10. Apenas um menino

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— O que você quer dizer com isso? — Severus perguntou. — Sirius te contou alguma coisa?

Harry sentou-se e cruzou as pernas. — Sim, ele fez. Mas ele me disse a mesma coisa que você acabou de me dizer... que o irmão dele era um Comensal da Morte, mas jovem, e ele ficou com medo e tentou desertar. Que eles o mataram por isso. Mas... — Ele hesitou. — Você se lembra do que eu disse a McGonagall sobre a noite em que Dumbledore morreu?

— Sim — Severus respondeu. — Eu não tinha ouvido falar muito sobre isso antes. Uma bela história.

— Bem, eu disse a ela que Dumbledore me levou com ele para encontrar uma Horcrux, e que era o medalhão. Aquele que você viu tentando me estrangular no lago.

— Sim.

— E isso era verdade, mas não toda a verdade. Eu não contei tudo a ela porque é meio... perturbador. Ainda... meio que... me incomoda. — Harry olhou para suas mãos e respirou fundo. — Havia muitas camadas de proteção no esconderijo da Horcrux. Provavelmente isso não o surpreende. Mas estava no fundo de uma caverna no sopé de um penhasco íngreme. Em algum lugar da costa, não sei onde. Havia uma porta na pedra que era preciso abrir com sangue e, dentro dela, um enorme lago negro. Achei que talvez teríamos que nadar, que talvez o medalhão estivesse no fundo, mas Dumbledore disse que não. Ele disse que estava no centro, e ele meio que tateou até encontrar um barco. Era totalmente invisível, mas Dumbledore ainda sabia. Era incrível o quanto ele conseguia sentir apenas pelo toque. Ou o que quer que ele estivesse fazendo. Mas aquele barco era a única maneira de atravessar a água até onde a Horcrux estava escondida. — Severus observou em perfeito silêncio enquanto Harry pressionava o gatilho antes de continuar. — Então... havia esses... corpos. Na água. Dumbledore disse que eles eram Inferi. Mas... centenas. Talvez milhares. Trouxas e outras pessoas que Voldemort matou. Dumbledore me disse que enquanto não tocássemos na água, eles não acordariam.

Dessa vez, o silêncio foi longo o suficiente para que Severus não conseguisse conter sua incredulidade. Naquela época, ele acreditava que Albus não arriscaria a morte prematura de Harry. Obviamente ele estava enganado. — Ele levou você para um lago subterrâneo cheio de Inferi? — ele perguntou, sua voz artificialmente uniforme.

— Sim. Mas tudo ficou bem por um tempo. Chegamos ao meio e havia uma pequena ilha e uma bacia cheia de algum tipo de poção. O medalhão estava lá dentro, e Dumbledore me disse que a única maneira de chegar até ele era bebendo.

— Você disse... ele estava doente — Severus disse lentamente, uma sensação de horror crescendo dentro dele. — Isso é o que você me disse através das pulseiras naquela noite. Que você... teve que fazê-lo beber alguma coisa e isso o deixou doente. — E ele não respondeu. Ele deixou Harry em silêncio e, mais tarde naquela noite, deixou Harry no terreno.

— Sim — disse Harry. — Ele me fez prometer que obedeceria às suas ordens antes de ir com ele, e eu fiz. Fiz tudo o que ele me disse. Demorou muito, mas consegui que ele bebesse tudo. Toda a bacia. E isso o fez - mais ou menos - gritar e... implorar. Como se ele pudesse ver outra pessoa lá. Como se houvesse alguém o machucando ou machucando alguém que ele amava. Além de mim. — Ele estremeceu e esfregou os braços. — Perto do fim, ele ficou com sede, apenas – com uma sede incrível – ele estava gritando por água. Mas a única água que ficaria no copo era a do lago. Ele me disse para não tocá-la, mas entrei em pânico. Toquei a água. Peguei-a com o copo para ele. Então ele parou de gritar. Nós escapamos por pouco. — Harry apertou o gatilho novamente e segurou-o. — E esqueci o que você me ensinou sobre Inferi também. Fogo. Eu esqueci. Mas ele... ele se lembrou. Mesmo que ele estivesse tão fraco. Ele os derrotou e... nós pegamos o medalhão.

— Ele fez você... — Severus começou, quase sem palavras com nova indignação. — Ele tirou você daquele castelo naquela noite para usá-lo para...

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