07. A Toca

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Severus acordou em algum momento na escuridão da madrugada. Ele se virou, pretendendo voltar a dormir, mas viu que a luz entrava pela fresta sob a porta. Ele olhou por cima do ombro, viu que Harry havia sumido e pulou da cama. Ele havia deixado as masmorras? Severus não gostou da ideia de Potter sozinho naquele momento, e certamente não dele sozinho ao ar livre.

Harry não tinha saído das masmorras. Ele estava, na verdade, sentado no chão da sala diante de um fogo baixo e bruxuleante, enrolado em um cobertor e produzindo uma única faísca vermelha de cada vez, pairando-a sobre o dedo indicador e depois deixando-a cair no tapete, absolutamente silencioso.

— Você está... tentando me chamar? — perguntou Severus. Tentou falar suavemente, para não assustá-lo, mas Harry ainda deu um pulo e agarrou-se ao cobertor em volta dos ombros. — Ou estou interrompendo?

— Desculpe — disse Harry, virando o rosto. — Eu não consegui dormir. — Severus pensou que talvez ele estivesse enxugando os olhos, mas não conseguia enxergar.

— Não há necessidade de se desculpar — disse ele, entrando na sala. — Posso me juntar a você?

Harry hesitou, mas depois assentiu. Ele não se virou nem falou nada enquanto Severus se sentou em seu lugar habitual no sofá e cruzou as pernas, e Severus olhou para trás de sua cabeça por alguns momentos em silêncio antes de decidir tentar atraí-lo.

— Você teve um pesadelo? — ele perguntou. Harry encolheu os ombros com indiferença. — Ou era algo mais?

— Não foi nada — disse Harry finalmente. — Eu acabei de...

— Acordar?

— Sim.

— Você está com dor?

Harry ainda não olhou para ele, mas deixou o cobertor cair um pouco de seus ombros. — Não é tão ruim — disse ele.

Era ruim. Parecia que ele tinha estado em um campo de prisioneiros. As marcas eram absolutamente pretas. Todas elas. — Potter... — Severus começou, com um pedido de desculpas na ponta da língua, mas, no último instante, mudou de ideia. — Você quer se sentar comigo? — Harry olhou para o chão, depois para o fogo e, em seguida, para ele, com uma expressão opaca.

— Sim, ok — disse ele.

Seus movimentos foram muito cuidadosos quando ele se levantou e se sentou na beirada das almofadas, e embora Severus instintivamente estendesse a mão para tocá-lo, ele se conteve, lembrando-se de como Harry recuou de suas mãos na cama. Ele ainda poderia se retirar de qualquer conforto agora, e insistir seria um erro.

— Posso? — ele perguntou, e esperou, e quando Harry assentiu, Severus tocou seu ombro com muito cuidado, entre dois hematomas. — Eu não queria fazer isso com você.

Harry encolheu os ombros e puxou o cobertor até o pescoço. — Eu queria que você fizesse isso — disse ele. — Eu queria que você fizesse isso. Não se desculpe.

— Eu posso curá-los, se você me deixar — Severus murmurou, sem tocá-lo - sem saber onde seria seguro tocá-lo com o cobertor cobrindo sua pele.

— Não — disse Harry, encolhendo-se. — Não.

— E suas mãos? — Harry os escondeu nas dobras do cobertor. — Potter. Deixe-me ver, pelo menos.

Isso foi quase pior, seu pulso estava machucado pela luta e machucado na parte interna macia do braço e no osso. A pele de Severus arrepiou de simpatia ao ver isso.

— Harry — ele começou, mas Harry puxou seu braço de volta para o cobertor e desapareceu de vista.

— Não — ele disse novamente. — Não diga que sente muito.

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