severus estava transando com ele. Que tinha estuprado ele, talvez. Se ele permitisse que Voldemort o visse deitado de costas, implorando. O que isso faria com ele?

Ele cortou tudo. Outra coisa. Fazer com que ele parecesse fraco, mas não daquele jeito.

'Eu deveria ser o escolhido. Mas eu sou apenas eu'. Isso era perfeito. Ele a embelezou. 'Estou com muito medo. Não sei o que fazer'. Não, Potter nunca diria isso. 'Não sei como devo lutar contra ele'. Melhor. Ele deixou o álcool. O Lorde das Trevas provavelmente gostaria da ideia de que Severus o estava alcoolizando, para se infiltrar em suas confidências. E depois? O colapso. 'Eu não queria dizer tudo aquilo'. E as lágrimas.

Ele acrescentou algumas lembranças de Potter parecendo péssimo e sem sono. Havia muitas para escolher. O garoto sentado à mesa da Grifinória, o rosto incolor, cercado pelos amigos e parecendo absolutamente sozinho. As sombras sob seus olhos. Lá. Potter instável, para o prazer visual do Lorde das Trevas.

Não havia necessidade de nenhum deles ver sua pele, ou seu sorriso, ou sua aparência quando acordava, e não havia necessidade de nenhum deles saber do que ele era capaz. Não até que fosse tarde demais.

Severus tomou banho, fez a barba e enviou um bilhete a Dumbledore solicitando uma reunião. Ele não recebeu resposta, mas provavelmente foi o melhor. Se Severus pudesse encontrá-lo logo, ele poderia perder a paciência.

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