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FLASHBACK ON

O tic-tac do relógio, ecoava na cabeça de Maraisa, enquanto silenciosamente, ela chorava. Não pregou os olhos por um minuto sequer, acompanhou a noite passar voando, como se de repente, alguém tivesse acelerado o tempo. Continuava com o braço em volta da cintura do filho, se recusava a se mover um centímetro que fosse. Se concentrava para não esmaga-lo em seus braços e enche-los de beijos, já que se fizesse aquilo, ele muito provavelmente acordaria, e as lágrimas silenciosas dela, com certeza virariam um choro compulsivo.

O que ela não sabia, era que o filho também não conseguiu dormir, assim como a mãe, ele passou a noite toda acordado, de olhos fechados, a ouvindo fungar. Queria abrir os olhos, abraça-la e prometer que ficaria tudo bem, como ela costumava fazer com ele, quando ele tinha pesadelos. Mas sabia que se fizesse aquilo, iria acabar chorando junto com ela, e ele não podia chorar, tinha que ser forte e passar confiança para ela. Era isso que ele e o pai tinham combinado.

Ele estava com tanto medo. Medo de ficar sem a mãe. Medo de que alguma ladra de órgãos, matasse sua mãe na prisão. Medo de perder sua melhor amiga. Medo de ficar órfão. Medo de que Regina, nunca mais voltasse para casa. Se ao menos ele pudesse ir com ela, para defende-la, protege-la de tudo e de todos, com certeza se sentira mais aliviado. Mas ele não podia, ninguém podia. Tudo que lhe restava era rezar, rezar e pedir a Deus, que protegesse sua mãe, que não deixasse que nada de ruim, acontecesse com ela.

Rezar, foi isso que Leo, fez praticamente a noite toda. Pediu que Deus, mandasse um dos seus anjos, para cuidar de Maraisa. Sabia que a mãe sofreria muito longe dele e do pai, então pediu também para que o anjo fosse bom de piadas e arrancasse sorrisos da mãe, quando ela mais precisasse. E pediu que ele fosse paciente e ouvisse tudo com atenção e sem reclamar, quando a mãe precisasse desabafar. Estava pedindo para o anjo trazer Maraisa, sã e salva para casa, quando o despertador tocou e ele imediatamente abriu os olhos, encontrando com o olhar terno de Maraisa, bem perto de si.

– Bom dia! - Ela o desejou sorrindo, como sempre fazia.

– Bom dia! - Sussurrou quase sem voz, e em um impulso, prendeu os braços no pescoço da mãe e a abraçou apertado, o que serviu para fazer a mulher voltar a chorar, dessa vez sem conseguir chorar em silêncio. - Vai dar tudo certo, mãe. - Os olhos dele estavam cheios de lágrimas, mas sua voz estava firme e determinada.

– Eu sei. Mas eu vou morrer de saudades. - Reclamou chorosa.

– Eu também vou. Afinal, quem vai roubar o controle da TV para assistir programas de senhorinhas agora? - Debochou, a arrancando uma risada.

– Então eu pareço uma senhorinha? - Se fez de indignada ao encarar o filho que ria.

– Não. Você parece uma mãe gostosa, que faz o filho ter que estapear a cabeça dos amigos, por eles babarem nela na maior cara dura. - Regina riu alto.

– Sou gostosa é? - Sabia que aquilo era no mínimo infantil, mas levava seu ego as alturas.

– Você é minha mãe, eu não posso achar isso de você. - A cara de censura que ele fez, arrancou outra risada de Maraisa. - Mas sempre que tem votação da mãe mais gostosa, é você quem ganha. - O garoto nunca pensou em dizer aquilo para mãe, já que era um assunto que o deixava encabulado, mas como ele queria vê-la um pouco menos triste, resolveu contar.

– Ok, eu não sei se eu quero saber sobre essa história de votação. - Maraisa, não gostava de pensar que o filho já falava sobre mulheres. - Mas é bom saber que sou uma senhorinha gostosa. - Leo, sorriu e levou sua mão até a testa da mãe, colocando uma mecha de seus cabelos para trás.

– Você é uma senhorinha linda, cheirosa, que faz a melhor lasanha do mundo e o melhor cafuné do mundo. A sua voz, eu amo ouvir ela antes de dormir e eu adoro os seus beijos de boa noite. Quando você fica brava e põe as mãos na cintura, eu sei que vou levar bronca, mas eu acho tão bonitinho. E quando você me chama pelo nome completo? Ninguém me chama de Leo Pereira, como você. - Maraisa, já não enxergava mais direito, as lágrimas nublavam sua visão.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora