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Enquanto todas as detentas e até alguns policiais mal-humorados, riam de chorar pelo filme velho da sessão cinema na prisão, (que pelo jeito sempre acontecia nas noites de domingo) Maraisa tinha um semblante sério. Primeiro, porque ela não tinha fones, ou seja, não podia ouvir as baboseiras que falavam filme. Segundo, mesmo que tivesse fones, tinha certeza que não gostaria daquele filme, simplesmente pelo fato de não gostar do ator, que matou-se enforcado no ano anterior.

Se tinha uma coisa que a morena não aceitava de jeito nenhum, essa coisa chamava-se suicídio. Tentou por muitos anos entender sobre aquilo, buscou ajuda em psicólogos, livros, documentários, ou qualquer tipo de coisa relacionada ao assunto, mas nunca conseguiu entender. Talvez fosse mais fácil de tentar entender e perdoar, se quando ela tivesse sete anos, não tivesse aberto a porta do quarto da mãe e encontrado a mulher já sem vida, suspensa por uma corda amarrada em seu pescoço.

Sempre que lembrava daquilo, lágrimas traiçoeiras escorriam pelo rosto da morena, e não foi diferente dessa vez. Não se preocupou em tira-las do seu rosto, afinal, ela estava sentada sozinha na última fileira do "cinema", as outras detentas estavam todas amontoadas nas primeiras filas, além de estarem com os fones nos ouvidos, ou seja, ninguém a veria chorando, pelo menos era isso que ela achava. Porém, para seu azar, ou sorte, esse ninguém não incluía Marilia, que depois de muito insistir, foi liberada pelo pessoal da enfermaria, para poder assistir o filme.

A loira estava parada na porta de entrada, encostada na mesma, observando atentamente a amiga, que tinha a mesma postura perfeita de sempre. Pernas cruzadas, mãos descansando sobre os joelhos, cara fechada e lágrimas, muitas lagrimas escorriam livremente pelo seu rosto. A loira cogitou ir até Maraisa, abraça-la e dizer que estava tudo bem, que tudo ficaria bem, como costuma fazer sempre que a encontrava daquele jeito, mas sabia que muito provavelmente, a morena se afastaria.

Suspirou frustrada e sem ter certeza do como agir e do que falar para acalmar a amiga, Marilia se aproximou. Sentou-se ao lado de Maraisa, que fingiu não a ver. Suspirou e prendeu seus olhos na morena orgulhosa, que continuava com os olhos fixos no telão, fingindo que não tinha ninguém ao seu lado.

– Você quer um abraço? - Questionou a primeira coisa que lhe veio a cabeça.

Sim, Maraisa queria um abraço, queria muito um abraço. Aceitaria um abraço de qualquer um, de qualquer desconhecido. Queria ser reconfortada, queria ouvir que estava tudo bem, que tudo daria certo, que ela não teve nada a ver com a morte da mãe, ou queria simplesmente um abraço, sem palavras, queria só, se sentir segura. Mas mesmo querendo tal coisa, ela balançou a cabeça fracamente, negando a pergunta de Marilia.

– Pela risada das outras, esse filme não parece nada triste para você estar chorando assim desse jeito. - A loira murmurou, antes de sua mão criar vida própria e ir até o rosto da amiga, se livrando das lagrimas que Maraisa deixava cair. Marilia quase sorriu ao ver que a morena não afastou sua mão de lá. - Sinto muito, Mara! - Não sabia quantas vezes já tinha dito aquela frase, mas repetiria sem problema nenhum quantas vezes achasse necessário.

– Pare de ser convencida, nem sempre a culpa é sua. - A morena resmungou com a voz embargada, o que arrancou um meio sorriso da loira, que continuava acariciando o rosto da amiga, que ainda chorava.

– Então me diz de quem é a culpa, prometo fazer essa pessoa sofrer lentamente. - Disse o que sempre dizia, quando a encontrava chorando daquele jeito. Maraisa sorriu, ao lembrar-se daquilo.

– Eu só... - Por um momento pensou em dizer o que lhe atormentava. Já tinha falado com Marilia sobre aquele assunto incontáveis vezes, mas acabou balançando a cabeça em sinal de negativo, reprovando a ideia de se abrir com aquela loira traidora. - Só queria ir para casa. - Sussurrou por fim. E não deixou de falar a verdade.

ESCAPE | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora